Revelamos aqui as causas e efeitos da insegurança pública e jurídica no Brasil, propondo uma ampla mobilização na defesa da liberdade, democracia, federalismo, moralidade, probidade, civismo, cidadania e supremacia do interesse público, exigindo uma Constituição enxuta; Leis rigorosas; Segurança jurídica e judiciária; Justiça coativa; Reforma política, Zelo do erário; Execução penal digna; Poderes harmônicos e comprometidos; e Sistema de Justiça Criminal eficiente na preservação da Ordem Pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

SEM DIÁLOGO, O BRASIL PARA



ZERO HORA 25 de fevereiro de 2015 | N° 18084


EDITORIAL


A paralisação dos caminhoneiros faz sentido, mas é uma afronta à população. E compete ao governo descascar esse abacaxi que, por omissão ou equívocos, ajudou a criar.


A paralisação dos caminhoneiros é uma afronta à população. Os bloqueios de rodovias não só causam transtornos imediatos, como atrasos a quem viaja, descumprimento de compromissos e sofrimento nas estradas, mas também já provocam desabastecimento de combustível e produtos perecíveis, além de prejuízos irreparáveis para produtores rurais e pequenos agricultores. Neste sentido, depois de dois dias de paralisação, já se tornou um movimento inegociável. Tem que ser sustado imediatamente, pois fere o direito de ir e vir, assegurado pelo inciso XV do artigo 5º da Constituição Federal.

Mas o movimento dos caminhoneiros faz sentido, ainda que tenha uma liderança difusa e que possa estar sendo estimulado pelas transportadoras. O repentino aumento dos combustíveis e dos pedágios, combinado com a redução do valor dos fretes decorrente da crise econômica e dos baixos preços das commodities agrícolas, tornou praticamente inviável o negócio de transportar mercadorias. Por isso, os caminhoneiros – muitos deles endividados pela compra de caminhões novos, incentivada pelo governo no ano passado – querem prorrogar seus financiamentos, alterar a legislação trabalhista específica da categoria (a Lei dos Caminhoneiros, já aprovada pelo Congresso e aguardando sanção presidencial) e atenuar suas perdas.

Ainda assim, não têm o direito de parar o país. Age corretamente a Advocacia-Geral da União ao pedir à Justiça o imediato desbloqueio das estradas. Deveria fazer isso também em outras situações, pois foi a leniência do Estado para controlar excessos de movimentos sociais que estimulou no país a vulgarização de protestos e manifestações cuja única e principal estratégia para chamar a atenção é o bloqueio do trânsito. O governo, esse e seus antecessores, também é responsável pela dependência do transporte rodoviário, pela administração equivocada dos preços dos combustíveis, pelo represamento de reajustes necessários e, principalmente, pela falta de diálogo preventivo.

Sem diálogo e ações firmes, o Brasil para mesmo, pois a crise econômica e os ajustes fiscais necessários logo motivarão outras categorias de trabalhadores a reivindicar e a protestar. A democracia permite isso – mas não permite e nem deve permitir que os direitos dos demais brasileiros sejam bloqueados.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

PREFEITO DE CARACAS É PRESO POR PROMOVER GOLPE DE ESTADO

ZERO HORA 20/02/2015 | 03h362

Prefeito de Caracas é preso por "promover golpe de Estado", diz presidente Nicolas Maduro
Cerca de meia hora antes do anúncio de sua prisão, o próprio Ledezma alertou no Twitter sobre a chegada dos agentes



Antonio Ledezma foi preso por agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin), informaram a mulher do político e fontes da oposição venezuelana Foto: Arquivo Pessoal / Arquivo Pessoal


O prefeito de Caracas, o opositor Antonio Ledezma, foi detido por ordem da Procuradoria por promover um golpe de Estado na Venezuela — declarou o presidente Nicolás Maduro, nesta quinta-feira.

— O senhor Ledezma, que no dia de hoje foi detido por ordem da Procuradoria, deve ser processado pela Justiça venezuelana para que responda por todos os crimes cometidos contra a paz do país, a segurança e a Constituição — afirmou Maduro, referindo-se a uma suposta tentativa de golpe, já anunciada por ele há alguns dias.



Antonio Ledezma foi preso por agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin), informaram a mulher do político e fontes da oposição venezuelana.

