Revelamos aqui as causas e efeitos da insegurança pública e jurídica no Brasil, propondo uma ampla mobilização na defesa da liberdade, democracia, federalismo, moralidade, probidade, civismo, cidadania e supremacia do interesse público, exigindo uma Constituição enxuta; Leis rigorosas; Segurança jurídica e judiciária; Justiça coativa; Reforma política, Zelo do erário; Execução penal digna; Poderes harmônicos e comprometidos; e Sistema de Justiça Criminal eficiente na preservação da Ordem Pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

terça-feira, 21 de julho de 2015

PEDRA NA CARA



ZERO HORA 21 de julho de 2015 | N° 18233


ANDRÉ MAGS*




Em uma guitarra do Kurt Cobain, tinha um adesivo colado em que se lia “Vandalism: beautiful as a rock in a cop’s face” – traduza, se quiser. Sempre fui fã do líder do Nirvana, porém aquela frase era o extremo absurdo. Não condizia com o cara pacífico e genial que criou o aforismo “o óbvio não é essencial”.

Voltei a lembrar da frase vândala quando a primeira pedra estourou a vidraça de um banco nos protestos de junho de 2013 em Porto Alegre. Cobrir aquelas manifestações mudou a minha trajetória de jornalista. Os atos transformaram também a Zero Hora. Até aquele momento histórico, por anos havia sido mais importante para o jornal falar dos incômodos no trânsito causados por manifestações do que das próprias.

Aquele vandalismo não era bonito, ainda que sua mensagem fizesse sentido: “O que é um vidro quebrado para os bancos cheios de dinheiro?”, questionavam os manifestantes mascarados.

Então, os protestos se encerraram com a Copa do Mundo e cá estamos nós, sendo esmagados pelo rolo compressor da corrupção que há séculos roda por cima do país.

Um dia, um morador de rua veio me pedir dinheiro na Praça da Matriz, onde ficam a Assembleia Legislativa e os palácios Piratini e da Justiça. Naquele centro do poder, questionei-o se, em vez de pedir a mim, não poderia abordar alguns comandantes do Estado que têm salários de sobra, se porventura cruzassem seu caminho. Seria tipo um imposto contra a pobreza cobrado de maneira, digamos, informal. Acho que ele não entendeu a proposta e pulou fora.

De volta ao Kurt, tenho a sensação de que aquela inscrição no instrumento era uma metáfora. Tratava-se de um libelo contra a autoridade, não uma selvagem pedra na cara. Meu desdobre ao morador de rua era mais real e tosco, para que ele lançasse uma pedra moral contra os poderosos:

– Me dá o troco que você me deve por eu ser tão pobre assim?

Mas a autoridade intimida. Temos à mão pedras morais bem mais úteis do que aquelas que quebram vidraças. As urnas poderiam ser verdadeiros pedregulhos, e as ruas, também. Só que me parece que as pessoas não estão entendendo e estão pulando fora. Na crise, apegam-se ao impeachment, medida que, depois do Collor, tornou-se a reivindicação mais óbvia.

Jornalista, repórter de Zero Hora*

Nenhum comentário: