Revelamos aqui as causas e efeitos da insegurança pública e jurídica no Brasil, propondo uma ampla mobilização na defesa da liberdade, democracia, federalismo, moralidade, probidade, civismo, cidadania e supremacia do interesse público, exigindo uma Constituição enxuta; Leis rigorosas; Segurança jurídica e judiciária; Justiça coativa; Reforma política, Zelo do erário; Execução penal digna; Poderes harmônicos e comprometidos; e Sistema de Justiça Criminal eficiente na preservação da Ordem Pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

sábado, 13 de julho de 2013

O FASCISMO DO POLITICAMENTE CORRETO





De que adianta manter as crianças numa redoma, se o mundo está cheio de lobos maus?

WALCYR CARRASCO

REVISTA ÉPOCA, 12/07/2013 21h10


Vivo numa democracia. Como escritor, é difícil ter certeza disso. Acho que todo artista em algum momento teve a mesma sensação. Pessoas comuns também. A proibição em torno do que deve ser ou não falado é de lascar. As crianças são usadas como pretexto para proibições que nada têm de democráticas. Existe o veto claro, por meio de leis batalhadas pelas ONGs que se dizem bem-intencionadas. Mas também o realizado por grupos, professores e até pais de alunos que, eventualmente, criam situações constrangedoras para os mestres. Houve um caso, há anos, em que uma professora adotou, num colégio, um livro em que dois adolescentes tinham uma relação sexual – a primeira e mais romântica de suas vidas. Um pai exaltado reclamou. A saída encontrada pela direção foi arrancar a página da cena em que se realizava o ato, de todos os livros já comprados. Mas Shakeaspeare não mostra, em seu inesquecível Romeu e Julieta, dois adolescentes passando uma noite juntos? Escrevo livros infantojuvenis. Nunca me aventurei a falar de sexo por um simples motivo: a maioria dos pré-adolescentes sabe bem mais do que eu poderia escrever!
Professores cedem à pressão. Escolhem livros que não ofereçam riscos de reclamação. Da mesma maneira, o Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe colocar as crianças em situações constrangedoras. Aqui no Brasil, seria impossível filmar O exorcista, já que a menina possuída pelo demônio vive situações de violência. Outro dia, estive num debate em que, como sempre, a televisão foi duramente atacada.

– Como vocês podem mostrar situações de violência? E as crianças?

Resolvi falar das histórias de fadas:

– Joãozinho e Maria são abandonados pelos pais numa floresta. Atraídos pela bruxa má, Maria se torna escrava doméstica e Joãozinho é preso em cárcere privado, para engordar. Será, então, devorado pela bruxa. Engana a canibal e mostra um ossinho de frango no lugar do dedo, para fingir que continua magro. Finalmente, ela resolve assá-lo. Com a ajuda de Maria, Joãozinho empurra a bruxa para dentro do forno. Apoderam-se de suas riquezas e voltam para os pais, que os recebem felizes.

Quando terminei, houve um silêncio. Ninguém pensara nesse e noutros contos de fadas, muito mais fortes que qualquer novela de televisão. Concluí:

– Mas o conto é instrutivo. Ajuda a criança a lidar, simbolicamente, com sentimentos de rejeição familiares. A saber que há um mundo difícil a enfrentar lá fora. Do ponto de vista do inconsciente, é rico em possibilidades.

As ONGs e os defensores do politicamente correto se apoiam em questões que julgam ser objetivas. Dividem o mundo entre bom e mau. Confundem o que é complexo com o nocivo. Mesmo a Cinderela, tão querida do público infantil, não pode passar por uma interesseira, que se casa baseada no status do príncipe? Hummm... mas a questão é que esse é um conto de formação, que novamente lida com a rejeição e a existência de qualidades intrínsecas ao ser humano, aquelas que sobressaem mesmo quando negadas. O inconsciente não funciona como uma receita de bolo, em que determinados ingredientes levam aos mesmos resultados. É um sistema complexo e simbólico. Vivenciar a realidade por meio da ficção é uma preparação para a vida adulta e para este mundo, que não anda nada fácil.

As restrições já deixaram o campo da teoria. Além de livros inscritos num “índex educacional”, há escolas que aboliram o Dia das Mães e dos Pais. Argumentam que, com as novas famílias, divórcios, recomposições, deve ser comemorado o Dia da Família. Não é errado de um ponto de vista teórico. Poderia ser incorporado no calendário, assim como o Natal – que, para mim, sempre foi o dia da família, mas enfim... Defendo o Dia das Mães e dos Pais. É uma maneira de festejar um vínculo emocional, de reforçar os laços de amor, de dizer novamente: “Eu te amo”.

Estruturar o mundo por meio do politicamente correto é criar proibições que afetam as obras artísticas. Mais que isso, as relações com as crianças. De que adianta criá-las numa redoma, se o mundo lá fora está cheio de lobos maus e um dia será preciso enfrentar alguns deles?

Antes eu achava que o “politicamente correto”era apenas uma grande bobagem. É mais sério: tornou-se um exercício de controle, travestido de boas intenções. Sob a capa de democrático, revive anseio por um mundo autoritário e, por que não dizer, fascista.

