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segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

VIVENDO SOB O EI



ZERO HORA 07 de dezembro de 2014 | N° 18006

O CALIFADO DO TERROR


“Vulcões prestes a explodir”, mulheres são obrigadas a ocultar até os contornos do corpo. Crianças são estimuladas a denunciar os pais por atitudes anti-islâmicasUm café situado numa casa de paredes cor de areia da era otomana na Cidade Velha, em Sanliurfa, Turquia, é o ponto de encontro escolhido por um grupo de refugiadas sírias para organizar uma das mais dolorosas missões do exílio: fornecer apoio psicológico a traumatizadas de guerra. Em volta de uma mesa branca de PVC, a organização criada em agosto sob o nome de União de Mulheres Sírias pela Paz atende cerca de uma centena de deslocadas pelo conflito. Além de assistência social, o grupo fornece treinamento profissional (muitas das atendidas tornaram-se arrimo de família após a morte de parentes) e informações sobre cuidados com a saúde. Uma das presentes diz que, entre as cerca de 300 mulheres atendidas, algumas se assemelham a “vulcões prestes a explodir”.


Apesar das limitações, o serviço da União de Mulheres Sírias pela Paz supera a assistência disponível em muitas cidades sírias assoladas pela guerra. Em seus lugares de origem, como Raqqa, Hasaka e outras, hoje controladas pelo Estado Islâmico (EI), a situação das mulheres é ainda mais desesperadora. Uma das presentes, de cerca de 20 anos, cabelos e olhos negros e véu vermelho, descreve o destino de sua antiga escola num cidade próxima de Raqqa:

– Inicialmente, todos os professores foram obrigados a assistir a cursos de Sharia (lei islâmica). Depois, as escolas foram simplesmente fechadas. A que frequentei foi transformada em prisão.

A coordenadora do grupo, Falak Hassan, de Raqqa, sente na própria família os efeitos do jugo do EI. Um de seus filhos foi preso pelos guerrilheiros, e ela não tem notícias dele. Ex-professora de escola pública afastada pelo regime de Bashar al-Assad, Falak compartilha com as companheiras pontos de vista contundentes a respeito da situação política em seu país. Para ela, a grande tragédia da Síria iniciou-se muito antes do aparecimento do EI: é a ditadura de Hafez al-Assad, que morreu em 2000 e foi sucedido pelo filho, Bashar. Isso quer dizer que, para as mulheres, o regime foi pior do que o EI? Falak pensa por alguns segundos antes de responder:

– Sob o regime, as mulheres viviam assim (cobre a boca com as mãos, simulando uma mordaça). Com o EI, elas têm de andar cobertas dos pés à cabeça. A diferença não é tão grande.

Uma das voluntárias revela o que parece ser a mais recente invenção do EI em sua cidade. A partir de agora, diz, as mulheres não devem apenas cobrir o rosto e o corpo, mas adotar um traje que oculta até mesmo a linha dos ombros.

– Eles entendem que a mera insinuação do contorno do corpo feminino deve ser proibida – afirma.

Avesso a qualquer forma de ditadura, o advogado Mumtaz Hassan, de Hasaka, afirma que, no início da revolução, em 2011, o regime tomou a iniciativa de libertar fundamentalistas presos e permitir a passagem de ativistas estrangeiros pelas fronteiras com o intuito de dividir a oposição. Muitos desses ex-encarcerados, sustenta, juntaram-se à Frente al-Nusra, ramo sírio da Al-Qaeda, e depois ao EI.

– O mais importante benefício colhido pelo regime com a islamização da revolução seria a mudança da atitude da opinião pública internacional. Em vez de apoiar a oposição, o mundo pensaria: “Esses indivíduos querem implantar um Estado radical” – diz Hassan.

Gerente de uma rádio FM e responsável por um site cultural em três idiomas (árabe, curdo e inglês), Mustafá Abdi, de Kobani, afirma que o horror não é a única arma do EI para angariar apoio:

– Eles tentam atrair os jovens com dinheiro. Há caos na Síria. Por muitos anos, as pessoas não conseguem obter meios de viver e precisam de dinheiro. O EI pode comprar sua adesão. Ao mesmo tempo, quando chegam a uma cidade ou vila, seus homens se apropriam de tudo: casas, lojas, carros. Muitas pessoas somam-se a eles para obter vantagens econômicas.

Em Raqqa e outras cidades, o EI criou uma polícia religiosa, a Al-Hisbah, com poder para fiscalizar a retidão moral da população. Casamentos e eventos musicais são cerceados ou diretamente proscritos. Segundo as Nações Unidas, até mesmo crianças são incentivadas a denunciar seus pais por atitudes supostamente anti-islâmicas.

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