Revelamos aqui as causas e efeitos da insegurança pública e jurídica no Brasil, propondo uma ampla mobilização na defesa da liberdade, democracia, federalismo, moralidade, probidade, civismo, cidadania e supremacia do interesse público, exigindo uma Constituição enxuta; Leis rigorosas; Segurança jurídica e judiciária; Justiça coativa; Reforma política, Zelo do erário; Execução penal digna; Poderes harmônicos e comprometidos; e Sistema de Justiça Criminal eficiente na preservação da Ordem Pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

sábado, 21 de março de 2015

HÁ GOLPISTAS DOS DOIS LADOS



ZERO HORA 22 de março de 2015 | N° 18109


ENTREVISTA

 

Henrique Capriles é candidato natural à presidência na Venezuela. Leia trechos da entrevista a Zero Hora.


Passados dois anos da eleição de 2013, o senhor acha que perdeu mesmo para Maduro?

Não. Na ocasião, pedi auditoria. Quando o governo e o Conselho Nacional Eleitoral, que são um só, divulgaram que a diferença era de 200 mil votos, nós, somando todas as mesas, sabíamos de irregularidades, de mortos que haviam votado, pessoas que votaram mais de uma vez. Dos centros de votação, retiraram fiscais. E o número dessas irregularidades era maior que a diferença anunciada. Dizer que Maduro ganhou a eleição de 2013 é falso. Quando há mortos que votam, a mesa onde isso ocorreu deve ser anulada. Haveria nova eleição, total ou em parte. Maduro não ganhou e sabe disso. Preside porque controla a institucionalidade.

O governo costuma se confundir com a ideia de “pátria”. Que leitura o senhor faz disso?

Na Venezuela, é assim. O público é como se fosse deles, não de todos.

Como o senhor define o governo de Nicolás Maduro?

É um governo corrupto em todos os sentidos, impopular, que se sustenta pelo controle da cúpula dos poderes. Mas caminha sobre piso de vidro, que a qualquer momento vai quebrar. Não dá para se dizer que haja democracia plena. É, muitas vezes, um governo fascista, um monstro. A melhor maneira de definir o governo é a de um monstro, que é algo negativo. A visão da Venezuela, hoje, é só negativa. Temos a inflação mais alta do mundo, a escassez mais alta, uma das maiores violências, a pobreza voltou ao ponto de quando Chávez assumiu a presidência. A pobreza na Venezuela cresce. Não se acha algo positivo no governo.

A opressão é maior em relação aos governos de Chávez?

Cada vez pior. O governo tem como último recurso a repressão. Perdeu a popularidade, e Nicolás não tem a liderança de Chávez. Resta-lhes oprimir para sustentar o poder. Quanto dura isso? Não sei. O piso de vidro sobre o qual o governo caminha não é grosso, é fino.

Em 2016, pode haver o referendo revogatório. Maduro foi eleito sob a comoção da morte de Chávez, e a situação piorou.

Antes do referendo, temos eleições parlamentares, para o Congresso. Caso a oposição ganhe e a vitória seja reconhecida, a eleição provocará mudança, abrirá caminho para o referendo revogatório.

Se o referendo fosse hoje, Maduro teria mandato revogado?

Apesar de em tese o referendo em meio ao mandato ser democrático, não será fácil chegar a isso. O governo imporá obstáculos no recolhimento das assinaturas e na materialização da votação. Mas suponhamos que ocorra. Maduro não ganharia. Perderia bem perdido, com resultado folgado.

São necessários 20% dos eleitores. Que obstáculos haveria?

O governo domina o órgão eleitoral e determinaria que o eleitor pusesse impressões digitais, tirasse foto, o intimidaria. O recurso que resta ao governo é impor medo. Usa isso diariamente. Com medo, as pessoas se paralisam.

Como a eleição legislativa muda um país presidencialista?

O Congresso define quem ocupa o Conselho Eleitoral, o poder eleitoral. Também aprova o orçamento, autoriza créditos, pode investigar, define procurador-geral. Tem o poder de equilibrar.

Foi pensando nessas eleições que o governo aprovou a Lei Habilitante, para governar por decretos em temas de segurança?

A Lei Habilitante anti-imperialista é atitude ridícula de Maduro. As sanções de Obama não são contra a Venezuela ou os venezuelanos. É problema com autoridades e testas-de-ferro, que têm contas e propriedades nos EUA. Não está em questão invasão ou bloqueio econômico à Venezuela.

Mas há um fato: o governo pode governar por decretos.

Claro. O governo pediu essa lei para nos distrair dos problemas reais. Talvez vocês no Brasil não tenham ideia do que é essa escassez de artigos de primeira necessidade. Mas, sim, a lei pode ser usada para perseguir, reprimir, golpear a eleição parlamentar, que está perdida para eles, com base no amedrontamento e na repressão.

Há mais antiamericanismo?

Se perguntares aos venezuelanos sobre os EUA, vão perguntar por quê. Nas ruas, ninguém fala em “império”, em Obama. Falam em escassez, em falta de água, desemprego, falta de dinheiro. E há discurso duplo do governo. Se são tão anti-imperialistas, por que ainda vendem petróleo para os EUA? Por que compram arroz para o pabellón criollo, que é como a feijoada no Brasil? O arroz do pabellón criollo é “gringo”. Chávez tinha esse discurso para ser herdeiro do Fidel Castro. Maduro talvez queira apoio. Mas se equivoca. O venezuelano quer que nosso país tenha boas relações com os demais países, para atrair investimentos, recursos. O discurso de Maduro é para os 20% que ainda o apoiam.

Esse discurso antiamericano e o discurso que fala em tentativas de golpe seriam pretexto para evitar a eleição legislativa ou para um autogolpe?