POR QUE É TÃO FÁCIL ESPIONAR O BRASIL

REVISTA ISTO É N° Edição: 2278 | 13.Jul.13 - 09:52


A ausência de um sistema eficiente de defesa cibernética torna o País vulnerável à espionagem internacional, coloca em risco áreas estratégicas e fere o direito à privacidade de governos, indivíduos e empresas

Claudio Dantas Sequeira e Paulo Moreira Leite



ALVO
Da esq. para a dir., os ministros Celso Amorim (Defesa), José Elito (Segurança
Institucional) e Paulo Bernardo (Comunicações) deixam reunião que, na
terça-feira 9, discutiu como o Brasil deve reagir às denúncias de espionagem

A maturidade do sistema de defesa cibernética de um país pode ser avaliada por meio de um índice chamado CMMI, referência do setor de tecnologia. Segundo um estudo recente realizado por especialistas na área de segurança, o Brasil recebeu nota “1 menos”, em uma escala que vai de 1 a 6. Significa, portanto, que o País está perto da nota mínima, mas ainda não atende todos os requisitos para merecê-la. Entre as nações em desenvolvimento, a Índia aparece com índice 2,5 e os Estados Unidos, numa posição próxima de 5. Numa comparação simples, é como se nosso Brasil fosse um recém-nascido incapaz de resistir a uma gripe – muito menos a uma pneumonia. Com exceção de grandes empresas e bancos, os poderes públicos e os indivíduos que residem no País vivem à mercê da espionagem alheia. Em novo capítulo de suas denúncias contra a Agência de Segurança Nacional (NSA) americana, Edward Snowden, um antigo técnico da CIA que prestava serviços de consultor ao serviço secreto americano, acusou o governo dos Estados Unidos de monitorar bilhões de ligações telefônicas, mensagens e atividades de brasileiros em redes sociais. A denúncia apontou ainda para a existência de uma base de espionagem em Brasília, coração político do País.

Embora não tenham sido divulgados detalhes, como nome de pessoas espionadas, números de telefones ou o conteúdo de e-mails, a ação invasiva dos Estados Unidos não é uma novidade, o que não significa que deva ser tolerada. Em conversas fechadas, a presidenta Dilma Rousseff refere-se ao caso como “bisbilhotice”. Mas a cobrança por explicações tem razão de ser. Os países admitem que nações amigas enviam agentes de informação a seus territórios. A maioria desembarca no estrangeiro sem esconder a própria condição, definida no jargão diplomático como “agentes de segurança”. Com o passar do tempo, muitos são identificados pelo governo anfitrião e mantêm uma postura de colaboração em função de objetivos comuns aos governos dos dois países. A operação denunciada por Snowden, porém, não tinha essa natureza. O ex-técnico da CIA apontou para uma atividade ilegal – a possibilidade de acesso a informações reservadas, prática que não é reconhecida por tratados internacionais nem prevista em eventuais acordos paralelos entre Brasil e Estados Unidos. O debate reside aqui. Em depoimento no Senado, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, disse que o governo brasileiro “está convencido” de que as agências de informação tiveram acesso ao conteúdo das mensagens monitoradas. Numa postura considerada insatisfatória pelo governo brasileiro, os diplomatas de Washington, ao menos até agora, sustentam que as mensagens foram monitoradas – mas sem acesso ao conteúdo.


BIG BROTHER
Em Paris, manifestantes carregam cartazes contra o governo
americano, acusado de espionagem pelo ex-agente Snowden

O aspecto político não esconde o abismo tecnológico que separa os dois países, diferença que deixa o governo americano numa imensa vantagem para conhecer os segredos de parceiros em todo o planeta. Na vanguarda do conhecimento tecnológico mundial, seja pelo vigor único de suas pesquisas, seja pelo volume dos recursos que foram capazes de mobilizar, os Estados Unidos construíram a internet – essa maravilhosa rede que conecta bilhões de cidadãos e empresas de todo planeta – como uma “colônia americana”, conforme definição crua do jornal “The New York Times”. A ausência de um sistema eficiente de defesa no Brasil e em outros países é a contrapartida de uma história tímida no campo das pesquisas autônomas e da produção própria.

Conforme vários especialistas ouvidos por ISTOÉ, a ação de espionagem é apenas a ponta de um iceberg. Em caso de conflito grave, a ausência de uma proteção digital eficiente coloca em risco, por exemplo, o funcionamento de hidrelétricas, linhas de transmissão, plataformas petrolíferas, oleodutos, aeroportos e metrôs, como experimentaram países que enfrentaram confrontos internacionais em posição desvantajosa, como ocorreu recentemente com o Irã e seu programa nuclear. No governo Fernando Henrique Cardoso, quando duas multinacionais disputavam a concorrência para os radares do sistema Sivam, da Amazônia, vários segredos do governo brasileiro foram interceptados. Nada garante que, de lá para cá, a situação geral tenha se modificado, como admitiu o ministro da Defesa, Celso Amorim, em depoimento ao Senado. “A situação em que a gente se encontra hoje é de vulnerabilidade”, admitiu o ministro, assegurando que, na falta de proteção tecnológica eficiente, procura resguardar-se de forma singela: evita escrever e-mails importantes em seu computador. No depoimento, Amorim recordou os contratos “por trás da porta” de empresas americanas com o governo de seu país. Mantendo uma relação de grande proximidade, que torna difícil enxergar onde termina a instituição privada e onde começa o Estado, esses acordos permitem o acesso indevido a informações privadas. Os documentos liberados por Snowden sugerem um caso de colaboração estreitíssima entre a Microsoft e a NSA. Conforme a denúncia, a Microsoft auxiliava a agência a quebrar o sistema criptográfico que protegia seus usuários.



