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sábado, 1 de novembro de 2014

REDES NADA SOCIÁVEIS

REVISTA ISTO É Edição: 2345 | 31.Out.14


As mídias sociais da internet ainda vivem sob o clima de guerra que se instalou com as eleições e provocou inimizades entre os usuários


Cesar Soto



Danusa Maroto, uma analista de planejamento de 29 anos moradora de Santo André, a cidade que representa o A do ABC Paulista, por pouco não encerra uma amizade familiar por conta das eleições deste ano. Filha de nordestinos, Danusa ficou revoltada quando viu a namorada de seu irmão, a atriz Caroline Santos, 20 anos, postar comentários ofensivos no Facebook atribuindo a reeleição da presidenta Dilma Rousseff aos brasileiros da região Nordeste. “Eu lembrei que a sogra dela era uma nordestina, mas ela estava tão inflamada pelo resultado que piorou o discurso. Não tive dúvida, fiz o bloqueio na hora, para não agravar as coisas”, diz, que viu o irmão ter de entrar no meio da discussão para não deixar que a briga escalasse para níveis irreparáveis entre as cunhadas.



Danusa e Aline, felizmente, acertaram os ponteiros depois de trocas de mensagens pelo celular, em que a futura cunhada pedia desculpas pelos comentários desmedidos na rede. Casos de rupturas temporárias em amizades próximas e antigas como a das duas foram rotina nestas eleições, em especial na polarização que tomou conta do País no segundo turno. De uma hora para outra o Brasil foi dividido em “coxinhas” e “petralhas”, que passaram a guerrear nas redes sociais como se inimigos étnicos milenares fossem.

Os embates, algumas vezes repletos de golpes baixos, foram reflexo – e também razão – da maneira como os principais candidatos à Presidência da República utilizaram o Facebook, o Twitter, o WhatsApp e o Instragram ao longo da corrida pelo Planalto. Nunca na história das eleições brasileiras a disputa por votos foi tão intensa e tão importante na internet como em 2014. Prova disso são os números divulgados pelo Facebook logo após o fim do segundo turno. De acordo com a maior rede social do planeta, o tema eleições foi mencionado 647 milhões de vezes durante a campanha no País. “Foi o maior acontecimento já mensurado pelo Facebook no mundo”, afirma Bruno Magrani, diretor de relações institucionais da companhia americana no Brasil. Nem mesmo as eleições na Índia, país com mais de 1 bilhão de habitantes, ou a reeleição de Barack Obama, em 2012, movimentaram o Facebook com tamanha intensidade.


BRIGA
Por pouco Aline (esq.) e Danusa não rompem uma amizade de mais
de dois anos por conta de comentários postados no Facebook
sobre a campanha presidencial

Não à toa. Jamil Marques, professor da Universidade Federal do Ceará e um dos organizadores do livro “Do Clique à Urna: Internet, Redes Sociais e Eleições no Brasil” (Edufba, 2013), acredita que as redes sociais tiveram um peso importante na definição dos vencedores no pleito de 2014. “Os partidos querem que o eleitor se engaje na militância, influenciando de forma indireta os indecisos”, diz ele. Hoje só o Facebook tem quase 90 milhões de usuários no Brasil, sendo 68 milhões com acesso via telefones celulares. “Quanto mais acirrada a disputa, maior será o uso de táticas negativas para desconstruir o adversário”, avalia.

Tanto o comitê do PSDB quanto o do PT informam, apenas por nota, que estimulam as pessoas a seguir os princípios da campanha limpa. Mas a internet é livre, defendem-se os comitês, alegando não ter controle sobre o que os correligionários postam. Não é, no entanto, o que mostra uma pesquisa feita pela consultoria Conversion. As publicações de propostas foram minorias nas páginas oficiais dos candidatos no Facebook, segundo a consultoria. No conteúdo publicado pelo tucano Aécio Neves, 72% eram constituídos de autopromoção, 10% de ataques à adversária e 18% de propostas. Dilma, que publicou o dobro de vezes que Aécio, tem número ainda menor: apenas 12% de propostas, com 26% de ataques e 62% de autopromoção. De acordo com o estudo, publicações propositivas têm 40% menos engajamento do público que as demais.



O comportamento dos candidatos, é claro, encontra eco entre os eleitores. “Nas redes, acontece uma bola de neve. A quantidade elevada de discussões eleitorais cria uma mentalidade politizada, que, por sua vez, acaba criando novos debates, fomentando o clima acirrado”, afirma o sociólogo João Barreto, da Universidade Federal da Bahia. Danusa e Aline que o digam.

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