Estamos em alerta para vermos se querem usar a Lei Habilitante a fim de atingir a eleição. Não descarto. A eleição parlamentar decide o poder na Venezuela. Não a presidência, mas o poder.

Voltaria a democracia plena?


Pode não devolver a democracia, mas equilibra. Não de um dia para o outro, mas começa a equilibrar a situação na Venezuela.

O petróleo representa 96% das divisas venezuelanas, e há desabastecimento. O que fazer?

Diversificar. O petróleo pode ser a alavanca para o desenvolvimento da Venezuela, é estratégico. Mas não podemos viver exclusivamente dele. A renda do petróleo é insuficiente. Só em 2014, passamos a ter mais 2 milhões de pobres. Mais da metade do país está em situação de pobreza. Precisamos desenvolver outras áreas da economia. A Venezuela poderia produzir todos os alimentos. Hoje, 70% dos alimentos são importados. Um país não pode importar 70% da comida, isso é inviável.

Essa falta de alimentos atinge a faixa da população que costumava apoiar o chavismo?

Somos mais de 15 milhões de pobres, em uma população de 30 milhões. Por isso, o presidente tem hoje só 20% de popularidade.

Sua candidatura na próxima eleição presidencial é natural?

Não penso nisso agora.

Quem acompanhou a eleição de 2013 ficou com a sensação de que o senhor chegaria com potencial para a próxima.

Lula chegou à presidência na quarta chance, e veja o projeto que construiu e a força que conseguiu. Sou democrata e quero a união do país. E, para mudar o país, deve-se incluir os mais pobres. A responsabilidade é humana.

O governo diz que há golpistas na oposição. É verdade?

Tanto no governo quanto na oposição há setores extremistas. Há golpistas dos dois lados. São a mesma coisa. Assim como haverá extremistas que querem violência e um golpe, há no governo. O que me tranquiliza é que esses setores são minoritários. A mudança na Venezuela será pacífica, democrática, constitucional e eleitoral.

Os extremistas dos dois lados se alimentam mutuamente?

Sim. Aos extremistas do governo, lhes interessa que se escute a voz dos extremistas da oposição. O governo quer que apareçam, que tenham espaço na imprensa.

E as prisões de opositores?

Prisões políticas não se justificam. Na democracia, não pode haver presos políticos. Quando falamos de presos políticos, falamos de totalitarismo, de ditadura.

O governo pode usar isso para evitar as eleições legislativas?


O governo usa os presos políticos para meter medo e para desmoralizar a oposição. Mostra presos políticos como troféu, indicando não haver saída eleitoral, instando a oposição a deixar o rumo democrático. Temos que resistir e avançar, mas nunca saindo do caminho democrático, de vencer eleitoralmente. Querem etiquetar a oposição de não democrática.

Para justificar um autogolpe?

Quem sabe? Desse governo, creio em qualquer coisa. Sabem que perderam popularidade, e não há sinais de recuperação. Restam os atalhos, a arbitrariedade. São capazes de tudo para manter o poder. Não significa que vão manter.

Com petróleo desvalorizado, países vizinhos antes ajudados tendem a se distanciar?

Sim. Mais que isso. Os países como o Brasil sabem do pouco apoio popular que Maduro tem hoje.

Uma solução democrática no país terá apoio internacional?


Creio nisso e faço um apelo. Já falei com dois chanceleres do Brasil, Luiz Figueiredo e Mauro Vieira (atual). Peço que insistam em que a saída na Venezuela seja constitucional, democrática e eleitoral. Que haja condições para isso. Não que o Brasil se meta nos assuntos da Venezuela, eu não permitiria e não me meteria nos do Brasil. Mas o Brasil tem de insistir no jogo democrático. Em 2013, poderia ter sido mais ativo em vez de silenciar.

O Brasil tem sido omisso?

Estou insatisfeito. O Brasil guarda silêncio em muitas coisas. A Venezuela não só faz parte da América do Sul, é vizinha e irmã. Discordo do silêncio brasileiro. O Brasil tem responsabilidade além das relações entre dois presidentes, como havia entre Lula e Chávez. Tem um peso, na região, que precisa se fazer sentir pela democracia. Tem seus problemas, mas não pode ser indiferente frente a um país vizinho em conflito. A indiferença tem custo interno no próprio Brasil. Os brasileiros gostariam que o Brasil fosse uma ponte para a Venezuela resolver seus problemas.

O senhor pediria isso agora?

Já falei aos chanceleres Figueiredo e Mauro. Volto a pedir, sim. Sempre pedi à presidente Dilma que ajude no diálogo da Venezuela. O problema da Venezuela não pode ser indiferente ao Brasil, porque pode repercutir em toda a região, incluindo o Brasil. O Brasil cuida mais de estar bem com o governo venezuelano do que com o povo venezuelano.

No Brasil, há protestos. Alguns pedem impeachment.

Digo, com o maior respeito e consideração, que a situação da Venezuela pode afetar o Brasil se mal conduzida. É uma bola de neve. Nossos países têm de buscar saídas constitucionais, eleitorais, pacíficas, democráticas. Nossa região já teve muito abuso de poder e corrupção. Foi afetada por golpes e vive uma aprendizagem. Há leis, e elas devem ser respeitadas. Ninguém pode se afastar da Constituição. Maduro não se compara a Dilma. Maduro está no poder com eleição questionada, em que o Brasil podia ter ajudado a resolver, mas nada fez. Dilma não foi reeleita com eleição questionada. Não quero que Maduro seja derrubado, quero a mudança incluindo Maduro. Nunca com golpes e atalhos.

segunda-feira, 9 de março de 2015

BRAZUELA?