Uma semana antes das revelações de Snowden, autoridades do Sisbin (Sistema Brasileiro de Inteligência) se reuniram em Brasília, preocupados com a entrada de empresas estrangeiras na área de segurança e inteligência dos aeroportos brasileiros. Presente ao encontro, um coronel alertou para a entrega do aeroporto internacional de Brasília ao consórcio Inframérica, liderado por um grupo argentino. “Eles terão acesso ao controle do espaço aéreo brasileiro. É uma temeridade”, disse. De acordo com os documentos vazados por Snowden, a base de operações da NSA no Brasil teve acesso ao tráfego de dados dos satélites da Embratel, de propriedade do mexicano Carlos Slim, e ainda dos cabos submarinos de fibra óptica, nas mãos da Global Crossing, do grupo Level 3, multinacional com sede no Colorado, nos Estados Unidos. Facebook, Skype, Microsoft e Google também são frequentemente acusados de abrir dados privados de seus usuários para a NSA, atividade que todas negam.

“É prática corrente nos Estados Unidos o governo implantar um representante ou mesmo uma célula da NSA nas empresas que são concessionárias de serviços estratégicos como a telefonia”, diz o analista de segurança nacional Salvador Raza. Autor do estudo sobre maturidade da segurança cibernética no Brasil, ele integrou o grupo de especialistas que desenhou o atual modelo de defesa digital dos Estados Unidos. “Não há como grampear telefones e e-mails, saber de seu conteúdo, sem autorização das empresas de telefonia”, garante Raza. Em sua opinião, uma das primeiras medidas para mitigar essa fragilidade estrutural é criar um órgão específico de segurança digital. A administração pública federal possui 320 redes de computadores, incluída aí a de uso restrito da Presidência da República. A segurança dessas redes é feita por um pequeno departamento do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). O Exército também possui um núcleo de defesa cibernética, criado há apenas dois anos e cuja atividade ainda é incipiente.

Na semana passada, o embaixador americano Thomas Shannon foi recebido por Antonio Patriota, ministro das Relações Exteriores. Na audiência, Shannon confirmou a fama de diplomata bem-humorado. Referindo-se à sua saída do posto em Brasília, lembrou que sua passagem ficará marcada por episódios ligados a informações confidenciais. “Cheguei no caso do WikiLeaks e vou embora com as denúncias de espionagem”, disse Shannon, que não ofereceu nenhum esclarecimento que pudesse aliviar o mal-estar entre os dois países. O episódio pode se transformar num trunfo para a diplomacia brasileira. Ao lado da Índia, o Brasil tem se mobilizado, em organismos internacionais, para a produção de acordos capazes de criar regras destinadas a equilibrar duas forças antagônicas – a liberdade que todos apreciam na internet com o controle sobre atividades criminosas, como a espionagem, que pode ser cometida através da rede.



Antes da denúncia de Snowden, o governo americano recusava toda tentativa de interferência na internet, com a alegação de que tinha condições de manter a situação sob controle, sem sacrificar a liberdade dos usuários. Agora, esse argumento perdeu força. Até porque a denúncia não se limita ao Brasil. Revelações de espionagem americana se tornaram assunto quente na campanha eleitoral alemã, deixando o governo de Angela Merkel na desconfortável posição de oferecer explicações. O chanceler Antonio Patriota anunciou que pretende recorrer à ONU, a fim de buscar uma definição sobre normas de comportamento para os países quanto à privacidade das comunicações.

Os antecedentes mostram que não se trata de uma iniciativa simples. Aprovada em 2005 pelos países da União Europeia, a Convenção de Budapeste prevê o chamado “acesso transfronteiriço”, pelo qual um Estado membro pode acessar diretamente informações em servidores localizados em outro país, sem autorização prévia. É uma ideia que até faz sentido num continente que se vê como uma realidade supranacional e possui uma moeda própria. Mas teria difícil aplicação em outras partes do mundo, onde as nações travam uma competição encarniçada pelo conforto de suas populações.

Foto: ANDRE COELHO/Agência O Globo
Foto: KENZO TRIBOUILLARD/afp


segunda-feira, 8 de julho de 2013

JORNALISTA É CONDENADO POR SUPOSTO TEXTO CONTRA JUIZ


O ESTADO DE S.PAULO, 08 de julho de 2013 | 15h 49

ANTÔNIO CARLOS GARCIA - Agência Estado



O jornalista sergipano Cristian Góes foi condenado, em primeira instância, a sete meses e 16 dias de detenção, revertido a prestação de serviço a entidades assistenciais, pela juíza Brígida Declerc, do Juizado Especial Criminal em Aracaju, numa ação movida pelo desembargador e vice-presidente do Tribunal de Justiça de Sergipe, Edson Ulisses de Melo. O magistrado se sentiu ofendido num texto publicado pelo jornalista, intitulado "Eu, o coronel em mim", publicado em seu blog em maio do ano passado. Apesar do texto não ter o nome de ninguém, o desembargador entendeu que a crítica se refere a ele e ao governador de Sergipe, Marcelo Déda. Edson Ulisses é cunhado do govenador Déda.

O desembargador, que não foi localizado para se pronunciar sobre a sentença, disse em audiência que "todo mundo sabe que ele escreveu contra o governador e contra mim. Não tem nomes e nem precisa, mas todo mundo sabe que o texto ataca Déda e a mim". A possível ofensa sofrida pelo desembargador ocorre quando o jornalista cita a expressão "jagunço das leis". Por isso, ele pediu a prisão do jornalista.