— Levaram Antonio Ledezma com violência (...) Chegaram destruindo tudo que encontravam pelo caminho. Não deram nem tempo de falar — denunciou a mulher do prefeito, Mitzy Capriles de Ledezma, à "Unión Radio".

Segundo Mitzy, "vários" homens do Sebin, com o rosto coberto, apareceram no gabinete do prefeito para prendê-lo. Ao deixarem o prédio, os agentes "atiraram várias vezes para o alto" para dispersar a multidão que se aglomerou, continuou Mitzy, que tem feito postagens na conta do Twitter do marido após a prisão dele.



O advogado de Ledezma, Omar Estacio, disse à mesma emissora que "não foi apresentado um mandado de prisão".

— Toda minha solidariedade para o prefeito Ledezma diante dessa inesperada detenção! — escreveu em sua conta oficial no Twitter o prefeito do município metropolitano de Caracas (leste), Ramón Muchacho, também da oposição.

A advogada e diretora internacional do Fórum Penal Venezuelano, Tamara Suju, postou em sua conta no Twitter, imagens do momento da prisão de Ledezma.



Cerca de meia hora antes do anúncio de sua prisão, o próprio Ledezma alertou no Twitter sobre a chegada dos agentes.

— Meu gabinete vai ser revistado neste momento por vários policiais do regime — tuitou (veja abaixo).


A frente da sede do Serviço Bolivariano de Inteligência está cercado por policiais devido à concentração de pessoas no local.


Foto: Federico Parra, AFP

Ledezma, de 59 anos, é um dos veteranos da oposição venezuelana, já tendo atuado como senador, deputado e governador do antigo Distrito Capital (Caracas). Ele foi eleito em 2009 e reeleito em 2013 como prefeito de Caracas, região que reúne cinco municípios metropolitanos.

Suas funções foram severamente restringidas pelo governo central da Venezuela. O presidente Maduro acusou Ledezma — ao qual se refere como "El Vampiro" — de ser um dos promotores das manifestações contra o governo que varreram o país entre fevereiro e maio de 2014.

As passeatas terminaram com 43 mortos. Maduro também denunciou o prefeito pelo envolvimento na estratégia conhecida como "la salida", que teria como objetivo derrubar o presidente. O centro da estratégia seria a promoção de multitudinários protestos na ruas. Seu principal promotor, Leopoldo López, outro líder da oposição, está há um ano detido, sob a acusação de incitar a violência.

*AFP

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

CRUELDADE POTENCIALIZADA



ZERO HORA 05 de fevereiro de 2015 | N° 18064


EDITORIAL




A organização terrorista autodenominada Estado Islâmico se esmera em provocar o mundo civilizado com barbáries cada vez mais cruéis. Depois da degola de prisioneiros e de execuções praticadas por crianças, agora os fundamentalistas resolveram queimar vivo um piloto jordaniano, com o requinte de filmar a execução covarde para chocar e aterrorizar os povos que não compartilham de suas crenças.

Não pode haver diálogo com assassinos dessa natureza, como chegou a sugerir a presidente Dilma Rousseff depois de seu discurso na Assembleia Geral da ONU, no ano passado. Na ocasião, a mandatária brasileira criticou os bombardeios de forças aliadas dos Estados Unidos na Síria e no Iraque, defendendo a negociação diplomática como melhor forma de resolver conflitos.

Não nesse caso. Com extremistas sanguinários que desafiam as leis e o bom senso, é absolutamente impossível negociar. O que cabe é o repúdio inequívoco da comunidade internacional às suas práticas e o combate implacável aos criminosos. Não há crença religiosa ou ideologia que justifique crimes hediondos como os que os integrantes dessa organização terrorista vêm praticando sistematicamente.

É revoltante e assustador, mas as nações pacíficas não podem se atemorizar nem transigir diante da crueldade potencializada pela divulgação perversa dos assassinatos. Devem, isto sim, unir-se para combater o mal.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

ROTINA E RECRUTAMENTO DE JOVENS EUROPEUS NO ESTADO ISLÂMICO

G1 FANTÁSTICO Edição do dia 25/01/2015


Jornalista francesa se alista disfarçada no Estado Islâmico. Francesa mostra em documentário a rotina dos combatentes e como o grupo recruta jovens europeus para o terror.





