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segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

UM MOSCARDO

 

ZERO HORA  29/12/2014 | 03h29


David Coimbra: xingado pelos leitores
Colunista escreve de segunda a sábado em ZH





por David Coimbra


Sócrates, o filósofo, dizia de si mesmo que era um moscardo. Ou seja: uma dessas moscas grandes, que estão sempre incomodando. Com isso, reconhecia ser um chato – por causa, basicamente, de seu método investigativo da alma humana e da sociedade, que ele chamava de “parto de ideias”.


Esse parto funcionava assim: Sócrates abordava um cidadão ateniense na rua e jogava-lhe no colo uma pergunta simples e conceitual. “O que é a sabedoria?” “De onde vem a coragem?” O interlocutor respondia e Sócrates contestava, ele era bom em contestar. O sujeito rebatia e ele contra-argumentava em cima de alguma falha do seu raciocínio. E assim prosseguia com perguntas, respostas e novas perguntas, até chegar ao núcleo da questão ou, o que era mais usual, enfurecer o outro, que só queria ir ali ao mercado, comprar uma escrava nova que havia chegado da Trácia. Tenho fortes suspeitas de que Sócrates foi morto, mesmo, mesmo, devido a essa sua mania irritante.


Não quero me comparar a Sócrates, por amor de Deus!, mas aprecio esse método da busca da verdade pelo debate. Gosto do debate. Lanço uma ideia, vem alguém e a critica, pergunto a razão e vamos em frente. Se o outro tem um bom estoque de argumentos, pode muito bem me convencer de que estou errado, o que sói acontecer, porque sói acontecer de eu estar errado. Mas, lamentavelmente, as pessoas não debatem. Não ponderam sobre o que o outro está dizendo. Não argumentam. Elas logo atacam o debatedor, acusam-no de ser isso ou, o que é pior, aquilo e, aí, em vez de luzes, o que sobrevém são trevas.


Sei qual é a razão disso. É porque as pessoas empunham bandeiras. Não é possível compreender o que alguém está dizendo se você está tremulando uma bandeira. Por esse motivo, não me filio a movimento algum, por justo que seja. O movimento pode ter a minha simpatia, jamais a minha adesão, porque preciso ter espaço para pensar. É uma deficiência minha, essa de ter tantas dúvidas.


Exatamente devido à minha ignorância, queria debater com pessoas mais preparadas do que eu. O problema é que essas pessoas mais preparadas são também as mais suscetíveis à contestação. Elas ficam fulas à primeira crítica e já me chamam de tudo o que é ruim, dizem até que eu era mau zagueiro. Triste. Não sou nem jamais serei um Sócrates, mas suspeito de que eu seja um moscardo.


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