O advogado do jornalista, Antônio Rodrigues, disse que como foi uma decisão em primeira instância, ele irá recorrer. "Em razão de ser uma sentença absurda, não acreditamos que ela prospere, mas se for o caso, vamos ao STF em razão da decisão ferir gravemente a Constituição Federal. E, quem sabe, podemos ir ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e as cortes internacionais de Direitos Humanos", afirmou o advogado.

Além da ação criminal, o desembargador Edson Ulisses entrou com ação cível por danos morais contra o jornalista e pediu que o juiz estabeleça um valor para indenização.

EUA ESPIONARAM MILHÕES DE E-MAILS E LIGAÇÕES DE BRASILEIROS

País aparece como alvo na vigilância de dados e é o mais monitorado na América Latina

GLENN GREENWALD, ROBERTO KAZ E JOSÉ CASADO
O GLOBO
Atualizado:6/07/13 - 15h25

O ex-técnico da CIA Edward Snowden, que denunciou um gigantesco esquema de espionagem liderado pela Agência Nacional de Segurança dos EUA HANDOUT / REUTERS/9-6-2013


RIO - Na última década, pessoas residentes ou em trânsito no Brasil, assim como empresas instaladas no país, se tornaram alvos de espionagem da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos (National Security Agency - NSA, na sigla em inglês). Não há números precisos, mas em janeiro passado o Brasil ficou pouco atrás dos Estados Unidos, que teve 2,3 bilhões de telefonemas e mensagens espionados.

É o que demonstram documentos aos quais O GLOBO teve acesso. Eles foram coletados por Edward Joseph Snowden, técnico em redes de computação que nos últimos quatro anos trabalhou em programas da NSA entre cerca de 54 mil funcionários de empresas privadas subcontratadas - como a Booz Allen Hamilton e a Dell Corporation.

No mês passado, esse americano da Carolina do Norte decidiu delatar as operações de vigilância de comunicações realizadas pela NSA dentro e fora dos Estados Unidos. Snowden se tornou responsável por um dos maiores vazamentos de segredos da História americana, que abalou a credibilidade do governo Barack Obama.

Os documentos da NSA são eloquentes. O Brasil, com extensas redes públicas e privadas digitalizadas, operadas por grandes companhias de telecomunicações e de internet, aparece destacado em mapas da agência americana como alvo prioritário no tráfego de telefonia e dados (origem e destino), ao lado de nações como China, Rússia, Irã e Paquistão. É incerto o número de pessoas e empresas espionadas no Brasil. Mas há evidências de que o volume de dados capturados pelo sistema de filtragem nas redes locais de telefonia e internet é constante e em grande escala.

Criada há 61 anos, na Guerra Fria, a NSA tem como tarefa espionar comunicações de outros países, decifrando códigos governamentais. Dedica-se, também, a desenvolver sistemas de criptografia para o governo.

A agência passou por transformações na era George W. Bush, sobretudo depois dos ataques terroristas em Nova York e Washington, em setembro de 2001. Tornou-se líder em tecnologia de Inteligência aplicada em radares e satélites para coleta de dados em sistemas de telecomunicações, na internet pública e em redes digitais privadas.

O governo Obama optou por reforçá-la. Multiplicou-lhe o orçamento, que é secreto como os de outras 14 agências americanas de espionagem. Juntas, elas gastaram US$ 75 bilhões no ano passado, estima a Federação dos Cientistas Americanos, organização não governamental especializada em assuntos de segurança.

Outro programa amplia ação

A NSA tem 35,2 mil funcionários, segundo documentos. Eles informam também que a agência mantém “parcerias estratégicas” para “apoiar missões” com mais de 80 das “maiores corporações globais” (nos setores de telecomunicações, provedores de internet, infraestrutura de redes, equipamentos, sistemas operacionais e aplicativos, entre outros).

Para facilitar sua ação global, a agência mantém parcerias com as maiores empresas de internet americanas. No último 6 de junho, o jornal “The Guardian” informou que o software Prism permite à NSA acesso aos e-mails, conversas online e chamadas de voz de clientes de empresas como Facebook, Google, Microsoft e YouTube.

No entanto, esse programa não permite o acesso da agência a todo o universo de comunicações. Grandes volumes de tráfego de telefonemas e de dados na internet ocorrem fora do alcance da NSA e seus parceiros no uso do Prism. Para ampliar seu raio de ação, e construir o sistema de espionagem global que deseja, a agência desenvolveu outro programas com parceiros corporativos capazes de lhe fornecer acesso às comunicações internacionais.

Um deles é o Fairview, que viabilizou a coleta de dados em redes de comunicação no mundo todo. É usado pela NSA, segundo a descrição em documento a que O GLOBO teve acesso, numa parceria com uma grande empresa de telefonia dos EUA. Ela, por sua vez, mantém relações de negócios com outros serviços de telecomunicações, no Brasil e no mundo. Como resultado das suas relações com empresas não americanas, essa operadora dos EUA tem acesso às redes de comunicações locais, incluindo as brasileiras.

Ou seja, através de uma aliança corporativa, a NSA acaba tendo acesso aos sistemas de comunicação fora das fronteiras americanas. O documento descreve o sistema da seguinte forma: “Os parceiros operam nos EUA, mas não têm acesso a informações que transitam nas redes de uma nação, e, por relacionamentos corporativos, fornecem acesso exclusivo às outras [empresas de telecomunicações e provedores de serviços de internet].”

