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sábado, 30 de novembro de 2013

O MAL DE CALLIGARIS

ZERO HORA 30 de novembro de 2013 | N° 17630


ARTIGOS


 Gilberto Schwartsmann*



Há alguns dias, leitores de ZH fizeram críticas às opiniões veiculadas pela jornalista Rosane de Oliveira e pelo escritor Luis Fernando Verissimo, no que diz respeito às condenações de políticos envolvidos no processo do mensalão. Confesso que me identifiquei mais com a posição dos leitores. Mas isto não tem a menor importância.

Minha opinião contrária aos colunistas não me impede de admirá-los. Ao contrário, suas opiniões fizeram-me refletir sobre meu próprio pensamento. Ninguém morreu ou deixou de ser respeitado por causa disso. Em outras palavras, é saudável divergir.

Recentemente, assisti a uma discussão entre políticos pela televisão. Contudo, não percebi entre os debatedores um desejo genuíno de trocar ideias ou que a qualidade da argumentação de um pudesse impactar no modo de pensar do outro. Longe disto.

Eles não debatiam suas diferentes formas de pensar. O que presenciei foram monólogos em sequência, impenetráveis, sem a menor chance de reconciliação entre os diferentes pontos de vista. Todos, sem exceção, revelavam uma incapacidade de reconhecer qualquer mérito no contraditório.

Tenho pensado sobre essa incapacidade de tolerar a divergência, que muitos de nós temos. Opiniões diferentes são muitas vezes recebidas como uma declaração de guerra. Desta forma, fica muito difícil crescer. Nas relações afetivas, a incapacidade de ouvir e respeitar a opinião do outro já acabou com muitos casamentos.

Imagino que o mesmo ocorra na política, pois os projetos estruturais de uma nação dependem do apoio dos diferentes segmentos da sociedade. E para isto é fundamental que as diversas correntes de pensamento sejam ouvidas e suas razões analisadas. É assim que se constrói um verdadeiro pacto social.

O debate travado pelos políticos deu-me a sensação de que eles não buscavam uma alternativa que melhor representasse os interesses coletivos. Cada um, do seu jeito, desejava ouvir a própria voz, sem ser contestado. Havia mais interesse em desconstruir os argumentos dos outros do que em analisar o seu conteúdo.

De onde viria a nossa incapacidade de conviver com quem discorda de nossas opiniões? Que mecanismos emocionais seriam responsáveis por esse tipo de atitude? Em artigo recente, o psicanalista Contardo Calligaris sugere que essa sensação ruim que aflora dentro de nós quando alguém discorda de nosso ponto de vista tem a ver, lá no íntimo, com uma vivência de abandono. Como se o outro, ao divergir, não desejasse mais ficar ao nosso lado.

Discordar, então, tornar-se-ia uma experiência vivida, inconscientemente, como uma traição. Talvez por isto, quando alguém “ousa” divergir de nossa opinião, ficamos irritados ou agressivos. Pois aquele que discorda de nosso pensamento é percebido, emocionalmente, como quem nos abandona. E, para muitos, esse sentimento é intolerável.

Não sei se a abordagem psicanalítica explicaria todas as razões de nossa incapacidade em tolerar opiniões contrárias. Mas seria muito saudável se as pessoas exercitassem um pouco mais sua capacidade de refletir sobre a opinião dos outros. Desta forma, as amizades e os amores seriam mais duradouros. O trabalho renderia mais. Nem falar no sucesso de nossos projetos políticos.


*MÉDICO E PROFESSOR



Contardo Calligaris

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