Uma jornalista francesa investigou e descobriu: homens que treinavam luta numa praça de Paris pertenciam ao grupo terrorista Estado Islâmico, que ficou conhecido por decapitar seus prisioneiros.

O documentário que o Fantástico exibiu é o resultado do trabalho corajoso dessa jornalista. Ela se disfarçou, conseguiu se alistar no Estado Islâmico e mostra como o grupo recruta jovens europeus para o terror.

Outubro do ano passado. Crianças brincam numa pracinha de Paris. Entre pais e policiais, um grupo de homens barbados treina técnicas de combate. Eles praticam mesmo à noite ou debaixo de chuva. Poderiam ser apenas atletas dedicados. Mas alguma coisa os faz diferentes. Depois de encerrarem o treino, eles rezam. E a conversa deles revela planos suspeitos.

Extremista1: Ele já foi para a Síria.
Extremista 2: Eu mesmo já fui duas vezes.

A Síria é o berço do Estado Islâmico, o exército terrorista mais agressivo hoje no Mundo. Os extremistas se aproveitaram do vazio de poder criado pela guerra civil e dominaram um terço do país, além de grandes áreas no Norte do Iraque, inclusive campos de petróleo que hoje são usados para financiar o terrorismo.

As ações do Estado Islâmico são difundidas na internet. Vídeos que mostram barbarismos. Assassinatos em massa. Alguns para provocar o Ocidente - como as decapitações de reféns. Outros para exibir a força do grupo.

E a internet também é um instrumento de recrutamento. Usada pelo grupo francês para atrair seguidores dispostos a partir para a Síria para fazer a Jihad, a Guerra Santa contra o Ocidente.

Um dos homens que treinava no parque é Abu Aissa. Ele publica fotos de suas ações, sempre com armamento pesado. Mostra até um passaporte do Estado Islâmico. O outro, Abu Abdel Malik, um francês que vive na Síria e, em vídeo, faz ameaças contra a França, dizendo que será alvo de novos atentados.

“Nós vamos vingar todo o sangue islâmico.”, diz Malik

A arrogância do Estado Islâmico está montada sobre um exército muito bem organizado, 30 mil homens com equipamento militar moderno: misseis, artilharia, tanques e três aviões caça. Tudo roubado da Síria. Cada combatente recebe um salário do Estado Islâmico. Alguns chegam a ganhar um carro. Uma tentação para os muçulmanos pobres das periferias de Paris. Os franceses são os mais numerosos entre os ocidentais que se integram ao Estado Islâmico.

A partir das páginas nas redes sociais, usando um perfil falso, uma jornalista francesa chegou aos recrutadores extremistas. Ela não será identificada por segurança.

Em três dias, a jornalista já estava associada a diversos grupos. E tinha 273 amigos. Principalmente combatentes na Síria e no Iraque. Um deles conta o dia a dia no Estado Islâmico. Ele chegou a publicar uma foto comemorando sua primeira vítima. Os terroristas exibem também uma vida de luxo: roupas, carros e mansões tomadas pelo grupo.

Para se aproximar dos jihadistas, a jornalista diz que está disposta a se casar com um radical quando chegar na Síria. Ela começa a conversar com Abu Tak Tak. Para se encontrar com ele, ela se vestiu com um chador, usada por alguma das mulheres muçulmanas: totalmente coberta de preto, como determina o costume do Islã. Num café da periferia de Paris, ela encontra o terrorista.

“Você está toda de preto. Eu adoro preto”, diz ele.

Abu Tak Tak tem 37 anos. Diz que nunca trabalhou. Ele conta que o Estado Islâmico paga as contas dele. “Eles me mantêm desativado por enquanto", diz.

Pronto para entrar em ação.

“A França tem medo de quê? De que a gente se exploda.”

Ele acredita que a França merece ser alvo de um atentado. Exatamente o que aconteceu no dia 7 de janeiro, quando outro grupo terrorista, a Al-Qaeda do Iêmen, matou 12 pessoas no atentado contra a revista Charlie Hebdo.

Um segundo homem fez contato com a jornalista. Esse já estava na Síria. É um combatente ativo do Estado islâmico. Ele faz uma proposta curiosa: casar-se com ela pela internet com as bênçãos de um imã, um líder religioso. Ela faz contato com o jihadista, que explica o que ela deve fazer: “Vá para Istambul, na Turquia. De lá eu direi o que deve fazer”.