ZERO HORA 09 de março de 2015 | N° 18096


LUIZ PEREIRA LIMA*



Se “política” pode significar cortesia e civilidade, também pode referir- se a astúcia. Tamanho elastério no entendimento da palavra é triste, pois justamente o mais pejorativo cabe no Brasil atual. Não há registro, de tanta barbárie realizada contra o Estado como os brasileiros contemporâneos estão a assistir.

O mensalão, se fosse uma entidade viva, deveria ter vergonha de existir, tamanha sua pequenez quando comparado ao petrolão. E este, por sua vez, ficará insignificante quando forem abertas as entranhas dos contratos bilionários de disponibilização de dinheiro público para países totalitários. A marolinha transformou-se num tsunami, atingindo a maioria honesta e trabalhadora dos brasileiros. O projeto de poder único e exclusivo do PT está explicitado. Não há mais dissimulação. Como toda esquerda totalitária, foi através da democracia que o poder foi assumido, ou seja, esta foi utilizada como meio para o desiderato final: a permanência definitiva no poder. Foi assim na Venezuela. Sem pejo e há pouco, frente às câmeras de TV, bradou o chefe máximo: “Vocês não sabem o que somos capazes de fazer para ganhar uma eleição”. Ao que a pupila complementou: “Faremos o diabo para ganhá-la “. As assertivas tiveram êxito.

O PT instalou uma nova burguesia, sem base no trabalho e que é partido-dependente. Não é que não deva sair do poder, é simplesmente não poder sair dele, pois dele tem sua alimentação! Assim como o feto vive do oxigênio materno. Leia-se Estado. O Partido metastatizou todos os escaninhos das repartições federais, criou milhares de novos cargos ditos comissionados, 39 ministérios e outras secretarias. Tudo isso para albergar novos dependentes. Agora a mãe está esgotada; falta-lhe sangue para alimentar os milhares de filhos que teve de adotar. Será necessário socorrer-se dos verdadeiros trabalhadores, justamente aqueles que não votaram no PT, e ainda daqueles que votaram e foram traídos por promessas não cumpridas. Não há saída para o Partido. Ou o PT transforma- nos em uma Brazuela, ou as forças que verdadeiramente produzem e lhe concedem oxigênio passam a entender que a isquemia é o melhor tratamento para o Partido...

*Médico e professor

REPRESSÃO COM ARMAS LETAIS LEVA MULHERES DA VENEZUELA ÀS RUAS



ZERO HORA 09 de março de 2015 | N° 18096

 

VENEZUELA. Repressão leva mulheres às ruas


MANIFESTAÇÃO CRITICA USO de armas letais pelas forças de segurança em protestos no paísUm grupo de mulheres organizou uma passeata ontem, em Caracas, pedindo a revogação da medida adotada pelo governo venezuelano que autoriza uso de armas de fogo contra manifestantes. A marcha, no Dia Internacional da Mulher, foi liderada pela deputada cassada Maria Corina Machado, uma das líderes da oposição ao governo.

– A Constituição não é nenhum “detalhe”. Exigimos a anulação imediata da (resolução) 8.610 – disse Corina em referência à ordem assinada pelo ministro da Defesa, Vladimir Padrino López.

Para a deputada cassada, as forças armadas venezuelanas não têm preparo nem poder para atuar em situações de segurança civil. O texto da resolução determina que “diante de uma situação de risco mortal, o funcionário militar aplicará o uso da força, com arma de fogo ou outra arma potencialmente mortal” na situação de não existirem outras alternativas.

Um adolescente de 14 anos foi morto no dia 24 de fevereiro por um tiro deflagrado por um policial durante protesto na cidade de San Cristóbal, oeste da Venezuela. O autor do disparo foi o policial Javier Mora Ortiz, que foi preso. O governo trata o caso como um “ato individual”, que não representa a “nova polícia humanista”, afirmou a ministra do Interior, Justiça e Paz, Carmen Meléndez.

A deputada cassada também fez críticas à delegação da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) que visitou o país na semana passada por não ter se reunido com supostas vítimas de repressão e jornalistas censurados pelo governo.

– Quando a Unasul diz que compartilhará comida, reconhece que há uma crise humanitária na Venezuela – afirmou Corina.

domingo, 8 de março de 2015

GRUPO PEDE INTERVENÇÃO MILITAR

CORREIO DO POVO 06/03/2015 20:30

Grupo pede por intervenção militar no Centro de Porto Alegre. Cerca de 30 pessoas exigiam a dissolução de “congresso corrompido” e expulsão dos “políticos comprometidos com a roubalheira”




Manifestação pediu intervenção militar no governo federal | Foto: Carmelito Bifano / Especial CP


Correio do Povo



Cerca de 30 pessoas participaram na tarde desta sexta-feira na Rua dos Andradas de uma manifestação pró-intervenção militar na política do Brasil. Se dizendo cansados dos escândalos de corrupção no país, a falta de segurança e o fato de o Supremo Tribunal Federal (STF) ser composto 80% por indicados pelo PT, o grupo quer que os militares utilizem o artigo 142 da Constituição para evitar o que garantem ser o avanço do comunismo e os desmandos na política nacional.

Carregando faixas como “Chega de violência, criminalidade, corrupção e impunidade” e “Plena democracia só com a força do Povo, Forças Armadas Já!”, os participantes distribuíram panfletos alertando a população para a “criação de um bloco comunista” através do Foro de São Paulo – organização formada por partidos e organizações não governamentais de esquerda da América Latina e do Caribe.