Companhias de telecomunicações no Brasil têm esta parceria que dá acesso à empresa americana. O que não fica claro é qual a empresa americana que tem sido usada pela NSA como uma espécie de “ponte”. Também não está claro se as empresas brasileiras estão cientes de como a sua parceria com a empresa dos EUA vem sendo utilizada.

Certo mesmo é que a NSA usa o programa Fairview para acessar diretamente o sistema brasileiro de telecomunicações. E é este acesso que lhe permite recolher registros detalhados de telefonemas e e-mails de milhões de pessoas, empresas e instituições.

Para espionar comunicações de um residente ou uma empresa instalada nos Estados Unidos, a NSA precisa de autorização judicial emitida por um tribunal especial (a Corte de Vigilância de Inteligência Estrangeira), composto de 11 juízes que se reúnem em segredo. Foi nessa instância, por exemplo, que a agência obteve autorização para acesso durante 90 dias aos registros telefônicos de quase 100 milhões de usuários da Verizon, a maior operadora de telefonia do país. Houve uma extensão do pedido a todas as operadoras americanas - com renovação permanente.

Fora das fronteiras americanas, o jogo é diferente. Vigiar pessoas, empresas e instituições estrangeiras é missão da NSA, definida em ordem presidencial (número 12333) há três décadas.

Na prática, as fronteiras políticas e jurídicas acabam relativizadas pelos sistemas de coleta, processamento, armazenamento e distribuição das informações. São os mesmos aplicados tanto nos EUA quanto no resto do mundo.

Todo tipo de informação armazenada

Desde 2008, por exemplo, o governo monitora com autorização judicial hábitos de navegação na internet dentro do território americano. Para tanto, exibiu com êxito um argumento no tribunal especial: o estudo da rotina online de “alvos” domésticos proporcionaria vigilância privilegiada sobre a prática online cotidiana de estrangeiros. Assim, uma pessoa ou empresa “de interesse” residente no Brasil pode ter todas as suas ligações telefônicas e correspondências eletrônicas - enviadas ou recebidas - sob vigilância constante. A agência armazena todo tipo de registros (número discado, tronco e ramal usados, duração, data hora, local, endereço do remetente e do destinatário, bem como endereços de IP - assim como sites visitados). E faz o mesmo com quem estiver na outra ponta da linha, ou em outra tela de computador.

Começa aí a vigilância progressiva pela rede de relacionamento de cada interlocutor telefônico ou destinatário da correspondência eletrônica (e-mail, fax, SMS, vídeos, podcasts etc.). A interferência é sempre imperceptível: “Servimos em silêncio” - explica a inscrição numa placa de mármore exposta na sede da NSA em Washington.

Espionagem nesse nível, e em escala global, era apenas uma suspeita até o mês passado, quando começaram a ser divulgados os milhares de documentos internos da agência coletados por Snowden dentro da NSA. Desde então, convive-se com a reafirmação de algumas certezas. Uma delas é a do fim da era da privacidade, em qualquer tempo e em qualquer lugar. Principalmente em países como o Brasil, onde o “grampo” já foi até política de Estado, na ditadura militar.

VIGILÂNCIA DOS EUA USA BRASIL COMO PONTE

G1 - 07/07/2013 22h33

Vigilância dos EUA ao Brasil é 'ponte' para outros países, diz jornalista. Espionagem teria sido usada para acessar sistemas mais protegidos. Informação foi dada por Glen Greenwald em entrevista ao 'Fantástico'.

Do G1, em São Paulo




A espionagem dos Estados Unidos de e-mails e chamadas telefônicas de brasileiros pode ter sido uma alternativa encontrada pelos programas de monitoramento norte-americanos para conseguir ter acesso aos sistemas de países mais protegidos, como a China e o Irã. A informação foi dada pelo jornalista americano Glen Greenwald em entrevista ao Fantástico deste domingo (7). Assista ao lado.

Glen Greenwald vem revelando detalhes dos programas de vigilância americanos. Ele esteve em contato com o ex-agente da CIA e ex-colaborador da Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês), Edward Snowden.


O jornal “O Globo” revelou neste sábado (6) que o Brasil não só é um dos alvos da espionagem cibernética norte-americana, como é o país latino-americano mais monitorado. No continente, o país só fica atrás dos Estados Unidos, que tiveram 2,3 bilhões de mensagens e ligações monitoradas.

Segundo Greenwald, o interesse pode estar no tráfego de dados na internet que passa pelo Brasil, já que toda a rede está interligada.

“Não temos acesso ao sistema da China, mas temos acesso ao sistema do Brasil. Então estamos coletando o trânsito do Brasil não porque queremos saber o que um brasileiro está falando para outro brasileiro, mas porque queremos saber que alguém na China está falando com alguém na Irã, por exemplo”, descreve o jornalista.

A NSA mantém parcerias com as maiores empresas de internet americanas. No último 6 de junho, o jornal britânico “The Guardian” informou que o software Prism permite à NSA acesso a e-mails, chats online e chamadas de voz dos usuários dos serviços da Apple, Facebook,Google, Microsoft, YouTube, Skype, AOL, Yahoo! e PalTalk.

Porém, segundo “O Globo”, somente o Prism não dá à NSA acesso a todo o tráfego de informações e grandes volumes de telefonemas e dados na web não ocorrem nas ferramentas monitoradas pela NSA. Por isso, a agência desenvolveu outros programas com parceiros corporativos que possam fornecer acesso às comunicações internacionais.

Uma dessas iniciativas é o Fairview, que permite a coleta de dados em redes de comunicação no mundo todo, numa parceria com uma grande empresa de telefonia dos EUA.