Depois de muitos contatos como esses, a jornalista chegou ao homem que é o líder dos recrutadores para o Estado Islâmico na França: Aba Souleyman. Na página dele na internet, um manual de como atravessar a fronteira da Turquia com a Síria sem chamar a atenção da polícia. Por exemplo, levar pouca bagagem, pois a travessia é feita a pé.

Aba Souleyman tem 25 anos e é casado, mas propõe à jornalista que ela seja a segunda mulher dele na Síria. Ele indica uma mesquita secreta numa cidade no Leste da França, base de operações para os recrutadores do Estado Islâmico. Um deles é Nicolas, que no elevador faz uma revelação aterrorizante: “Em Paris, nós somos muitos”.

Numa das salas, as paredes estão cobertas de bandeiras do Estado Islâmico.
Ele conta que participou de uma ação do grupo numa cidade curda, no Norte do Iraque: "Matamos as mulheres cortando as gargantas”.

Nicolas não nasceu numa família muçulmana. Ele se converteu ao islã há três anos. E diz que vai partir para a Síria em duas semanas. A jornalista parte para a Turquia, o corredor mais comum para os recrutados europeus chegarem à Síria.

São apenas três horas e meia de voo entre Paris e Istambul. E um segundo voo para a cidade turca de Gazientep, próxima à fronteira. No hotel, ela entra em contato com os recrutadores que passam para ela os telefones dos homens que atravessam pessoas pela fronteira.

Do outro lado dessa cerca, é a Síria. A travessia termina na cidade síria de Raqqa, capital do Estado Islâmico. Duzentas mil pessoas vivem sob o domínio do Estado Islâmico desde junho de 2013. Em Raqqa, a jornalista gravou um desfile militar do exército terrorista, tanques e mísseis passavam pela rua. No centro da cidade, um inimigo do regime foi crucificado. E três são fuzilados diante de todos.

Nas ruas da cidade, impera a lei islâmica, a Sharia. Homens fazem as orações no meio da rua, guardas do Estado Islâmico andam com fuzis nos ombros, mulheres caminham totalmente cobertas. Dois homens do Estado Islâmico chamam a atenção dela.

Estado Islâmico:Nós conseguimos ver através do seu véu.
Jornalista: Desculpe, ele é um pouco transparente.
Estado Islâmico: Você precisa se cobrir melhor.
Jornalista: Certo, certo, desculpe.

Num cybercafé, a jornalista encontra diversas mulheres francesas conversando pela internet com suas famílias na França.

“Eu não vou voltar, mãe! Eu me arrisquei para chegar aqui e não vou voltar. O que a senhora vê na televisão é falso”, diz uma delas.

Daqui, os homens vão direto para os campos de treinamento do grupo. Nesses campos secretos, os ocidentais ganham uma nova identidade. Geralmente adotam um nome muçulmano. Foi o que aconteceu com o filho da brasileira Rosana Rodrigues. Brian de Mulder, agora é conhecido como Abu Qassem Brazili, ou Abu Qassem Brasileiro.

Outro brasileiro, Kaíque Guimarães, que morava na Espanha, foi detido na Bulgária, tentando chegar até os campos do Estado Islâmico. Nesses lugares, os jihadistas são endurecidos no combate e viram máquinas de guerra.

Todas as semanas, dezenas de jovens europeus fazem esse mesmo caminho para engrossar as colunas do Estado Islâmico. E virar soldados de uma guerra dita santa, que distorce os princípios da religião islâmica e se torna retrato da barbárie e da ignorância.

domingo, 25 de janeiro de 2015

A EDUCAÇÃO CUBANA EM 18 IMAGENS

Spotniks

Spotniks, 02 de outubro de 2014


Separamos 18 imagens que mostram como a educação é usada como propaganda ideológica no país mais fechado do continente americano.

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A educação cubana é um dos trunfos que vira e mexe rondam a retórica dos defensores do seu modelo econômico como uma das melhores do planeta.