Entre as ideias, o panfleto dos manifestantes defende a sobreposição temporária do Superior Tribunal Militar sobre o STF, formação de uma junta provisória e expulsão de “políticos comprometidos com a roubalheira”, além da redução de ministérios dos atuais 39 a seis, a realização de eleições gerais com candidatos ficha-limpa “sem urnas eletrônicas fraudáveis”, criação de mecanismos constitucionais que mantenham a independência dos poderes, mantendo direitos civis, “punição dos corruptos e repatriamento do dinheiro público em paraísos fiscais e gestão pública com modelos de países desenvolvidos e democráticos”.

Em meio à passeata, discussões

O grupo se concentrou na esquina Democrática, no cruzamento da Rua da Praia com a Borges de Medeiros, e depois caminhou até a frente do quartel-general do Comando Militar do Sul, que também fica na Rua dos Andradas. Porém não há expediente no local na sexta-feira à tarde.

No retorno a esquina Democrática, a presença deles gerou revolta em alguns cidadãos que passavam pelo Centro. Pelo menos uma discussão acalorada ocorreu (assista ao vídeo no fim do texto), na qual ambos os lados chamavam-se de “fascista”. O grupo promete nova manifestação para o dia 28 de março.

“Estamos acabados eticamente e moralmente”, diz manifestante

“Tentar acabar com a corrupção, roubalheira, com a criminalidade. Tentar abrir a cabeça do povo para as coisas que estão acontecendo em relação a implantação comunista que está acontecendo no Brasil. A gente tem conversado com o pessoal nas ruas e eles não entendem o movimento. Eles entendem que estamos querendo uma ditadura militar, não é isso. A gente quer intervenção militar porque queremos respeito, dignidade, recuperar aquilo que nos foi tirado. A capacidade de erguer a cabeça e dizer que é brasileiro”, afirmou o engenheiro de software, Gustavo Braga, de 42 anos, que participava do movimento.

“Tem gente fechando lojas e indo embora porque, como nós, acredita que a coisa vai piorar. A questão do impeachment e da renúncia que não vão ajudar na questão de melhorar a situação do Brasil em relação a situação à ética, moralidade e dignidade”, acrescentou ele, que defende a intervenção militar. “A gente quer a Marinha, o Exército e a Aeronáutico intervenham em nosso favor e nosso benefício acabando com os vagabundos. Saiu alguns nomes na lista do Petrolão, mas não todos. Se saíssem todos e para sair tem que tirar a política da jogada. Tem que fechar o congresso por um tempo. Tem que deixar a Polícia Federal investigar, punir quem tem que punir e, a partir daí, começar a refazer o país, pois estamos acabados. Eticamente e moralmente”, concluiu Braga.

Artigo da Constituição não prevê “intervenção”

O artigo 142 da Constituição dispõe “Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas” e diz: “As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. Não há, no entanto, alguma menção à “intervenção militar” ao longo de seu texto.

Março de manifestações

Em meio ao clima de tensão política, o mês de março deverá ser marcado por manifestações. No próximo dia 13, ocorrerá em todo o país uma manifestação organizada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Nacional dos Estudantes (UNE), Movimento dos Sem-Terra (MST) e outras organizações sociais com o objetivo “de defender a democracia, as conquistas sociais, a Petrobras e dos direitos dos trabalhadores”.

Para dois dias depois estão marcados os protestos organizado pelo grupo Movimento Brasil Livre, também em escala nacional. O grupo pede o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

CENSURA, O ESPORTE NACIONAL



ZERO HORA 08 de março de 2015 | N° 18095



ESPORTE NACIONAL, POR FLAVIA MORAES*



A censura é uma das instituições mais queridas no nosso país. Anda taco a taco com cerveja, futebol e sem- vergonhice.

Não houve um período sequer da história do Brasil sem censura. Na monarquia (tida como liberal e coisa e tal), um monte de gente que defendeu ideias contrárias às do imperador entrou na lista negra dos censores da época. Quando chegou a sua vez, a República Velha baniu a família imperial brasileira e censurou todo mundo que caiu na asneira de se manifestar a favor dos reis banidos. Já o Barão de Itararé tomou um laço dos policiais da Marinha porque o governo não gostava dos seus textos satíricos, ao que o Barão reagiu com inteligência e bom humor: pendurou em sua porta o aviso “ENTRE SEM BATER!”. Mas nem só de censurados vive a literatura brasileira, Machado de Assis por exemplo, foi censor.

Os anos 60 foram um prato cheio e fundo para os todo- poderosos da tesoura, Caetano, Chico e até Odair José foram censurados. Os militares levantaram acampamento, mas o apetite dos mãos de tesoura continuou insaciável. Em 1986, Roberto Carlos festejou José Sarney, censor do filme Je Vous Salue Marie. Mais recentemente, sua majestade usou de todo o seu prestígio para conseguir que seu biógrafo fosse silenciado e foi, vejam só, aplaudido não só por quem lhe faz a corte como também por muita gente boa. Há pouco tempo também, a ala das viúvas da repressão foi pra avenida mostrar que não sonha com a volta do Henfil e de tanta gente que partiu. Sonha mesmo é com a volta das tesouras.

Hoje, os democratas do governo ameaçam a liberdade de imprensa com “modernismos” do tipo “controle social” ou “regulação econômica da mídia”. Essa turma é pródiga na criação de eufemismos, principalmente quando se trata de empastelar ou controlar os veículos de comunicação do país, especialmente aqueles que têm o péssimo hábito de não dobrar a espinha. E, claro, mais uma vez tem gente apoiando a novidade.

Outro dia, por alguma ra- zão não muito clara (o processo segue em segredo na Justiça), um juiz do Piauí tentou censurar o WhatsApp. Não é incrível? Acordar em Teresina e resolver assim, no café da manhã, suspender a comunicação de milhões de pessoas num ato totalmente autoritário?

