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domingo, 2 de março de 2014

O NOSSO GENERAL E OS GENERAIS DELES

ZERO HORA 02 de março de 2014 | N° 17720

ARTIGOS


Moisés Mendes*



Conversei muito com um general, no início dos anos 70. Eu com 18 anos, ele se aproximando dos 70. Eu tinha espinhas na cara e ele me tratava solenemente de senhor:

– Seu Moisés, pode noticiar.

Eu, repórter da Gazeta de Alegrete, noticiava. Geralmente, era alguma informação sobre a aprovação de um novo curso ou a incursão dele a Brasília, para que a Fronteira ganhasse uma universidade. Ele presidia a Fundação Educacional, que mantinha cursos de Filosofia e Administração.

Fui confidente dos sonhos do general Alcy Vargas Cheui-che por dois anos, até eu ir embora da cidade. Escrevi na Gazeta dezenas de vezes, com algumas variações, a mesma informação. Alegrete iria, sim, ganhar uma universidade.

Frequentava sua sala na fundação. Interpretava papel de gente grande quando falava com o general. O descendente de libaneses tinha o rosto redondo, o tom de voz respeitoso. Era paciencioso com um guri metido a repórter.

A universidade ainda não tinha o sentido utilitarista de hoje, de fornecedora de gente para as demandas do mercado. Ainda era uma instituição iluminista. A universidade daria lustro ao Alegrete bombachudo, dos fazendeiros, dos bois e dos poetas.

O general morreu em 1998, oito anos antes da chegada da Unipampa, a universidade federal. O escritor Alcy José Vargas Cheuiche é seu filho. Alcy me contou que no velório do pai uma mulher o procurou. Disse que, durante a ditadura, o general protegera o marido dela, prisioneiro político. Alcy apontou na direção da mãe, Maria Zilah, sentada perto do caixão, e disse à mulher:

– Vá lá e conte isso àquela velhinha.

A Gazeta chamava Cheuiche de General da Educação. Ele foi revolucionário de 30, como soldado de Getúlio. Quando o conheci, já estava à paisana. Vinte anos antes, liderara a criação da primeira Faculdade de Filosofia da cidade.

Mas por que falar agora de um general do Alegrete? Porque andam falando de novo dos militares. Três generais estão entre os seis denunciados este mês pelo Ministério Público como envolvidos nos atentados à bomba no Riocentro, em 1981.

A figura mais repulsiva dos atentados no Rio é a de Wilson Luiz Chaves Machado, o famoso motorista do Puma. Machado era capitão. A bomba que explodiu antes do tempo no colo de um sargento, no banco do caroneiro do Puma, feriu Machado. O militar anda por aí, agora como coronel reformado, com uma cicatriz na barriga, como se fosse herói de guerra.

Os procuradores querem finalmente pegar o farsante Machado e os outros. Ele e o sargento levavam uma das bombas, mas é preciso punir também os que despachavam ordens para que fossem detonadas. O coronel é a figura pública do bandido fardado do Riocentro. Os outros, entre os quais os generais, são apontados como articuladores das ações que os mandaletes deveriam executar. São os que menos aparecem.

Estes são os três generais denunciados: Edson Sá Rocha, chefe da seção de operações do DOI em 1981, Newton Cruz, chefe da Agência Central do Serviço Nacional de Informações (SNI), e Nilton Cerqueira, então comandante da Polícia Militar fluminense.

Todos estavam (vão continuar?) sob a sombra da anistia de 1979. São acusados de acionar ou acobertar seus homens-bomba quase dois anos depois da promulgação da lei que deveria pacificar o país. Por que se mantêm agarrados à anistia que tentaram desmoralizar?

Domingo passado, o Fantástico mostrou para que serve o jornalismo. Recontou o caso do Riocentro, apontou os protagonistas dos atentados e reproduziu um depoimento do coronel Machado à Justiça Militar. É um prepotente certo de que continuará impune. Que serviços prestou Machado à nação para ser promovido a coronel, se foi incompetente até mesmo para executar uma ação terrorista? Mais um pouco e chegaria a general?

Os seis denunciados pelo MP se manterão acuados por um bom tempo. É pouco, mas já nos consola saber que estão desconfortáveis em seus pijamas.

Voltando ao começo, você, da região da Campanha e da Fronteira, que acompanhou os sonhos do general Cheuiche, também pode estar se perguntando sobre o que, afinal, há de reconhecimento público das utopias do General da Universidade. Há um anfiteatro e uma escola municipal com seu nome no Alegrete.

O militar que mobilizava a cidade pelo ensino, enquanto outros fomentavam os horrores da ditadura, merece mais. O poeta Hélio Ricciardi, diretor da Gazeta, amigo de Cheui- che, poderia promovê-lo a Marechal da Educação.

*JORNALISTA

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