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quinta-feira, 15 de agosto de 2013

AULA DE HONESTIDADE

ZERO HORA 15 de agosto de 2013 | N° 17523

JAQUELINE SORDI

BOM EXEMPLO

Eles dão aula de honestidade. Meninos encontram carteira com R$ 1,5 mil e devolvem a idosa na Capital


Em uma turma de alunos do primeiro ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Ana Íris do Amaral, no bairro Protásio Alves, a professora pergunta: – Se encontramos algo que não é nosso, o que fazemos? – Devolveeeeeemos – respondem em coro os 19 alunos. – E como se chama esse valor? – Honestidadeeeeeee – gritam as crianças, com idades entre seis e sete anos.

Na tarde de ontem, eles tinham a resposta na ponta da língua. Minutos antes, haviam recebido a visita dos personagens de uma história que emocionou a comunidade na última segunda-feira. O estudante Lucas Eduardo dos Santos Rosa, 12 anos, virou um exemplo ao devolver a uma idosa uma carteira com R$ 1,5 mil, que ela havia perdido horas antes. Apesar de ter virado celebridade, o menino tímido encara a situação com simplicidade surpreendente:

– Eu fiz porque era o certo. Imaginei que ela iria precisar do dinheiro para pagar as contas, ir aos médicos.

Lucas tinha razão. Evanir Azambuja Vieira, 74 anos, havia saído na manhã de segunda-feira para pegar o dinheiro que seria usado para pagar as contas do mês. Viúva há sete anos e aposentada há mais de duas décadas, vive sozinha, com renda bem apertada para o seu custo de vida. Por isso, ao chegar em casa e se dar conta de que o bolso do casaco estava rasgado – e que, por ele, o sustento mensal tinha deslizado –, Evanir se desesperou:

– Fiquei louca. Sem dinheiro, sem carteira. Como ia pagar as contas? E comprar remédios? – relembra.

Sorte dela que, minutos depois, o desespero foi substituído pela alegria. Evanir recebeu uma ligação da escola onde Lucas estuda, comunicando que o dinheiro estava lá. Em boas mãos. Lucas encontrou a carteira ainda no início da manhã, quando ia a pé, com o irmão, Oseias, e um amigo, para a escola. No caminho, tropeçou em algo que parecia uma pedra.

– Estava duro, porque estava cheio de moedas – conta o menino.

Ao ver que se tratava de uma carteira, ele a pegou e começou a analisar. Logo encontrou um número de telefone, a identidade e o valor. Mostrou para o irmão e o amigo, e começaram a pensar o que fazer. Apesar da tentação em ficar com o dinheiro – Oseias sonha com um Playstation –, a primeira ideia foi entregar para a polícia, mas o irmão de Lucas logo descartou.

Família vive com renda inferior a dois salários

Lucas queria ligar para Evanir, mas estava sem celular. Então decidiu levar a carteira até a escola e mostrar para a professora. Ela logo encaminhou o pertence para a secretaria, que ligou para a dona. Quando Evanir encontrou o menino pronto para entregá-la, emocionou-se:

– Tão pequeno e com toda essa honestidade. É muito bonito. Às vezes, pessoas da nossa própria família não devolvem o dinheiro.

Lucas, mais contido, conta que foi “legal” devolver o pertence.

– Ela ficou muito feliz, chorou de emoção. Fiquei muito emocionado também, mas não chorei. Não sou mais chorão – conta Lucas, com os olhos marejados.

O gesto chamou a atenção dos professores e da direção da escola, onde estudam alunos oriundos de famílias com dificuldades financeiras. Lucas e Oseias moram apenas com o pai Eneas, 37 anos, que trabalha com obras. Há sete anos, a mãe foi embora. No ano passado, a casa onde moravam, toda de madeira, foi consumida por cupins. Tiveram de construir uma nova com as próprias mãos. Durante esse período, Eneas não trabalhou. Desde então, vivem com renda mensal inferior a dois salários mínimos.

– É bem apertado, mas a gente consegue se virar. E são situações como essa que mostram que vale a pena – conta o pai

Desde segunda-feira, Lucas e Oseias têm passado pelas salas de aula da escola para contar a história aos demais alunos e ensiná-los, na prática, que boas ações podem ser feitas por qualquer um. Na tarde de ontem, os meninos foram ao colégio fora do horário de aula para, com Dona Evanir, passar em algumas turmas e mostrar a importância de um gesto como esse. Enquanto contavam a história, o pai os aguardava para o jantar e conversava por telefone com Zero Hora:

– Não ganhei nada no domingo, mas o que houve segunda foi o melhor presente de Dia dos Pais que poderia receber.


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