Sua excelência não leu o Marco Civil Regulatório da Internet sancionado em 2014. Proibir um site ou aplicativo não é permitido pela lei, da mesma maneira como não se pode proibir a circulação de um jornal ou de uma revista. Mesmo que a revista Veja tenha sumido das bancas nas vésperas da eleição e que o jornal O Estado de S. Paulo continue sob censura prévia desde 2009. Não pode sequer mencionar o Boi-Barriga – seja lá o que for.

Segundo Ronaldo Lemos, um dos autores do Marco Civil, essas práticas violam de uma só vez um conjunto de normas legais, constitucionais e até a convenção americana de direitos humanos da qual o Brasil faz parte e que veda qualquer ação análoga à censura(*).

Enquanto isso em Teresina, o estrago do canetaço só não foi maior porque a decisão foi revogada pelo Tribunal de Justiça do Piauí.

Vivemos a era da transparência, senhores.

Cortar, proibir, esconder, boicotar, é cada vez mais inútil.

Mais dia, menos dia, tudo vem à tona, tudo é descoberto, compartilhado e ventilado. E, pra completar, o proibido sempre teve e ainda tem um gosto bíblico de pecado que nos é ir-re-sis-tí-vel. Proibir cada vez mais será incentivar, e incentivar, num mundo onde o indivíduo está cada vez mais empoderado pela tecnologia, pode sair do controle de quem gosta de controlar.

Durante o último Carnaval, Nestor Cerveró, um dos protagonistas da operação Lava- Jato, proibiu com um mandado de segurança qualquer a impressão de seu rosto em uma máscara de papel. Obviamente a imagem vazou na rede… Preciso dizer qual a fantasia mais popular durante a folia?

*Cineasta

quinta-feira, 5 de março de 2015

UNIVERSAL TEM EXERCITO NO RS



ZERO HORA 05 de março de 2015 | N° 18092


MARCELO GONZATTO


RELIGIÃO GLADIADORES DO ALTAR. GRUPO DE JOVENS da igreja evangélica motivou controvérsia após publicação de vídeos na internet



A combinação entre devoção religiosa e treinamento de inspiração militar, motivo de polêmica nacional depois da divulgação de vídeos da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) do Ceará, também está presente em Porto Alegre.

Em vídeos publicados no YouTube – vários foram apagados após a repercussão do caso –, rapazes de uniforme identificados como Gladiadores do Altar marcham, batem continência e oram.

Na Capital, um grupo dos chamados “gladiadores” se reúne uma vez por semana no templo da Avenida Júlio de Castilhos, no Centro. Em duas ligações feitas para o local, foi confirmado que a turma de jovens promove encontros sob a supervisão do pastor Augusto Albuquerque. Além disso, dezenas de rapazes tratados pela denominação de gladiadores costumam marchar e fazer exercícios no Parque da Redenção – mas não há confirmação da Iurd de que todos sejam membros da igreja.

A movimentação nas manhãs de sábado e domingo chama a atenção, há quase um mês, do coordenador-geral da Associação dos Servidores da UFRGS, Arthur Bloise.

– Cheguei a pensar que era pelotão do Colégio Militar, mas eles só fazem exercícios na Redenção durante a semana. Quando me aproximei, vi que diziam palavras de ordem semelhantes àquelas utilizadas no vídeo da Igreja Universal do Ceará – conta Bloise, que registrou a movimentação em fotos.

INSTITUIÇÃO TRATA ASSUNTO COMO FALSA POLÊMICA

A Universal não confirmou que esse grupo retratado, especificamente, faça parte da igreja. Em uma das fotos feitas por Bloise, porém, um dos jovens utiliza uma camiseta da Força Jovem Universal – grupo da Iurd que promove atividades “culturais, sociais, esportivas e espirituais”. Desde janeiro, o programa Gladiadores do Altar está entre os projetos anunciados.

O deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) publicou um texto pedindo providências do Ministério Público pelo temor de possíveis ações praticadas pelo que chamou de “fundamentalismo religioso”.

– Essas coisas não são tomadas como sérias, fechamos os olhos para o fundamentalismo religioso, que já virou força política – afirmou o deputado à Rádio Gaúcha.

Em nota, a Iurd classifica a controvérsia como “falsa polêmica” promovida por “internautas e alguns maus jornalistas”. Conforme a igreja, o projeto é voltado ao ensino bíblico e “procura auxiliar os jovens, no Brasil e em outros países, que se sentem vocacionados para o trabalho missionário”.





Mais de 4 mil membros no Brasil


Lançado há apenas dois meses, o programa Gladiadores do Altar já reúne cerca de 4,3 mil seguidores no país, conforme informação da própria entidade. São jovens de até 26 anos, estudantes e trabalhadores, que assistem a aulas semanais de 45 minutos sobre a Bíblia com um bispo ou pastor. Segundo nota da Iurd, não há “prática militar ou semelhante”.

Nos vídeos divulgados recentemente, porém, o cenário é outro. Em templos no Brasil e em outros países, como Argentina e Colômbia, dezenas de participantes uniformizados entram marchando pelos corredores, se perfilam junto ao altar, prestam continência e respondem em uníssono a comandos de um pastor. Quando perguntados sobre o que querem, gritam:

– O altar, o altar, o altar.