Mas não é nossa intenção aqui apontar o fato de que não há uma mísera universidade cubana entre as 500 melhores do mundo. Ou então dizer que no Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, no quesito educação, o país apareça apenas numa posição mediana, empatado com o Panamá – e atrás, entre outros, de países como Uruguai, Argentina, Barbados e Chile, o líder do continente latino americano, duramente criticado pelo seu modelo privado de educação. Ou elogiar as informações oficiais de que a taxa de analfabetismo no país esteja próxima do zero – assim como países como Letônia, Antígua e Barbuda, Armênia, Andorra e Tajiquistão; isso para não citar os países desenvolvidos. Também não precisamos abordar o fato de que não há um mísero Nobel, uma Medalha Fields e uma Medalha Copley na história de Cuba, citar que a produção acadêmica no país é menor que a de Bangladesh e dizer que no ranking da World Intellectual Property Organization, o país apareça na lista com apenas 10 patentes registradas em 12 meses.

Cuba é uma ditadura e seus dados oficiais não são confiáveis – como os dados de qualquer ditadura. Não há como avaliar a educação do país simplesmente pelo fato dele não possuir indicadores globais especializados em educação - não há dados sobre Cuba no ranking do PISA e de outros exames internacionais respeitados. Mas apesar da muralha, há claros indícios de que ela seja utilizada no país para propagar seus governantes no poder (e você pode conferir em vídeo aqui, aqui e aqui).

Nessa série especial, separamos 18 imagens que mostram como a educação é usada como propaganda ideológica no país mais fechado do continente americano – a terra dos Castros.

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Veja no Spotniks as últimas notícias sobre política, economia e cultura, e receba a melhor cobertura daquilo que acontece no Brasil e no mundo.

O PROCURADOR QUE INCOMODAVA CRISTINA KIRCHNER




ZERO HORA 25 de janeiro de 2015 | N° 18053


NILSON MARIANO | Enviado Especial/Buenos Aires

UM PROMOTOR ADEPTO DA VIDA ZEN


AO LADO DE NÉSTOR, CONTRA CRISTINA. PIVÔ DO MAIS sangrento e misterioso episódio da história recente da Argentina, o promotor Alberto Nisman, que foi encontrado morto com um tiro no crânio, passou de aliado a inimigo do oficialismo da família Kirchner


A morte do promotor federal Natalio Alberto Nisman instalou a maior crise política nos 11 anos de governo do casal Kirchner. Desde a madrugada de segunda-feira, os argentinos se debatem em torno de uma dúvida que já ganha contornos de mistério: foi suicídio ou assassinato?

Mas quem era Alberto Nisman – preferia não ser chamado de Natalio –, encontrado morto com um tiro na cabeça no apartamento onde morava, no elegante bairro de Puerto Madero, em Buenos Aires? Aos 51 anos, divorciado, pai de duas filhas, portava-se como um portenho de hábitos singulares. No exercício da profissão, mostrava-se em ternos sóbrios, as gravatas com detalhes em azul (cor símbolo do país), nos tons claro ou escuro. Considerado um promotor corajoso, não aliviava com os poderosos à margem da lei.

Na vida privada, Nisman mudara de estilo. Devido a uma lesão lombar, abandonara as corridas. Estava maravilhado com os efeitos do método zen de se exercitar. Quase todos os dias, concentrava-se como um monge no ritual da respiração hindu: inalar, reter o ar e exalar. Quando a agenda permitia, tratava de seguir os ensinamentos do livro A Arte de Viver.

Era de família abastada o promotor que morreu às vésperas de apresentar denúncia contra a presidente, Cristina Kirchner, em razão do atentado terrorista contra a sede da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em 1994, na capital do país. O pai, empresário do ramo têxtil, patrocinou o curso de Direito na Universidade de Buenos Aires. Estudioso, tinha notas acima de oito.

No condomínio onde Nisman vivia, o Le Parc Puerto Madero, o clima é de consternação. Uma pequena faixa, afixada na guarita de entrada com cadarços de tênis, expõe um clamor: “Justiça”. Num dos postes, hastearam a bandeira nacional a meio pau, em sinal de luto. O automóvel do promotor, um Audi, está à vista, exibindo o lacre de apreendido da Polícia Federal.

Os vizinhos de Nisman saem apressados das torres residenciais, levando seus cães, sem olhar para os repórteres diante do condomínio. Na manhã de sexta-feira, ao ser abordada, uma jovem parou e tirou os fones de ouvidos para conversar. Quando soube do assunto, desculpou-se.

– Sinto, não quero falar.

