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segunda-feira, 4 de abril de 2011

SEM LIMITES - VANDALISMO, DROGAS E SEXO A CÉU ABERTO


SEM LIMITES. Vandalismo, drogas e sexo a céu aberto - GUSTAVO AZEVEDO E MARCELO GONZATTO, ZERO HORA 04/03/2011

Duas quadras de uma tradicional rua da Capital, a Lima e Silva, se transformam aos domingos em território sem lei para jovens que ignoram as normas de convívio e infernizam moradores.

Cenas de bebedeira, brigas, gritarias e sexo em via pública modificaram a Cidade Baixa, um dos mais tradicionais bairros de Porto Alegre. Inconformados com o vandalismo que se repete a cada domingo, moradores e comerciantes estão tendo de adaptar sua rotina e seu trabalho. As autoridades, até o momento, não conseguiram solucionar as confusões, que ocorrem especialmente em um trecho de duas quadras da Rua Lima e Silva.

Ao entardecer, jovens migram em bandos desde o Parque da Redenção, ponto de encontro, até a Lima e Silva. Famílias se trancam em casa, donos de bares e restaurantes fecham as portas. Até banheiros de estabelecimentos comerciais são desativados, para que não se transformem em motéis improvisados. Alguns moradores, porém, desistiram de conviver com as arruaças. Trocaram de domicílio.

Quem ficou está enfrentando os transtornos. Uma empresária de 27 anos que reside nos arredores do supermercado Zaffari, onde se concentra a maior parte dos frequentadores dominicais, diz que já foi agredida e teve o carro depredado. No ano passado, quando atravessava a rua, foi assediada por um rapaz bêbado. Tentou seguir adiante, mas teve o braço segurado à força pelo jovem. No esforço para se desvencilhar, acabou arranhada.

Depois desse episódio, um dos espelhos retrovisores do carro da empresária foi danificado, quando estacionado ao ar livre. No domingo seguinte, alguém terminou o serviço e quebrou o retrovisor. Nada está a salvo. Um funcionário do Zaffari conta que os banheiros do supermercado se tornaram espaço para sexo entre adolescentes e jovens, sempre aos domingos. Clientes desavisados que tentavam utilizar as instalações deparavam com cenas explícitas e fugiam, espantados. Agora, os banheiros são trancados a cada domingo em uma tentativa de conter os abusos.

Para o zelador Vilmar Carvalho, 76 anos, a manhã de segunda-feira costuma ser pesada. Logo depois de amanhecer, ele precisa limpar a calçada do prédio onde trabalha, na Lima e Silva, dos dejetos deixados na noite anterior. Urina, vômito e cacos de garrafa são os indícios mais comuns da balbúrdia.

O xixi em público tornou-se um tormento. Há pouco mais de um ano, um comerciante de 45 anos teve de substituir o portão de seu estabelecimento. A urina estava corroendo o metal do pórtico. Ultimamente, aos domingos, o comerciante se dedica a vigiar a calçada e abrir o portão periodicamente, para inibir o mictório. Ele e a mulher, também de 45 anos, já depararam com fezes humanas nas calçadas e o consumo de cocaína a céu aberto.

Como resultado do ambiente inseguro, o casal opta por se fechar em casa a partir do meio da tarde de domingo. Eventualmente, ao voltar de um passeio ou de uma viagem, evita circular pela Lima e Silva para acessar a residência. No ano passado, os dois viram um motorista ser agredido porque buzinou pedindo passagem a jovens que fechavam a via. A resposta dos órgãos de segurança tem sido insuficiente. Ontem à noite, a Brigada Militar apreendeu dois adolescentes que vendiam bebida para outros.

Comerciantes contabilizam prejuízos. Proprietário do restaurante Quilograma, Ademar Martini mudou o horário de funcionamento de seu negócio. Há mais de um ano, já havia desistido de abrir nas noites de domingo. Mais recentemente, decidiu fechar nas demais noites da semana também. A expectativa de lucro não compensava a incomodação.

Dono de uma livraria localizada no atual epicentro das baladas dominicais, Sérgio Planella, 62 anos, também resolveu fechar sua loja ao entardecer. Morador há mais de quatro décadas na Cidade Baixa, não aguentou os tumultos, o vandalismo e a insegurança. Segue vendendo livros na área conflagrada, mas hoje mora no bairro Santana.

Um dos resistentes é Jacir Carlos Loss, que abre seu bar nos domingos à noite, apesar de já ter perdido metade da clientela, que não consegue chegar ao estabelecimento ou teme pela segurança.

SUJEIRA E DEGRADAÇÃO

"Toda segunda é a mesma coisa. Eu já desço com um balde para limpar toda a imundície que fica." Vilmar Carvalho, 76 anos, zelador de prédio

"No domingo, nem adianta abrir porque os clientes ficam com medo de aparecer. O perfil do bairro mudou muito. Há muito agarramento, correria..."
Sérgio Planella, comerciante

SEXO NOS BANHEIROS

"Os banheiros do supermercado se transformavam em espaço para sexo aos domingos. Clientes deparavam com cenas explícitas e fugiam, espantados. Hoje os banheiros são trancados aos domingos. A confusão continua lá fora, mas aqui dentro diminuiu bastante." Funcionário de supermercado

"Entravam em grupos de 10 no banheiro para fazer sei lá o quê. Não adiantava botar segurança na porta, então passei a fechar logo depois do almoço. Não penso mais em reabrir à noite." Ademar Martini, comerciante

DROGAS E AGRESSÕES

"O pessoal usa o parapeito das janelas das casas para fazer as linhas de cocaína e cheirar ali mesmo. Eles trancam a rua, e, se a gente buzina, ficam muito irritados. Chegam a dar chutes e socos no carro. Por isso, preferimos ficar em casa." Casal que reside e tem comércio na região

"No ano passado, quando atravessava a rua, fui assediada por um rapaz bêbado. Tentei seguir adiante, mas tive o braço segurado à força pelo jovem. Tentei me desvencilhar, e acabei sofrendo vários arranhões. Ele estava completamente drogado. Me puxava para ele, eu puxava para trás. Cheguei em casa me sentindo suja." Empresária de 27 anos, moradora da região

ZH preserva a imagem dos jovens flagrados pois o propósito desta reportagem não é expor situações individuais, e sim abordar um problema coletivo que afeta moradores e comerciantes da região

Origem do conflito

- Em 2005, a Lima e Silva já era alvo de polêmica envolvendo vandalismo, consumo de álcool entre adolescentes e atos obscenos a céu aberto.

- Naquele ano, o público se concentrava no Centro Comercial Nova Olaria, provocando conflitos com lojistas e moradores da região, que reclamavam das frequentes transgressões.

- A concentração de gays e lésbicas gerou polêmica sobre homofobia e discriminação social na época.

- Com o fechamento de alguns estabelecimentos aos domingos, os jovens migraram para a esquina seguinte.

- Hoje, ficam reunidos em frente ao supermercado Zaffari da Lima e Silva e na esquina da Luiz Afonso.

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