A nota da igreja argumenta que os jovens fizeram “eventos únicos” para marcar o lançamento do projeto e que não se trata da formação de um “exército fundamentalista”.

terça-feira, 3 de março de 2015

CAMAQUÃ VANDALIZADA, MAS CALMA

ZERO HORA 03/03/2015 | 08h25


Após noite de confronto, Camaquã amanhece vandalizada, mas calma. Porta retorcida, placas rasgadas, pedras e resquícios de rojão e de pneus queimados fazem parte do cenário

por Vanessa Kannenberg, de Camaquã




Vestígios da batalha campal de segunda-feira se espalham pela entrada da cidade Foto: Ronaldo Bernardi / Agência RBS

Se tivesse sido uma batalha, o cenário da guerra se chamaria Avenida José Loureiro da Silva. E, no amanhecer desta terça-feira, o início da via, onde fica o pórtico de uma das entradas de Camaquã, amanheceu vandalizado. Porta retorcida, placas rasgadas, pedras e resquícios de rojão e de pneus queimados fazem parte do cenário que virou ponto turístico nesta manhã. Os veículos passam devagar e algumas pessoas param para fazer fotos.

Na noite anterior, uma carreata que iniciou pacífica, no começo da tarde, terminou em confronto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Força Nacional. Os policiais utilizaram bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para impedir que os manifestantes voltassem a interromper a BR-116, que estava liberada desde o fim da manhã.

Por outro lado, moradores de Camaquã revidaram com pedras, rojões e pedaços de madeira, além de barricadas sob o pórtico. Naquele momento, já não havia praticamente mais caminhoneiros, responsáveis pelo início do protesto pelo aumento do frete e pela redução dos pedágios e do diesel.

— Quer uma? — pergunta à repórter um dos seguranças de uma empresa de tratores, Vanderlei Rosa dos Santos.

Na mão dele, uma bala de borracha amarela de cerca de 10 centímetros.

— Eu e a gurizada aqui juntamos mais de 200 dessas. Vamos guardar pra mostrar daqui a uns 20 anos — justificou ele.

O que parte dos 62,7 mil habitantes do município comenta é que nunca se viu algo semelhante. O confronto, que durou mais de sete horas, foi reportagem de abertura do Jornal Nacional de terça-feira e parou em jornais de todo o país.

— Pena que fomos notícia por algo como isso. Não sou contra a manifestação, mas não precisava de vandalismo e de tanta força da polícia — lamentou Juliana Correa, 30 anos, enquanto levava o filho de 10 anos para a escola nesta manhã. — Meu pai tem 70 anos e passou mal com o gás (lacrimogêneo). Ele está melhor, agora a vida tem que seguir, acho que já deu — completou a produtora de merchandising.

O protesto teve fim, com rescaldo dos bombeiros na área de pneus incendiados, por volta da meia-noite. Depois disso, segundo agentes da PRF que ficaram de plantão na BR-116, eles desbloquearam a via mais duas vezes. O motivo foram focos de incêndios no trecho de Cristal a Camaquã. Os pneus foram removidos logo para liberação da rodovia, mas nenhum suspeito foi localizado.

Veja os pontos de bloqueio:


1 Cachoeira do Sul: BR-153, km 386
2 Condor: BR-158, km 125
3 Panambi: trevo com BR-285, BR-158, km 161
4 Pejuçara: BR-158, km 178
5 Júlio de Castilhos: BR-158, km 265 (sem interdição de pista, apenas manifestantes no local)
6 Bagé: BR-293, km 182 (sem interdição de pista, apenas manifestantes no local)
7 Frederico Westphalen: Posto Lagoa, BR-386, km 36
8 Soledade: BR-386, km 243 (sem interdição de pista, apenas manifestantes no local)
9 Fontoura Xavier, BR-386, km 268 (sem interdição de pista, apenas manifestantes no local)
10 Rio Grande: BR-392, km 1 (sem interdição de pista, apenas manifestantes no local)
11 São Sepé: Posto Cotrisel, BR-392, km 297
12 Santa Maria: BR-392, km 350 (sem interdição de pista, apenas manifestantes no local)
13 Palmeira das Missões: trevo com BR-158 e ERS-569, BR-468, km 0
14 Três Passos: trevo de acesso, BR-468, km 99,7
15 Três de Maio: BR-472, km 132,4

PREJUÍZOS E INSEGURANÇA NAS ESTRADAS



ZERO HORA 03 de março de 2015 | N° 18090


POLÍTICA + | Rosane de Oliveira



O que se viu ontem na BR-116 e na entrada de Camaquã, no confronto entre caminhoneiros e a polícia, mostra que o governo federal subestimou a força da manifestação. Não foi apenas o bloqueio da principal rodovia que liga a Capital ao sul do Estado, mas um protesto violento, que acabou atraindo outros descontentes com o governo. Pode ser uma prévia do que vem por aí a partir das manifestações previstas para 15 de março.

A ideia de que a sanção da Lei dos Caminhoneiros, pela presidente Dilma Rousseff, acalmaria os ânimos, não se confirmou. Pelo contrário: a tensão aumentou com a prisão de manifestantes e com a decisão do governo de usar a Força Nacional de Segurança para desobstruir a rodovia e garantir o transporte de combustíveis e alimentos para o sul do Estado. Dez municípios da região enfrentam falta de gasolina e diesel, escolas suspenderam as aulas e o prejuízo causado pelos bloqueios é incalculável.

Só na indústria de transformação, a perda diária é estimada em R$ 760 milhões. Esse número foi apresentado ontem, em reunião das federações empresariais do Estado, na Fiergs. Um dos segmentos mais afetados é o da indústria de alimentos, por lidar com produtos perecíveis. Nesse setor, calcula-se que o prejuízo diário chega a R$ 152 milhões.

O conflito nas estradas ameaça a segurança de quem não tem nada a ver com a briga dos caminhoneiros com o governo. Na noite de domingo, os manifestantes já haviam feito barricadas semelhantes às montadas ontem, queimando um carro velho e obstruindo a rodovia com um tronco de árvore. Ontem, em Camaquã, motoristas e passageiros de carros e ônibus correram riscos ao passar pela área em que manifestantes atiravam rojões, paus e pedras na polícia e os agentes respondiam com balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo.



