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sábado, 6 de dezembro de 2014

COIOTES AJUDAM GANESES A ENTRAR NO BRASIL

ZH 16/07/2014 | 04h02

Intermediários cobram até R$ 9 mil de ganeses por "ajuda" na viagem. Pacote de auxílio inclui passagem aérea de vinda ao Brasil, passagem rodoviária para alguma cidade onde possam trabalhar e ajuda com documentos. PF investiga se existe esquema criminoso na migração

por Humberto Trezzi, de Criciúma (SC)



O ganês Fawar Adams chegou há dois anos no Brasil e agora ajuda conterrâneos a conseguir casa e emprego Foto: Mauro Vieira / Agencia RBS


Quem recebe os ganeses que chegam ao sul do Brasil? Quem providencia hospedagem e ensina a eles o passo a passo da burocracia para ficarem? Outros ganeses, que inclusive os esperam nas estações rodoviárias. Mas o que a Polícia Federal (PF) investiga é se existe um esquema criminoso por trás dessa migração.

Os policiais temem que os migrantes de Gana apelem, por exemplo, para casamento com brasileiras, mesmo tendo outra esposa na África — no mundo muçulmano, é permitido ter quantas mulheres possa sustentar. Seria garantia de permanência no Brasil e até de cidadania. Há precedentes desse estratagema entre outros grupos de africanos que migraram para o sul do Brasil.


Eles pagam até US$ 4 mil (cerca de R$ 9 mil) por um pacote que inclui passagem aérea ao território brasileiro (só de vinda), passagem rodoviária para alguma cidade onde possam trabalhar e ajuda com documentos — além de acenos de emprego, nem sempre confirmados.

A Secretaria de Defesa Social de Criciúma (SC), mediante entrevistas com os ganeses, identificou alguns dos intermediários que recebem os compatriotas africanos e os hospedam no Brasil, mediante alguma remuneração. O material foi repassado à PF, que investiga se isso configura tráfico humano (artigo 206 do Código Penal). Para caracterizar essa situação teria de ocorrer trabalho escravo (até agora isso não foi constatado), falsidade ideológica (no uso de documentos ou na própria declaração de refugiado, que será investigada) ou até estelionato (se o intermediário garante algo que não possa cumprir, como emprego). O delegado que cuida da questão dos migrantes em Criciúma, Nelson Napp, prefere não comentar as investigações.

Assistência começa em São Paulo


Zero Hora falou com um dos ganeses cujo nome foi repassado à PF. É Fawar Adams, que muitos chamam de Abu. Ele aluga uma das três casas em que estão os ganeses no bairro Pinheirinho, em Criciúma, e reloca a residência para 10 compratriotas. Ficam amontoados ali. Barbeiro no seu país, Adams improvisou também cortes de cabelo para os conterrâneos, por módicos R$ 5.

Adams está há dois anos em Criciúma e afirma que ajuda seus companheiros. Cala quando questionado se recebe para colocá-los no mercado de trabalho. Ele admite apenas cobrar o aluguel e desconversa, irritado, quando questionado se é “coiote” (contrabandista de seres humanos). Sincero, em um português rudimentar, ele refuta a afirmativa de muitos ganeses de que são perseguidos em seu país.

— Olha, brasileiro, não temos grandes conflitos lá. No fight, no war, but no job too (não temos lutas, nem guerras, mas tampouco temos empregos). Viemos em busca de trabalho honesto.

Adams foi precedido, em território brasileiro, por um irmão que é apontado por muitos ganeses ouvidos por ZH como um dos líderes da migração de conterrâneos. É Mantala, cujo nome de batismo é Abalansa Adams, um comerciante de roupas que mora em Campinas.

Nas redes sociais, Abalansa alterna fotos em que aparece recebendo compatriotas em aeroportos e também exibindo seus produtos (tênis de marca). Tudo isso é monitorado pela PF. Mas os policiais reforçam que ajudar migrantes não é crime, delito é fazer promessas não-cumpridas ou extorquir. Algo que será investigado.


Suraiman Mustafá (E) é jogador de futebol em Gana e quer se profissionalizar no Brasil

“Economizei mais de dois anos para pagar a passagem”

A bola é o ganha pão de Suraiman Mustafá, 24 anos (na foto acima, à esquerda). Misturado aos outros ganeses que se amontoam numa pensão em Criciúma, ele logo é apontado pelos demais como um sujeito com potencial para dar certo. Isso porque é jogador profissional de futebol. Em Gana, isso significa meio expediente jogando e outro turno na construção civil. A meta é se profissionalizar no Brasil.

Zero Hora — Como o senhor veio parar no Brasil?
Suraiman Mustafá — Com uma ajuda dos amigos, como dizem os
Beatles. A gente gasta uns US$ 2,5 mil. Chega em São Paulo, fica na rodoviária, dorme lá mesmo e depois vem para Criciúma. Economizei mais de dois anos para pagar a passagem.

Zero Hora — Quem foram os intermediários?
Suraiman Mustafá — Amigos (reticente), amigos...

Zero Hora — O que o senhor fazia em Gana?
Suraiman Mustafá — Jogo futebol. Sou centromédio, mas posso também ser atacante. Sei que em Criciúma tem um time que foi campeão brasileiro. Estou à disposição. Jogava no Tudu Mighty Jets (segunda divisão ganesa. ZH não encontrou o nome dele na lista de jogadores).

Zero Hora — O senhor ganhava quanto?
Suraiman Mustafá — Pouco, muito pouco. Uns US$ 150 mensais como jogador. E outros US$ 100 como pedreiro, na construção civil. É pouco, mas lá dá para viver. Quero viver melhor, aqui. Trazer minha família, no futuro. Meu irmão, que joga como atacante, veio comigo. Querem nos contratar? (risos).

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