Essa empresa, por sua vez, mantém relações de negócios com outros serviços de telecomunicações, no Brasil e em outros países. Como resultado das suas relações com empresas não americanas, essa operadora dos EUA tem acesso às redes de comunicações locais, incluindo as brasileiras.

Neste domingo, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, afirmou que irá discutir o “aperfeiçoamento de regras multilaterais sobre segurança das telecomunicações” no âmbito da União Internacional das Telecomunicações (UIT), entidade da ONU.

Já a Polícia Federal e Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) investigarão se empresas sediadas no Brasil deixaram que a NSA tivesse acesso às suas redes de comunicação locais.


Jornais destacam sistema de espionagem dos EUA no Brasil. ‘The Guardian’, ‘Washington Post’ e ‘El País’ foram alguns dos que comentaram denúncia feito por O GLOBO

O GLOBO
Atualizado:8/07/13 - 14h21



RIO — Horas depois de o GLOBO revelar, com base em documentos secretos copiados pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden, que os EUA espionaram milhões de telefonemas e e-mails de cidadãos brasileiros, vários jornais estamparam em seus sites a denúncia, publicada com exclusividade neste domingo. O britânico Glenn Greenwald, um dos autores da reportagem e jornalista do “The Guardian”, escreveu em seu blog que o Brasil vem sendo espionado massivamente pela Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês).

O também britânico “Daily Mail” destacou a denúncia no domingo, sob o título: “Snowden diz que NSA espiona maioria dos países ocidentais e Brasil também reclama de vigilância por agências de espionagem dos EUA”.

O jornal americano “Washington Post” também comentou a reação do governo brasileiro: “Brasil demonstra preocupação e pede que os Estados Unidos esclareçam relatórios de espionagem da NSA”. Na mesma linha, o “USA Today” destacou que o Brasil mostra-se preocupado com denúncias de monitoramento da NSA. Neste domingo, o Ministério das Relações Exteriores pediu explicações ao embaixador dos EUA Thomas Shannon e acionou a embaixada em Washington para fazer o mesmo diretamente ao governo americano.

O jornal “Público”, de Portugal, anunciou que cidadãos brasileiros foram espiados “em grande escala” pelos EUA. A reportagem destaca que o Brasil é um dos alvos preferenciais da agência americana, ao lado de países como China, Rússia, Paquistão ou Irã. No espanhol “El País”, uma reportagem da noite deste domingo mostrou que o Brasil também está na mira de espionagem revelado por Snowden. Em seu site, o jornal diz que O GLOBO, junto com o “The Guardian”, revelaram que os Estados Unidos interceptaram milhões de chamadas, e-mails e dados de empresas brasileiras.

Na América Latina, o venezuelano “El Nacional” afirmou que os EUA interceptaram ligações e correios eletrônicos no Brasil. O “Clarín”, da Argentina, destacou que entre os documentos revelados por O GLOBO está um mapa que indica que o Brasil está sendo espionado da mesma maneira que França e Austrália, o que mostra que o volume de conexões interceptadas pelos sistemas de espionagem americano é intermediário.

sábado, 6 de julho de 2013

O INIMIGO É TUDO, INCLUSIVE A IDEOLOGIA


REVISTA ISTO É N° Edição: 2277 | 06.Jul.13 - 20:29

ENTREVISTA

Luis Fernando Verissimo


Escritor gaúcho diz que as manifestações populares são positivas porque "estão pedindo tudo que a gente quer", mas teme pelos nostálgicos da ditadura

por Mariana Queiroz Barboza



TECNOLOGIA
Embora seja adepto do e-mail, o escritor diz que marcharia contra o telefone celular

As incertezas sobre o cenário político pós–manifestações populares não chegam a tirar o sono do escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo, mas o têm angustiado. “A desmoralização da política e dos políticos deve preocupar a todos, porque a falência da política é a falência da democracia”, afirma. Um dos maiores cronistas do Brasil e criador de notáveis personagens, como Dora Avante e o Analista de Bagé, ele mantém há cinco décadas um olhar crítico sobre o País e, aos 76 anos, seu senso de humor permanece intacto. Verissimo afirma que, se fosse às passeatas, não deixaria de reivindicar “carona da FAB para todo mundo” e que carregaria um cartaz com a inscrição “Pra que lado fica a Bastilha?” Depois de ter passado 24 dias internado num hospital com infecção generalizada, no fim do ano passado, e outros três com dores no peito, em março, Verissimo divide com Lucia, sua mulher há mais de 30 anos, a rotina de escrever semanalmente para três jornais. Em outubro, deve chegar às livrarias “Os Últimos Quartetos de Beethoven”, pela editora Objetiva, com dez contos, alguns inéditos. Na quinta-feira 4, o escritor conversou por e–mail com a ISTOÉ.


"Se eu fosse a uma passeata, levaria o seguinte
cartaz: ‘Pra que lado fica a Bastilha?’”


“Infelizmente aquele ímpeto anticorrupção do início
do governo (de Dilma Rousseff) não se sustentou"

Fotos: Ernesto Carriço/Ag. O Dia; João Castellano/ag. istoé; Marcos Alves/Ag. O Globo


ISTOÉ - O que o sr. pensa sobre a onda de manifestações que se espalhou pelo Brasil?