A carreira de Nisman deslanchou justamente durante o governo do clã Kirchner. Em 1997, era apenas um dos promotores que investigavam o atentado contra a Amia, que deixou 85 mortos. Em 2004, o recém-empossado Néstor Kirchner o designou para chefiar as apurações, com plenos poderes.

Nisman foi a fundo. Logo descartou uma eventual participação da Síria, apostou que as bombas contra a instituição judaica foram acionadas por criminosos do Irã. Em 2008, surpreendeu o país ao pedir a detenção de ninguém menos que o ex-presidente Carlos Menem. Acusação: obstruir as investigações e fabricar provas falsas.

Foi a partir daí que o promotor começou a colecionar inimigos ocultos e a se enredar na teia de intrigas que move a política argentina. Disseram que tentou inculpar Menem para cair nas graças de Cristina Fernández de Kirchner, a sucessora do marido, Néstor. O objetivo, segundo os maledicentes: conquistar a chefia da Procuradoria Geral da Nação.

O promotor, porém, mostrou que não era manipulado pelos cordéis do kirchnerismo. Afastou-se de Cristina quando o governo firmou um pacto com o Irã, em 2013. Entendeu que a mandatária pretendia encobrir os autores ideológicos do atentado antissemita, em troca de compensações econômicas por parte de Teerã.

O escritório de Nisman, na Promotoria Federal do Caso Amia, é vizinho ao gabinete de Cristina na Casa Rosada. Ambos estão de frente para a Praça de Maio, no coração de Buenos Aires. Soldados com armas pesadas guardam o local.

Os colegas de Nisman também emudeceram, pelo menos na sexta-feira, quando foram procurados. Porteiros esclareceram que nenhum jornalista poderia entrar no prédio. Os promotores estão estarrecidos com a morte, que ocorreu quando faltavam 12 horas para Nisman denunciar a presidente Cristina e o seu chanceler, Héctor Timerman, no Congresso Nacional.


À sombra da Side

Se houve crime na morte de Alberto Nisman, uma organização precisará ser investigada: a Secretaria de Inteligência de Estado (Side). Herança da ditadura militar (1976-1983) da Argentina, a mais sangrenta da América do Sul por ter produzido cerca de 30 mil mortos e desaparecidos, a sinistra Side não foi totalmente desmontada com a redemocratização. Numa situação difícil de entender, auxiliava a equipe de Nisman nas investigações sobre o atentado antissemita contra a Amia.

O promotor era próximo do homem forte da Side, Antonio Stiusso, o Jaime. Temido nos subterrâneos da espionagem, Stiusso foi afastado do organismo em dezembro, depois de várias tentativas de parte de Cristina Kirchner. A partir de então, coincidência ou não, aumentaram as inquietações de Nisman.





UM DIA QUE NÃO TEVE FIM

HAMILTON ALMEIDA* | Especial *

O maior atentado terrorista da história argentina – e segundo maior das Américas, só ficando atrás do tristemente célebre 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos – deixou feridas que não cicatrizam e voltam a sangrar, clamando justiça. Aquela segunda-feira, 18 de julho de 1994, amanheceu como um dia normal, ensolarada e um pouco fria. No centro de Buenos Aires, muitos já estavam trabalhando, outros tomavam café com medialunas nos bares e comentavam sobre futebol, uma das paixões argentinas.

No dia anterior, a Seleção Brasileira sagrara-se tetracampeã, nos Estados Unidos, ao derrotar a Itália nos pênaltis. Esse foi o assunto que levou o jornalista Lasier Martins, da Rádio Gaúcha, a fazer uma entrevista ao vivo comigo, então correspondente de Zero Hora em Buenos Aires. Comentei que havia visto uma pelada de guris em frente ao edifício da Embaixada do Brasil, uns vestindo a camiseta amarela, outros a azul celeste ou qualquer cor, tudo misturado. Felizes. No mais, os argentinos ainda estavam melancólicos com a desclassificação precoce da sua equipe, nas oitavas de final, após um caso de doping do ídolo Maradona, que jogava sua última Copa.