ALIÁS

Convém não alimentar ilusões com o recuo do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, em relação ao pagamento de passagens para os cônjuges de deputados: as autorizações para viagens de mulheres e maridos, às custas do contribuinte, deverão ser feitas caso a caso.


A BATALHA DE CAMAQUÃ


A Batalha de Camaquã: segunda-feira teve confronto entre PRF e caminhoneiros e deixou seis feridos Ronaldo Bernardi/Agencia RBS
ZERO HORA 03 de março de 2015 | N° 18090


PROTESTO DE CAMINHONEIROS. CONFRONTO EM CAMAQUÃ



FORÇA POLICIAL CHAMADA para retirar motoristas autônomos de carga que realizavam manifestação para pedir redução do preço do diesel na BR-116, nosul do Estado, usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Populaçãose envolveu na ação e tentou revidar com pedras, rojões e pedaços de madeiraO que os moradores de Camaquã viram ontem no pórtico de entrada da cidade foi uma batalha. Houve um enfrentamento entre a força de choque da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e caminhoneiros que estavam na beira da BR-116 para protestar pedindo redução do preço do diesel. Os manifestantes acabaram recebendo apoio dos habitantes do município, o que intensificou o embate – que seguiu pela noite.

Os ânimos começaram a esquentar no fim da tarde. A PRF iniciou a intervenção para retirar os manifestantes com suporte da Força Nacional, autorizada a desobstruir rodovias pelo governo federal. Com escudos, bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, o policiamento dispersou o grupo na beira da rodovia, arrancou faixas e efetuou prisões.

A partir desse momento, moradores de Camaquã começaram a responder com pedras, rojões e pedaços de madeira. Um policial mostrou esferas de metal do tamanho de bolas de pingue-pongue que foram arremessadas com uso de estilingue.

HOUVE 20 PRISÕES EM TODO O ESTADO

Estouros passaram a dominar o ambiente até o início da noite. A escuridão aumentou quando as luzes à beira da BR-116 se apagaram. Com pneus e pedaços de madeira, uma fogueira foi montada na entrada da cidade – como que uma barricada para impedir a passagem rumo às ruas.

Por volta das 23h, com o fogo diminuindo de intensidade e a menor circulação de policiais, o sinal era de que o confronto estava chegando ao fim. A PRF informou que permaneceria no local para garantir que a BR-116 tenha o trânsito liberado. Segundo o hospital da cidade, duas pessoas foram atendidas feridas por bala de borracha e outras quatro sofreram falta de ar devido a bombas de gás.

Na sexta-feira passada, a PRF e a Força Nacional liberaram o bloqueio que caminhoneiros realizavam na BR-101, em Três Cachoeiras. Nesse trecho, a ação durou poucas horas depois de prisões e uso de bombas de gás. Em Camaquã o confronto foi mais intenso – apesar de a BR-116 não estar bloqueada. Os manifestantes estavam tentando parar caminhões para se juntarem ao movimento.

Pelo menos 20 manifestantes haviam sido presos ontem pela PRF em quatro pontos do Estado. Conforme o inspetor Marcelo Lopes Remião, chefe da 2ª delegacia da PRF, 70 homens de outras partes do Brasil estão se deslocando para o Rio Grande do Sul. O movimento perdeu força no país e ficou concentrado em rodovias catarinenses e gaúchas.



Desabastecimento atinge postos e hospitais


Todas as regiões do Estado praticamente convivem com algum efeito da paralisação dos caminhoneiros. Em Humaitá, no Noroeste, um posto cobrava R$ 3,99 pelo litro de combustível. O proprietário foi conduzido à delegacia no último sábado para ser indiciado sob suspeita de crime contra a economia popular, de acordo com o delegado William Garcez.

Na tentativa de amenizar a falta de combustível, caminhões-tanque foram escoltados pela polícia por rodovias do Estado até chegarem aos seus destinos.

Em Três Passos, 1,5 mil alunos da rede pública estão sem aulas. Segundo a Secretaria Municipal de Educação, não há combustível para abastecer os ônibus do transporte escolar. Em Santa Rosa, medicamentos não chegam ao Hospital Vida e Saúde desde a semana passada. A instituição opera apenas com o estoque, que é limitado.

O setor de laticínios também é prejudicado. Cooperados da Santa Clara, em Carlos Barbosa, precisaram jogar leite fora porque não há como transportar o alimento para a industrialização.

Ontem, na Capital, federações empresariais realizaram reunião de avaliação sobre os efeitos da paralisação. Na indústria de transformação, o prejuízo chega a R$ 760,3 milhões em receita líquida de venda por dia paralisado. Na indústria de alimentos, as entidades estimam perda direta de receita líquida de até R$ 152,3 milhões por dia.



Políticos apoiam líderes de protesto


Os protestos de caminhoneiros ganharam impulso de políticos. Deputados de diferentes siglas reforçaram a defesa da redução do preço do diesel, principal reivindicação do movimento que há duas semanas bloqueia rodovias no país, concentrado agora no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

O Planalto monitora a ação de siglas da base nas paralisações. Ainda não se confirmou a atuação de bancadas inteiras, mas apenas os auxílios de grupos de deputados e vereadores. É o caso do PP gaúcho.

Ivar Schmidt, líder do Comando Nacional do Transporte, desde a última semana recebe apoio para reuniões e telefonemas nos gabinetes dos deputados Covatti Filho (PP-RS) e Jerônimo Goergen (PP-RS). Os parlamentares negam pagamentos de hospedagem, alimentação ou qualquer socorro financeiro ao motorista, que vive em Mossoró (RN). Segundo Covatti, Schmidt recebe doações de outros caminhoneiros.