LUIS FERNANDO VERISSIMO - No fundo, o que se vê nas ruas é uma crítica, nem sempre consciente, ao capitalismo brasileiro. Estão pedindo o fim do lucro desmedido com serviços públicos como o transporte, o fim do poder corruptor do dinheiro, mais saúde e educação subsidiadas pelo Estado. Eu nunca tinha visto tantos socialistas juntos. Será curioso ver como essa massa vai votar.
ISTOÉ - O que ficará de junho de 2013 para a história?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Ainda não se sabe se foi só um espasmo ou se o movimento terá consequências permanentes. Muitas das reivindicações são irrealistas. Aquele cartaz que pedia a volta da tomada para dois pinos não era sério, mas dava uma boa ideia disso.

ISTOÉ - Esse tipo de movimento, que nasce da internet sem uma cara, um líder, é positivo?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Essas manifestações espontâneas são positivas na medida em que, afinal, estão pedindo tudo que a gente quer. São perigosas porque substituem a política e podem ser manejadas, inclusive pelos nostálgicos da ditadura.

ISTOÉ - Durante muito tempo, a ditadura militar foi o inimigo a ser combatido. Quem é o inimigo dos jovens de agora?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Pois é, o inimigo é um sistema que não funciona, o que é muito vago. Se você quiser ser específico, pode dizer que a rua está fazendo a crítica ao capitalismo brasileiro que o PT fazia quando era oposição, antes de se deixar cooptar. Mas isso é um diagnóstico ideológico e o movimento parece ser contra tudo. O inimigo é tudo, inclusive a ideologia.
ISTOÉ - A colocação de uma agenda conservadora (como o fim dos partidos, a redução da maioridade penal e a volta da ditadura militar) por parte dos manifestantes é algo que o preocupa? O que explica esse tipo de “reivindicação”?

LUIS FERNANDO VERISSIMO -


A desmoralização da política e dos políticos deve preocupar a todos, porque a falência da política é a falência da democracia. A conclusão de que o que não está funcionando é a própria democracia é perigosa. O que falta é mais democracia. Mais liberdade, igualdade e fraternidade, o trio maravilha.

ISTOÉ - Os protestos no Brasil se assemelham a algo que o sr. já viu?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - A analogia óbvia é com o Maio de 68, na França, que também era contra um tudo indefinido. Tem gente que diz que o que houve em Paris, naquela primavera, foi só uma queima de hormônios. Já o Cohn–Bendit disse que 68 foi o preâmbulo de 81, quando a esquerda chegou ao poder na França. Resta ver qual será o 81 do nosso 68.

ISTOÉ -Se o sr. pudesse fazer cinco cartazes para levar a uma passeata, quais pautas escolheria? O que estaria escrito neles?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - “Vergonha!”, “Pra que lado fica a Bastilha?”, “Carona da FAB para todo mundo”, “E o mensalão do PSDB?” e “Pela volta da tomada pra dois pinos”.
ISTOÉ - O sr. consegue imaginar algum de seus personagens nessas manifestações?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - A Dora Avante e seu grupo de pressão, as Socialaites Socialistas, marchariam contra a falsificação de má qualidade das bolsas Vuitton no Brasil.

ISTOÉ - Dada a reação do Congresso aos gritos da rua, o sr. acredita que políticos assustados produzam melhor?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - O diabo é que as manifestações acabam um dia e o medo também. Mas não se deve supervalorizar o poder persuasório de manifestações. Amanhã um milhão de evangélicos marcham contra gays ou contra o diabo e eu espero que a consequência política disso seja zero.

ISTOÉ - Como o sr. avalia o governo de Dilma Rousseff? Gosta dela?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Infelizmente aquele ímpeto anticorrupção do início do seu governo não se sustentou. Mas, falando do PT no poder em geral, qualquer governo que consegue distribuir renda e diminuir a pobreza tem no mínimo a minha simpatia.

ISTOÉ - Como é sua relação com a internet e a tecnologia?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Uso o computador como uma máquina de escrever com memória, uso bastante o Google, que fornece erudição instantânea, e não poderia mais viver sem o e-mail. Mas não frequento muito a internet. E participaria de qualquer passeata contra o telefone celular.

ISTOÉ - Dos textos atribuídos ao sr. que circulam na internet, há algum que o incomode mais ou que tenha captado sua atenção tanto positiva quanto negativamente?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Nenhum incomoda porque não há o que fazer para impedi-los. Alguns são bons, e neste caso eu aceito os elogios, inclusive para não desiludir as pessoas. Teve um, chamado “Quase”, que correu o mundo e foi até publicado num livro em francês. Uma sr.a me disse que não gostava do que eu escrevia, até ler o “Quase”. Agradeci, emocionado. Outro texto, sobre uma diarreia no aeroporto, também fez muito sucesso.

ISTOÉ - Depois da atuação do Brasil na Copa das Confederações, o sr. está confiante na Seleção Brasileira para o Mundial do ano que vem? O sr. gosta do Felipão?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - O Felipão não é um tático, é um motivador, e o melhor que se pode dizer desta seleção é que está bem motivada, com quatro ou cinco talentos que se destacam. Acho que não faremos feio.

ISTOÉ - E o que pensa do Brasil enquanto sede do evento?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Quem gosta de futebol, como eu, fica numa situação difícil. Claro que o Brasil não podia gastar o que está gastando para sediar a Copa, mas, ao mesmo tempo, a perspectiva de ter bom futebol internacional em casa é animadora. O que fazer com os estádios que ficarão ociosos depois da Copa? Não tenho a menor ideia. Podem ficar como monumentos à insânia.