Por volta das 10h, escutei a Rádio Mitre divulgar em poucas palavras que havia ocorrido um atentado contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia): “É lamentável. Mais uma vez...”, anunciou o locutor. Para checar, liguei para a sede da instituição judaica. Nunca pude esquecer aquele desesperado som de “chama e ninguém atende”. Foi então que a manhã, que eu imaginava morna, se transformou em um pesadelo. Saí do escritório da RBS, na Rua Reconquista, e peguei um táxi. Na Avenida Córdoba, depois do Obelisco, o trânsito incomum já refletia o drama que ocorria poucos quilômetros adiante.

Desci do automóvel e fui caminhando e correndo até a Rua Pasteur, 633. Às 9h53min, uma caminhonete Renault Trafic carregada com uma quantidade estimada entre 300 e 400 quilos de um composto de nitrato de amônio, alumínio, hidrocarboneto pesado, TNT e nitroglicerina explodiu em frente ao edifício da comunidade judaica, provocando a morte de 85 pessoas e ferimentos em outras tantas.

UMA NUVEM DE PÓ PAIRAVA NO AR. E A DOR, MUDA

Cheguei à cena de guerra às 10h30min. O cadáver de uma mulher com uma roupa modesta, um vestido colorido, estava estirado na calçada, a uma centena de metros do local da explosão do carro-bomba, refletindo a insanidade do ato terrorista. Ela certamente estava passando por ali quando tudo aconteceu. O edifício era uma montanha de escombros, e uma dezena de pessoas já se dedicava a buscar sobreviventes. Uma nuvem de pó pairava no ar. E a dor, muda.

Aproximei-me o mais que pude para, depois, poder escrever. Ao mesmo tempo, imagens de pessoas que conhecia vinham martelando a minha cabeça. Estariam mortos? A angústia seria em parte sanada nos dias seguintes da cobertura. Traumatizados e desconfiados, talvez tenham julgado mal o sorriso no canto dos lábios que esbocei ao revê-los. Quem eu nunca mais vi sorrir foi a jovem Marisa Raquel Said. Tinha uns 21 anos e trabalhava na recepção da Amia. Talvez a sua última imagem na Terra tenha sido a aproximação suspeita da Trafic.

Foi ela quem me atendeu, simpática, meses antes, quando fui fazer uma reportagem sobre os nazistas na Argentina. Os arquivos estavam lá, no quinto andar. Vi documentos de vários deles, como o médico de Auschwitz, Josef Mengele, que morou a algumas quadras do Obelisco, quando chegou à Argentina de Perón, ocupou outras residências em suas constantes fugas até que morreu em Bertioga (SP).

Dois anos antes da Amia, em 17 de março de 1992, a Argentina havia sofrido outro atentado terrorista, que destruiu a embaixada de Israel, na Rua Arroyo, centro, matando 22 pessoas. “Por que a Argentina na rota do terror internacional?”, se perguntava. Também tive a oportunidade de fazer a cobertura para ZH desse evento, que permanece impune.

Desde aquela época, já circulava entre a imprensa que o Hezbollah, a serviço do Irã, estava por trás de tudo. Procurei várias vezes ouvir uma autoridade do Irã em Buenos Aires, Mohsen Rabbani, conselheiro cultural da embaixada. Ele nunca atendeu: fugiu do país e tem mandado de prisão da Interpol. Na denúncia de Alberto Nisman, Rabbani é acusado de participar das negociações comerciais com as autoridades argentinas envolvidas no plano macabro. Ele interveio, escreveu o promotor, para garantir a própria impunidade. O ciclo se fecha?

 Hamilton Almeida foi correspondente de Zero Hora em Buenos Aires de 1994 a 1995



sábado, 24 de janeiro de 2015

MISTÉRIO ARGENTINO

REVISTA ISTO É N° Edição: 2356 | 23.Jan.15


Como a morte do promotor Alberto Nisman, na véspera de depor no Congresso contra a presidente Cristina Kirchner, dificulta ainda mais os planos do governo em um ano de eleições presidenciais

Mariana Queiroz Barboza





A feita às grandes tragédias melodramáticas que povoam as letras de seus tangos mais desbragados, a Argentina está atônita diante de um mistério policial ao melhor estilo de Agatha Christie. Entre os personagens principais dessa trama estão a presidente Cristina Kirchner, agentes secretos iranianos e o promotor federal Alberto Nisman, encontrado morto com um tiro na cabeça no banheiro de seu apartamento na madrugada da segunda-feira 19. Como todo bom romance policial, uma série de perguntas permanecem sem resposta e, a cada dia, a tese de que Nisman, um inimigo declarado de Cristina, se suicidou, como apontaram as autoridades policiais antes mesmo de o corpo do promotor esfriar, fica mais fraca. Na quinta-feira 22 a própria presidente argentina declarou que não acreditava mais na tese de suicídio. “Ele foi morto para prejudicar o governo”, afirmou Cristina Kirchner em um texto publicado em seu blog. Tudo isso a menos de nove meses das eleições que vão escolher o próximo presidente do país.