Na semana passada, o líder participou de reunião no Planalto ao lado do integrante do PP gaúcho. Para ZH, Schmidt admitiu que, no Rio Grande do Sul, seu contato é o pai do parlamentar, o ex-deputado Vilson Covatti.

– O pai trabalha para ajudar a reunir as reivindicações e facilitar a negociação com o governo. O movimento é apartidário – afirma Covatti Filho, que preside a Frente Parlamentar Mista de Transporte.

Em viagem a trabalho para a Espanha, Goergen refuta o incentivo às paralisações. Ele foi procurado por motoristas em razão de autoria da Lei dos Caminhoneiros, sancionada ontem pela presidente Dilma Rousseff (leia quadro abaixo), e encorajou a viagem de Schmidt a Brasília. Na semana passada, tentou sem sucesso reunião com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto.

– Quis ajudar a encontrar líderes de um movimento espontâneo. O Planalto erra ao negociar só com os sindicatos – diz Goergen.

POLICIAMENTO BARRA BUZINAÇO

O presidente do Sindicato dos Transportadores Autônomos de Carga de Ijuí, Carlos Litti, desistiu de participar de protestos.

– Não concordamos com a proposta do governo, mas apareceram interesses partidários que não são os da categoria – justifica.

Ontem, os deputados do PMDB Darcísio Perondi (RS) e Valdir Colatto (SC) receberam em um posto de combustíveis de Luziânia (GO), a 45 quilômetros de Brasília, caminhoneiros do oeste catarinense que participariam de um protesto previsto para o fim da tarde. Um forte esquema de segurança no entorno da Capital Federal fez o chamado de buzinaço não ter ainda nem data nem local definido.

GUILHERME MAZUI


LEI EM VIGOR
A presidente Dilma sancionou ontem a nova Lei dos Caminhoneiros, uma das exigências dos participantes dos protestos nas rodovias
1 As propostas - A Lei 12.619 foi aprovada em 2012 para garantir melhorias nas condições de trabalho e reduzir o número de acidentes nas estradas. A lei sofreu críticas em razão da inviabilidade da sua aplicação. Outro projeto começou a circular na Câmara. Sob pressão dos caminhoneiros, foi aprovado. Confira alguns dos pontos que passam a valer.

2 As mudanças
Aumento do sobrepeso
Veículos de transporte de carga e de passageiros terão margem de tolerância ao serem pesados, de 5% sobre o peso bruto total e 10% sobre os limites de peso bruto por eixo de veículo à superfície das vias.
Anistia a punições
Ficam perdoadas multas por excesso de peso dos últimos dois anos.
Descanso obrigatório
O tempo máximo ao volante passa de seis para oito horas. Pode ainda haver duas horas extras. Se houver acordo sindical o horário pode ser estendido mais duas horas, chegando a 12 horas.
Isenção de pedágio
O eixo suspenso de caminhão vazio fica liberado da cobrança de pedágio.

3 A crítica - A Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias afirma que um dos efeitos da isenção do eixo suspenso será o aumento do pedágio para todos.



segunda-feira, 2 de março de 2015

OS RISCOS DO RADICALISMO



ZERO HORA 02 de março de 2015 | N° 18089


EDITORIAL


As insatisfações crescentes são indícios claros de que o país pode descambar para a desordem se governo e sociedade não buscarem soluções civilizadas para as demandas nacionais.


A crise econômica e política, as investigações sobre a corrupção na Petrobras e a insatisfação crescente da população com suas lideranças evidenciam os riscos de uma convulsão social que o país precisa evitar. Os sinais de radicalismo são claros, tendo nos seus extremos a inoportuna convocação do protesto pelo impeachment, dia 15, e a manifestação irresponsável do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugerindo que “o exército do Stédile” saia às ruas em defesa do governo. A alusão a João Pedro Stédile, associado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem- Terra (MST), conhecido pelo radicalismo, só serviu para gerar mais apreensão entre quem se opõe à violência.

No cotidiano brasileiro, multiplicam-se sinais cada vez mais preocupantes de aumento de um sectarismo que só contribui para acirrar ainda mais as tensões em diferentes pontos do país. Foi o que se viu recentemente quando o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega foi hostilizado num hospital particular em São Paulo por um grupo que o aconselhou a ir para o SUS e para Cuba. No Rio, no polêmico ato de apoio à Petrobras, defensores do governo federal e do impeachment da presidente Dilma Rousseff partiram para o confronto. Os próprios transportadores de carga reforçaram esse ânimo beligerante ao ignorarem seus próprios líderes, insistindo na paralisação das atividades, e até a lei, ao constranger colegas e resistir à operação de desbloqueio das rodovias.

O ânimo beligerante tende a se acirrar a partir desta semana, devido a uma série de protestos, com motivações diversas, programados por centrais sindicais. As manifestações antecedem a prevista em defesa de um extemporâneo pedido de impeachment, no momento em que as atenções deveriam estar concentradas no que o Planalto precisa fazer, com o aval do Congresso, para contornar as dificuldades econômicas legadas pelo mau gerenciamento político-administrativo.

As insatisfações crescentes são indícios claros de que o país pode descambar para a desordem se governo e setores representativos da sociedade não buscarem soluções civilizadas para as demandas nacionais. As saídas são as que a democracia oferece diante de um impasse dessas dimensões: a valorização do diálogo e das instituições, para que o país se livre de corruptos e corruptores e possa retomar o crescimento num cenário de estabilidade econômica.