Revelamos aqui as causas e efeitos da insegurança pública e jurídica no Brasil, propondo uma ampla mobilização na defesa da liberdade, democracia, federalismo, moralidade, probidade, civismo, cidadania e supremacia do interesse público, exigindo uma Constituição enxuta; Leis rigorosas; Segurança jurídica e judiciária; Justiça coativa; Reforma política, Zelo do erário; Execução penal digna; Poderes harmônicos e comprometidos; e Sistema de Justiça Criminal eficiente na preservação da Ordem Pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

DOIS BRASIS

Sérgio Becker, Jornalista e escritor - ZERO HORA 30/04/2012

Ainda que passe despercebida e não receba nem um “Sobre ZH”, a foto de Ronaldo Bernardi publicada na página 30 da edição de 25 de abril e que ilustra a matéria “Homens buscam abrigo no lixo” é emblemática, pois denuncia parte da tragédia social vivenciada a cada inverno. A matéria trata de dois marginais que buscaram abrigo do frio e foram dormir dentro de contêineres de lixo. Um deles só não foi liquidificado porque gritou quando o caminhão ergueu o contêiner para despejar seu conteúdo na carroceria.

O fato, adequadamente caracterizado por ZH como “triste proteção”, permite várias conclusões. A primeira delas é que no Centro Histórico da Capital se evidencia a existência de dois Brasis: o moderno, da coleta de lixo informatizada, e o da extrema miséria, que leva despossuídos a se abrigarem em recipientes destinados ao lixo. Embora o seu elevado custo, os contêineres foram implantados sob a justificativa de que resolveriam o problema do recolhimento do lixo no Centro e fariam a provinciana Capital ingressar na Modernidade. E, também, porque reduziriam a forma desumana, segundo as autoridades, do recolhimento manual, em que os garis correm desesperadamente atrás do caminhão recolhedor. (No Brasil é assim, para economizar combustível se escravizam trabalhadores.)

Mas os contêineres trouxeram alguns novos problemas. Desempregaram centenas de garis, estenderam para cinco ou mais dias o incômodo e o mau cheiro do lixo na calçada e, óbvio ululante, desagradaram a todos que os têm defronte de seus lares ou de suas lojas. De positivo, facilitaram o trabalho dos catadores, que ao invés de precisar peregrinar entre sacos e sacolas, encontram farto material em poucos pontos de coleta. Aliás, o interessante é que, em 240 anos de história, o poder público tolere os carrinheiros e os sem-carrinho, sem nunca ter tido a preocupação em cadastrá-los e organizá-los, embora sejam agentes econômicos de peso em seu conjunto, haja vista a proliferação de depósitos de compra de material reciclável ao longo da Voluntários da Pátria e transversais, abastecidos diariamente por esta mão de obra barata e irregular.

E, por fim, mostra como o mobiliário público urbano é visto por grande parcela da população, denuncia o fracasso das políticas sociais e revela a gravidade da questão da falta de educação e de informação. Afinal, buscar abrigo num contêiner é como cortar as unhas num moedor de carne. Há momentos, e eles são muitos, em que o conhecimento, por mais singelo que pareça, torna-se vital.

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