ISTO É O sr. ainda vê televisão? Há algo que lhe agrade na tevê aberta?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Vejo filmes, futebol e o “Jornal Nacional”. 

ISTOÉ - E na internet? O sr. costuma ver vídeos no YouTube?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - A melhor novidade da tevê brasileira está na internet: é o “Porta dos Fundos”. Não vejo YouTube, não tenho Facebook e todos os Twitters com meu nome são falsos.

ISTOÉ - Quais autores o sr. costuma acompanhar?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Dos brasileiros, o Milton Hatoum; dos estrangeiros, o John le Carré e o Roberto Calasso, além da releitura de favoritos mortos.

ISTOÉ - Além das crônicas para os jornais, o sr. está trabalhando em algum livro novo?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Deve sair em outubro, pela Objetiva, um livro de contos, alguns inéditos, outros já publicados na imprensa. São dez contos, entre longos e curtos, e o título é “Os Últimos Quartetos de Beethoven”.

ISTOÉ - Que tipo de situação ainda o inspira?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Para quem escreve com regularidade, qualquer assunto é assunto. Eu sempre digo que a minha musa inspiradora é o prazo de entrega. E a crônica, sendo um gênero indefinido, comporta essa variedade de assuntos e de estilos.

ISTOÉ - Já se acostumou ao novo acordo ortográfico ou comete alguns erros comuns, como acentuar ideia ou colocar trema?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Meu computador cuida disso para mim. Ele acompanhou a reforma ortográfica, sabe tudo a respeito e não me deixa errar. Eu só não entendi ainda por que “três” continua de chapeuzinho.

ISTOÉ - O livro “Cinquenta Tons de Cinza” foi o maior fenômeno literário do ano passado. O que o sr. pensa dessa literatura feminina quase pornográfica?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Se entendi bem, o sexo nesse livro é sadomasoquista. Como diria o Freud, o que essas mulheres estão querendo? Não pretendo descobrir.

ISTOÉ - Fora as inúmeras homenagens que recebe, o sr. tem vida social noturna?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Um programa perfeito é ir ao cinema, sessão das seis, depois ir jantar num bom restaurante. Nada de muito excitante.

ISTOÉ - O que a velhice lhe trouxe de positivo e de negativo?

LUIS FERNANDO VERISSIMO -
 De negativo, a proximidade da morte, a consciência da nossa finitude e do absurdo da existência. De positivo, o lugar reservado para idosos nos estacionamentos.

ISTOÉ - Sua timidez ainda o coloca em situações embaraçosas?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Já me resignei à timidez e sei que agora não vou mudar, mas melhorei muito com a idade. Já faço até palestra. Mas com o Isordil à mão.

ISTOÉ - Sobre o período em que o sr. esteve internado num hospital no ano passado, o que ficou daquele susto?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Tive alucinações durante o período em que fiquei na UTI, o que só me levou a admirar ainda mais o funcionamento e o poder do nosso cérebro, uma coisa ao mesmo tempo fascinante e assustadora.

ISTOÉ - Atualmente, qual é sua maior preocupação? Há algo que lhe tire o sono?

LUIS FERNANDO VERISSIMO - Essa coisa meio incerta no ar, essa indefinição sobre o que está por trás da revolta e o rumo que ela vai tomar... Não vou dizer que me tira o sono, tenho dormido bem. A preocupação começa ao acordar.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

A ALTERNATIVA

ZERO HORA 01 de julho de 2013 | N° 17478

L.F. VERISSIMO



Envelhecer é chato, mas consolemo-nos: a alternativa é pior. Ninguém que eu conheça morreu e voltou para contar como é estar morto, mas o consenso geral é de que existir é muito melhor do que não existir. Há dúvidas, claro. Muitos acreditam que com a morte se vai desta vida para outra melhor, inclusive mais barata, além de eterna. Só descobriremos quando chegarmos lá. Enquanto isto, vamos envelhecendo com a dignidade possível, sem nenhuma vontade de experimentar a alternativa.

Mas há casos em que a alternativa para as coisas como estão é conhecida. Já passamos pela alternativa e sabemos muito bem como ela é. Por exemplo: a alternativa de um país sem políticos, ou com políticos cerceados por um poder mais alto e armado. Tivemos 20 anos dessa alternativa, e quem tem saudade dela precisa ser constantemente lembrado de como foi. Não havia corrupção? Havia, sim, não havia era investigação para valer. Havia prepotência, havia censura à imprensa, havia a presidência passando de general para general sem consulta popular, repressão criminosa à divergência, uma política econômica subserviente e um “milagre” econômico enganador. Quem viveu naquele tempo lembra que as ordens do dia nos quartéis eram lidas e divulgadas como éditos papais para orientar os fiéis sobre o “pensamento militar”, que decidia nossas vidas.

Ao contrário da morte, de uma ditadura se volta, preferencialmente com uma lição aprendida. E se para garantir que a alternativa não se repita é preciso cuidar para não desmoralizar demais a política e os políticos, que seja. Melhor uma democracia imperfeita do que uma ordem falsa mas incontestável. Da próxima vez que desesperar dos nossos políticos, portanto, e que alguma notícia de Brasília enojá-lo, ou você concluir que o país estaria melhor sem esses dirigentes e representantes que só representam seus interesses, e seus bolsos, respire fundo e pense na alternativa.

Sequer pensar que a alternativa seria preferível – como tem gente pensando – equivale a um suicídio cívico. Para mudar isso aí, prefira a vida – e o voto.