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segunda-feira, 22 de abril de 2013

NAZISMO NO RS


ZERO HORA. 22 de abril de 2013 | N° 17410

INTOLERÂNCIA NA WEB

RS é o segundo que mais baixa material neonazista. 
Estudo de antropóloga revela que o Estado só perde para SC em acesso a conteúdos discriminatórios


Um estudo estima que o sul do Brasil abrigue mais de 100 mil simpatizantes na internet de uma ideologia que condenou à morte milhões de pessoas, precipitou uma guerra mundial e virou sinônimo de intolerância em todo o planeta. Apenas no Rio Grande do Sul, onde estaria concentrado o segundo maior polo de neonazistas do Brasil, haveria 42 mil seguidores das ideias de Adolf Hitler, conforme a pesquisa que monitorou o crescimento dessas facções de extrema-direita na web.

Um trabalho de monitoramento da internet realizado pela pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e antropóloga Adriana Dias detectou um crescimento de quase 170% no número de páginas virtuais com conteúdo neonazista em português, espanhol ou inglês entre 2002 e 2009 – de 7,6 mil para 20,5 mil. Além disso, fez uma análise sobre a origem de internautas que baixavam um número expressivo (superior a cem) de materiais de cunho discriminatório.

O cruzamento de informações permitiu à especialista estimar o número de simpatizantes do ideário extremista no Brasil. Os Estados do Sul lideram o ranking da intolerância, cujo topo é ocupado por Santa Catarina e seguido por Rio Grande do Sul e Paraná.

Características culturais e históricas podem ter relação com a a maior prevalência dos grupos de ódio nessa região, de forte imigração europeia. Os seguidores da cartilha neonazista costumam defender uma suposta “superioridade” da raça branca sobre as demais e perseguição a negros, judeus e homossexuais.

Os dados compilados pela pesquisadora indicam ainda que há comunidades de orientação neonazistas em 91% das 250 redes sociais monitoradas pela antropóloga, e que o número de blogs sobre o assunto cresceu mais de 550% no período.

Além de refletirem o crescimento da própria internet nos últimos anos, esses números sugerem que a facilidade para troca de informações de maneira relativamente anônima atrai fanáticos – e fornecem uma pista sobre o perfil de quem propaga a violência no mundo virtual.

– Geralmente, eles atendem ao proselitismo na juventude. O jovem em busca de uma causa acaba recebido pelo grupo, que o convence de que o negro ou o judeu tomou seu espaço no mercado de trabalho, na universidade, etc. – explica Adriana Dias, em entrevista à Agência Brasil.

Jovens predominam na busca por sites

O presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke, confirma que o perfil dos neonazistas no Estado hoje é formado principalmente por jovens, muitas vezes com nível socioeconômico razoável ou elevado:

– Um problema sério é que a grande maioria dessas pessoas que entram nos sites são jovens. Isso é uma falha nossa como sociedade. Não estamos dando aos jovens motivações, valores superiores. É uma falha da escola, da igreja, das famílias, dos partidos políticos que não estão dando perspectivas a eles.

MARCELO GONZATTO



Grupo extremista deverá ir a júri popular em junho



As ações neonazistas dentro e fora da internet vêm enfrentando uma coalisão de forças formada pelas polícias militar e civil, Ministério Público e ativistas de direitos humanos no Rio Grande do Sul.

Em junho, o Estado deverá testemunhar um dos mais importantes resultados da frente antiviolência: o julgamento de quatro réus neonazistas em júri popular por formação de quadrilha, discriminação racial e tentativa de homicídio.

Três homens e uma mulher acusados de participar do ataque a três estudantes judeus na Capital, em 2005, deverão ir à corte no dia 13 de junho – mas a data ainda pode sofrer alteração. Segundo o delegado da 1ª Delegacia da Polícia Civil, Paulo César Jardim, o caso é emblemático porque seria o primeiro em que um grupo neonazista iria a júri popular no Estado – e talvez no Brasil. Segundo ele, há procura de jornalistas europeus para saber detalhes do inquérito. O Tribunal de Justiça do Estado não tem registro de caso semelhante.

Ao todo, 14 pessoas chegaram a ser pronunciadas como rés pela Justiça, mas uma dezena delas recorreu e por isso não deverá ir a julgamento agora. Todos foram vinculados ao movimento neonazista e suspeitos de participar das agressões a soco e facadas contra os estudantes judeus.

Jair Krischke acredita que o julgamento pode servir de exemplo para desestimular novas adesões à filosofia nazista, mas lamenta a demora para o desfecho do caso:

– O crime ocorreu em 2005, e só agora vai a júri.


PAULO CÉSAR JARDIM, Delegado da Polícia Civil - ‘‘Tenho recebido ligações da imprensa da Bélgica, da França, da Alemanha, da Inglaterra, do mundo inteiro. Estão muito interessados nesse julgamento, querem saber como foi o inquérito."

Casos recentes envolvendo ataques neonazistas:

2003 - Em julho, um estudante punk então com 24 anos relata ter sofrido agressões de neonazistas armados com bastões e soqueiras quando estava em um bar localizado nas imediações da esquina das vias Barros Cassal e Independência, na Capital.

2005 - Em Caxias do Sul, neonazistas são apontados como suspeitos em pelo menos dois atos violentos – o assassinato de um homossexual em um parque, em agosto, e agressões contra um jovem punk, em outubro. Três estudantes judeus são agredidos a socos e facadas por membros de facções de inspiração nazista no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre.

2010 - Livros, CDs, facas e uma soqueira estão entre os materiais apreendidos em Porto Alegre. Chamou a atenção dos policiais um vídeo em que um grupo neonazista faz ameaças ao senador Paulo Paim (PT), que é negro.

2011 - Pichação com um símbolo nazista – a suástica – é encontrada nos ladrilhos de uma das escadarias do Viaduto Otávio Rocha, na Capital, em junho. Um grupo que se autodefine como “anarcopunk” (punks e anarquistas) e outro de skinheads (neonazistas) se enfrenta em uma briga na Capital em outubro. Duas pessoas são feridas a faca.

2012 - Com soqueiras, bastão e facas em punho, um suposto grupo de neonazistas é detido pela BM quando estaria prestes a atacar jovens em uma parada de ônibus de Caxias do Sul, em janeiro. Os alvos seriam negros e punks.

2013 - Em março, um negro é esfaqueado no abdômen, quando voltava de uma festa, na Capital. A suspeita é de que o ato tenha sido provocado por neonazistas.

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