Revelamos aqui as causas e efeitos da insegurança pública e jurídica no Brasil, propondo uma ampla mobilização na defesa da liberdade, democracia, federalismo, moralidade, probidade, civismo, cidadania e supremacia do interesse público, exigindo uma Constituição enxuta; Leis rigorosas; Segurança jurídica e judiciária; Justiça coativa; Reforma política, Zelo do erário; Execução penal digna; Poderes harmônicos e comprometidos; e Sistema de Justiça Criminal eficiente na preservação da Ordem Pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O PAÍS DOS SINDICATOS

FOLHA.COM 09/08/2012 - 07h07

Sérgio Malbergier


A tradicional onda de greve dos servidores públicos mais uma vez recai sobre nós, atazanando horizontalmente o país. Atazanar os outros, aliás, está liberado. E compensa desde que você seja de um grupo bem organizado, como os sindicatos. No Brasil, ao contrário do mundo, eles ganham força e fortuna.

Motoboys organizados outro dia pararam São Paulo de forma fulminante, gerando caos com facilidade assustadora. Confiantes na impunidade, a estratégia era causar estrago máximo. Grupos formavam rapidamente barreiras compactas parando o trânsito em pontos nevrálgicos. Resultado: conseguiram mais prazo para se adequar a regras para aperfeiçoar seu trabalho.

Os caminhoneiros também abusaram impunemente do incansável bovinismo nacional e pararam as principais estradas do país por dias. Uma situação intolerável, cujo resultado foi, também aqui, o recuo do governo na implementação de novas regras para aumentar a segurança do trabalho na estrada.

Agora são os próprios policiais rodoviários federais que param as principais estradas do país, contrariando a essência da sua profissão (algo como um médico em greve matar seu paciente).

A onda anual de greves dos servidores federais orgulhosamente apresenta também as tradicionais paralisações da polícia federal, interrompendo emissão de passaportes e causando filas nas fronteiras e aeroportos com operações cinicamente chamadas de padrões, da Anvisa, que ameaça o abastecimento de remédios no país, dos fiscais agropecuários, que paralisa a produção de carnes e grãos, arma essencial da economia brasileira na crise global, dos professores, que dura meses e prejudica milhões de estudantes e suas famílias...

A resposta dos governos a tudo isso é pífia. Greves abusadas e abusivas ficam impunes. Que direito tem um motoboy, um caminhoneiro, um policial rodoviário de prejudicar deliberadamente as atividades das pessoas? Nessa área a presidente Dilma é de uma suavidade rara. Ela definitivamente não será Margaret Thatcher, que vergou os sindicatos britânicos e deu confiança ao empresariado.

Ontem mesmo, em meio a essa custosa turbulência na vida socioeconômica brasileira, Dilma sancionou lei que concede benefícios a cerca de 940 mil servidores ativos, aposentados e pensionistas do Executivo. Em nota, o Ministério do Planejamento disse que estava honrando acordos referentes à campanha salarial de 2011.

Estamos começando a pagar ganhos da campanha de 2011 e já enfrentamos a nova campanha 2012 como enfrentaremos a de 2013, 14, 15.

E se servidores de áreas sensíveis ameaçarem fazer greve na Copa ou nas Olimpíadas?

Num movimento que deixaria Karl Marx orgulhoso, a era lulo-petista transformou o aparato sindical em acumulador de capital. As centrais sindicais recebem todo ano dezenas de milhões de reais do governo, repassados do compulsório imposto sindical. CUT, ligada ao PT, e Força Sindical, ligada ao PDT, são as mais ricas.

Uma riqueza que dá confiança e capacidade operacional ao sindicalismo jamais vista na história deste país. Reforçadas ainda por um mercado de trabalho aquecido, perto do pleno emprego, que permitiu aos trabalhadores ganhos reais sucessivos, porém não recompensados por aumento de produtividade. Isso gera custo extra às empresas e encarece o investimento.

Que bom que a renda do trabalhador brasileiro, historicamente baixa, suba. Mas se isso ocorrer em detrimento da competitividade das empresas e da saúde fiscal dos governos, estaremos semeando problemas que ameaçarão a sustentação desses ganhos.


 

Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos "Dinheiro" (2004-2010) e "Mundo" (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve às quintas no site da Folha.

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