Revelamos aqui as causas e efeitos da insegurança pública e jurídica no Brasil, propondo uma ampla mobilização na defesa da liberdade, democracia, federalismo, moralidade, probidade, civismo, cidadania e supremacia do interesse público, exigindo uma Constituição enxuta; Leis rigorosas; Segurança jurídica e judiciária; Justiça coativa; Reforma política, Zelo do erário; Execução penal digna; Poderes harmônicos e comprometidos; e Sistema de Justiça Criminal eficiente na preservação da Ordem Pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

O AGENTE TORTURADOR


WANDERLEY SOARES, REDE PAMPA, O SUL
Porto Alegre, Terça-feira, 28 de Fevereiro de 2012.


Atrevo-me em dar apenas um retalho da história que vivi num período em que apenas pensar poderia ser considerado crime.

Como fui paciente da ditadura instalada no Brasil em 1964 sem ter sido torturado fisicamente, mas apenas no quadro psicológico, embora tenha passado fome alguns dias, permito-me um breve depoimento consequente do que li numa matéria, publicada no último fim de semana, num canhão da mídia gaúcha sobre o sinistro agente dos EUA Dan Mitrione, especialista cirúrgico em métodos de tortura. Tal metodologia considerava como erro a morte do torturado. O supliciado deveria ser levado até o limite de suas forças para que pudesse ser medicado, recuperado e logo passar para outras sessões de terror, se necessárias fossem. Obtidas todas as informações, então, sim, havia a opção de fazê-lo desaparecer. Antes, em favor dos jovens que investigam esses casos, reconheço e todos nós sabemos que, entre as múltiplas propriedades do tempo é a de trazer à luz a verdade. Outra é a de empoeirar esta mesma verdade. Assim é que sempre há dúvidas sobre o que é a verdade. Afinal, Cristo era branco ou negro? Sigam-me.

Nada clandestino

A matéria, publicada com fumos de ineditismo, diz que Dan Mitrione treinou policiais gaúchos em segredo e, mais do que isso, que chegou aqui no Rio Grande clandestinamente. Nada disso. A imprensa, então amordaçada, sabia da presença de Dan Mitrione que foi apresentado como um técnico. Ele não era um espião. Foi fotografado e circulava nos corredores do Palácio da Polícia sempre acompanhado de um delegado, estrela da polícia na época, que era seu pajem e dele se tornou amigo. Eu mesmo encontrei com a dupla, naqueles corredores, pelo menos uma meia dúzia de vezes. O que tinha de secreto no trabalho de Mitrione era exatamente a sua especialização em tortura. Como máscara de sua real e criminosa atividade ele foi dado como um perito em controle de tumulto. Foi nessa época que os norte-americanos introduziram na polícia ostensiva o cacetete tamanho família, grande e de madeira. Antes, a Guarda Civil (Polícia Civil fardada) usava um cacetete curto e de borracha. Anteriormente ao seu estágio no Rio Grande, Dan Mitrione passou por outros Estados do Brasil (em Minas Gerais ele é nome de rua) e daqui seguiu para o Uruguai onde, capturado pelos tupamaros, foi executado. Aqui, esse agente fez dezenas de discípulos que, no seu ramo, se tornaram brilhantes e alguns continuam convivendo em nossa sociedade vaidosos desse passado. Detalhe: impossível ter Dan Mitrione passado clandestinamente pelo Estado quando aparece na foto inserida na matéria que aqui comento, posada na frente do Palácio da Polícia, à esquerda do então chefe da Polícia Civil, mais tarde secretário da Segurança Pública, major Leo Guedes Etchegoyen. Na mesma foto, à direita de Etchegoyen, de gravata borboleta, aparece outro agente norte-americano, Stanford Carlyle Smith, que aqui chegou de bonzinho, pois fez um papel paralelo, mas distante de seu compatriota Mitrione. Enfim, nada houve de clandestino ou secreto, até porque naquele período pensar contra o governo era crime inafiançável. Apenas havia a mordaça na imprensa. Isso não é tudo, mas é uma parte que me parece, no mínimo, curiosa, principalmente para os jovens.

Nenhum comentário: