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quarta-feira, 28 de novembro de 2012

FERIDAS QUE NÃO CICATRIZAM

ZERO HORA 28 de novembro de 2012 | N° 17267

PÁGINA 10 | ROSANE DE OLIVEIRA



Uma frase da psicóloga Maria Beatriz Paiva Keller, 52 anos, filha do ex-deputado Rubens Paiva, dita ontem no Palácio Piratini, sintetiza o estado de espírito dos familiares de presos políticos desaparecidos na ditadura:

– Há 40 anos eu vejo o mesmo filme. Um filme sem fim.

O comovente depoimento de Maria Beatriz foi dado depois de receber do governador Tarso Genro a cópia do documento encontrado na casa do coronel Julio Miguel Molinas Dias e que confirma a passagem de Rubens Paiva pelas instalações do DOI-Codi, em 1971. A caçula de Rubens Paiva mora na Suíça e está passando as férias no Brasil. Contou que foi poupada pela família, porque tinha só 10 anos quando o pai desapareceu. Ela estava no andar de cima da casa de dois pisos, no Leblon, e não viu a cena dos militares saindo com o pai. Durante muito tempo, conviveu, na escola, com a dificuldade de responder à pergunta dolorosa: onde está seu pai?

– Eu tinha vergonha de dizer que meu pai estava preso, porque a ideia que se tem é de que uma pessoa presa é uma pessoa criminosa. Às vezes, eu preferia dizer que meu pai tinha morrido. Se perguntavam do que morreu, dizia que foi do coração.

Cada membro da família Paiva definiu uma data para a morte de Rubens. Pela manhã, a filha Vera, que à época tinha 16 anos, disse à Rádio Gaúcha que levou 10 anos para admitir que o pai estava morto. Professora de História na USP, Vera dá seu aval ao livro Segredo de Estado, do jornalista Jason Tércio, que mistura fatos conhecidos da biografia do pai com versões de testemunhas e um tanto de ficção para preencher as lacunas deixadas pela falta de informação oficial sobre o ex-deputado.

Maria Beatriz chorou ao receber o documento e estranhou a citação de 14 livros de diversos autores na lista de objetos do pai constante do “termo de recebimento”. Porque Rubens Paiva saiu de casa dirigindo o próprio carro, imaginando que iria apenas prestar um depoimento e voltaria em seguida. Não teria motivo para levar 14 livros. A filha imagina que os livros foram apreendidos na casa da família pelos militares que buscavam provas de uma suposta ligação de Rubens Paiva com grupos de guerrilha.

No Piratini, a caçula conheceu o deputado Raul Pont (PT), que contou ter sido preso na mesma época de Rubens Paiva. Pont no DOI-Codi de São Paulo, Paiva no Rio.

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