FOLHA.COM 21/10/2014 - 15h41
Século 21 'choca ovos' do autoritarismo, diz cientista político
da Livraria da Folha
O cientista político Bolívar Lamounier defende que a democracia liberal, ou representativa, existe apenas no liberalismo. O antiliberalismo, segundo ele, designa ideologias, formas de organização e de ação política que são características do marxismo, do fascismo e das suas respectivas derivações. Quando se fala em esgotamento do regime representativo, o Ocidente "choca ovos de serpente".
"Exceção feita a algumas vertentes do anarquismo", escreve Lamounier em "Tribunos, Profetas e Sacerdotes", "todas as ideologias antiliberais são epistemologicamente e moralmente holistas (o todo é mais real e legitimo que as partes –indivíduos e grupos– que o compõem); politicamente autoritárias (divinizam o Estado, o líder e o partido); historicistas (julgam-se detentoras de um conhecimento válido do futuro); anti-institucionalistas (as instituições e normas políticas da democracia têm uma relevância apenas tática); e radicalmente anti-individualistas".
Apesar de haver diferenças, Lamounier iguala marxismo e fascismo no que se refere à contraposição da concepção de liberdade e democracia dentro do liberalismo. "Um pensamento antiliberal articulado aparece nas últimas décadas do século 19, com o positivismo, e se diversifica após a Primeira Guerra, quando se esboça a grande bifurcação entre direita e esquerda", diz.
No Brasil, o antiliberalismo encontra suas raízes no catolicismo e no absolutismo ibérico, que deixou marcas no modo como exploramos a terra, nas estruturas patrimonialistas deixadas pelos portugueses e na influência do pensamento de Augusto Comte nas escolas militares e no movimento republicano, elementos daquilo que o autor chama de protofascismo.
Livro apresenta a dicotomia liberalismo x antiliberalismo
"Não só no Brasil, mas em toda a América Latina, o antiliberalismo parece ter se robustecido primeiro à direita, com os aportes intelectuais do protofascismo, e depois à esquerda, com o aumento do prestigio do marxismo e a fundação de partidos comunistas após a Revolução Russa de 1917".
"De preocupações autoritárias nem os Estados Unidos estão livres, como evidenciam certos efeitos colaterais potencialmente sérios do aumento da vigilância interna desde o 11 de Setembro no que toca às liberdades civis e à privacidade dos cidadãos".
Para analisar os eventos do século passado, o autor propõe a investigação de três funções que os pensadores costumam ocupar na esfera pública –o tribuno, o profeta e o sacerdote que dão título ao livro– e, no coletivo, os pensadores individuais, as intelligentsias e as comunidades academicamente centradas.
Primeiro diretor-presidente do Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo (Idesp) e membro da Academia Paulista de Letras, Lamounier também assina, entre outros títulos, "Depois da Transição" e "A Classe Média Brasileira".
*
TRIBUNOS, PROFETAS E SACERDOTES
AUTOR Bolívar Lamounier
EDITORA Companhia das Letras
Século 21 'choca ovos' do autoritarismo, diz cientista político
da Livraria da Folha
O cientista político Bolívar Lamounier defende que a democracia liberal, ou representativa, existe apenas no liberalismo. O antiliberalismo, segundo ele, designa ideologias, formas de organização e de ação política que são características do marxismo, do fascismo e das suas respectivas derivações. Quando se fala em esgotamento do regime representativo, o Ocidente "choca ovos de serpente".
"Exceção feita a algumas vertentes do anarquismo", escreve Lamounier em "Tribunos, Profetas e Sacerdotes", "todas as ideologias antiliberais são epistemologicamente e moralmente holistas (o todo é mais real e legitimo que as partes –indivíduos e grupos– que o compõem); politicamente autoritárias (divinizam o Estado, o líder e o partido); historicistas (julgam-se detentoras de um conhecimento válido do futuro); anti-institucionalistas (as instituições e normas políticas da democracia têm uma relevância apenas tática); e radicalmente anti-individualistas".
Apesar de haver diferenças, Lamounier iguala marxismo e fascismo no que se refere à contraposição da concepção de liberdade e democracia dentro do liberalismo. "Um pensamento antiliberal articulado aparece nas últimas décadas do século 19, com o positivismo, e se diversifica após a Primeira Guerra, quando se esboça a grande bifurcação entre direita e esquerda", diz.
No Brasil, o antiliberalismo encontra suas raízes no catolicismo e no absolutismo ibérico, que deixou marcas no modo como exploramos a terra, nas estruturas patrimonialistas deixadas pelos portugueses e na influência do pensamento de Augusto Comte nas escolas militares e no movimento republicano, elementos daquilo que o autor chama de protofascismo.
Livro apresenta a dicotomia liberalismo x antiliberalismo
"Não só no Brasil, mas em toda a América Latina, o antiliberalismo parece ter se robustecido primeiro à direita, com os aportes intelectuais do protofascismo, e depois à esquerda, com o aumento do prestigio do marxismo e a fundação de partidos comunistas após a Revolução Russa de 1917".
"De preocupações autoritárias nem os Estados Unidos estão livres, como evidenciam certos efeitos colaterais potencialmente sérios do aumento da vigilância interna desde o 11 de Setembro no que toca às liberdades civis e à privacidade dos cidadãos".
Para analisar os eventos do século passado, o autor propõe a investigação de três funções que os pensadores costumam ocupar na esfera pública –o tribuno, o profeta e o sacerdote que dão título ao livro– e, no coletivo, os pensadores individuais, as intelligentsias e as comunidades academicamente centradas.
Primeiro diretor-presidente do Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos de São Paulo (Idesp) e membro da Academia Paulista de Letras, Lamounier também assina, entre outros títulos, "Depois da Transição" e "A Classe Média Brasileira".
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TRIBUNOS, PROFETAS E SACERDOTES
AUTOR Bolívar Lamounier
EDITORA Companhia das Letras
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