DÚVIDA
Mais de 70% dos argentinos não creem que Nisman se suicidou

Faltavam poucas horas para o promotor federal Alberto Nisman depor no Congresso argentino sobre uma denúncia que havia feito contra o governo, quando foi encontrado morto. Nisman passara os últimos dez anos em dedicação exclusiva à investigação de um atentado à principal associação judaica do país, a Amia, ocorrido em 1994. Na denúncia, ele concluía que os responsáveis pela morte de 85 pessoas eram terroristas iranianos e acusava a presidente Cristina Kirchner e o chanceler Héctor Timerman de acobertá-los com o objetivo de fechar acordos comerciais vantajosos com o Irã.

A morte de Nisman suscitou suspeitas quase de forma imediata, principalmente pela decisão apressada das autoridades em determinar que o procurador havia cometido suicídio. Nisman não dava nenhum sinal de que pretendia tirar a vida. No lugar de uma carta de despedida, em seu apartamento havia apenas uma lista de compras. Em vez de convocar a cadeia nacional de rádio e tevê, como costuma fazer, Cristina se pronunciou apenas por uma mensagem. “Um suicídio provoca, em primeiro lugar, estupor e depois perguntas”, escreveu.

No mesmo dia, milhares de pessoas foram às ruas fazer essas perguntas. Uma pesquisa do instituto Ipsos mostrou que 70% dos argentinos acreditam que Nisman foi assassinado e, para mais da metade deles, o governo é o responsável pelo crime. “O mais difícil será o governo provar que não tem nada a ver com isso para o imaginário coletivo, e não para a Justiça”, disse à ISTOÉ o analista político Raúl Aragón.



Cristina Kirchner seria acusada formalmente
por Nisman, no Congresso, na segunda-feira 19

O clima de desconfiança piorou quando a promotora Viviana Fein, que conduz as investigações da morte de Nisman, disse que “lamentavelmente” não foram encontrados vestígios de pólvora na mão da vítima. Outros pontos mal explicados aumentaram as dúvidas. O chaveiro que abriu o apartamento, a pedido da mãe de Nisman, disse que a porta de serviço não estava trancada e qualquer pessoa poderia tê-la aberto, contrariando a informação inicial de que o apartamento do procurador estava trancado por dentro. Ao “Clarín”, jornal oposicionista, Nisman havia dito que temia ser morto. Na quinta-feira 22, a presidente argentina mudou de ideia e se disse convencida de que se tratava de um assassinato.

Ainda é cedo para se descobrir o que de fato aconteceu com Nisman, mas, pela velocidade com que novos fatos têm vindo à tona, tudo parece levar a crer que o procurador não decidiu tirar a vida. Mas, independentemente da descoberta da verdade, uma coisa é certa: a morte de Nisman ficará ligada de forma indelével à atual presidente argentina.





21 anos depois, atentado não foi esclarecido



Com a maior comunidade judaica da América Latina, a Argentina nunca esqueceu o ataque à sede da Associação Mutual Israelita Argentina, em Buenos Aires, ocorrido na manhã de 18 de julho de 1994. A explosão de um carro-bomba deixou 85 mortos e mais de 300 feridos no local. O caso, no entanto, sofreu com a destruição de provas e nunca foi encerrado. O atentado terrorista teria sido orquestrado pelo grupo libanês radical Hezbollah e pelo governo do Irã, com a ajuda de policiais argentinos. Em 2006, a Justiça responsabilizou cinco iranianos e um libanês pelo ataque: todos funcionários do alto escalão do governo ou da Embaixada do Irã em Buenos Aires. O grupo é procurado pela Interpol (polícia internacional) desde então, mas ninguém foi preso. O país persa sempre se negou a colaborar com as investigações.

Fotos: Marcelo Capece, Juan Mabromata- afp; Alejandro Pagni/ap