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terça-feira, 1 de novembro de 2011

DEPUTADO EXILADO PELO CRIME


PODER DAS MILÍCIAS. Deputado fluminense anunciou ontem que está deixando o país nesta terça-feira após receber oito ameaças de morte em um mês - HUMBERTO TREZZI, ZERO HORA 01/11/2011

O Brasil vive novo patamar de desrespeito, no qual autoridades são pressionadas, desafiadas, ameaçadas e assassinadas. É com essa avaliação e justificativa que o deputado estadual fluminense Marcelo Freixo (PSOL), 44 anos, explica aos seus eleitores porque decidiu sair hoje do país, após ameaças de morte. O parlamentar embarca para a Europa, a convite da Anistia Internacional. Ruma para destino não revelado, sem data para voltar, mas com perspectiva otimista de retorno no final do ano.

Professor de história, Freixo vem sendo ameaçado desde 2008, quando presidiu a CPI das Milícias na Assembleia do Rio que resultou no indiciamento de 225 pessoas, incluindo políticos, PMs, policiais civis e bombeiros, todos suspeitos de participar do crime organizado. A fatura veio agora. Documento da Coordenadoria de Inteligência da Polícia Militar, divulgado dia 17, aponta que Freixo seria alvo de atentado.

O informe, endereçado à Coordenadoria Institucional de Segurança da Assembleia, indica que um miliciano conhecido como Carlão – que recentemente fugiu de um presídio da Polícia Civil – planejava o assassinato de Freixo. Carlão receberia dinheiro de um ex-PM se executasse o deputado. Um grupo de 50 milicianos teria inclusive feito um churrasco para tramar detalhes da morte do parlamentar, avaliando a cabeça do deputado em R$ 400 mil.

O deputado leva a sério as ameaças porque alguns milicianos notórios – como o policial civil e ex-deputado estadual Natalino Guimarães, assim como o irmão dele, o ex-vereador Gerônimo Guimarães – estão entre os presos em razão das investigações feitas por Freixo e pela CPI. Eles foram considerados os comandantes da principal milícia da zona oeste do Rio e estão detidos em um presídio federal.

Freixo diz que a viagem será uma forma de chamar a atenção das autoridades estaduais sobre o esquema de segurança dele e de sua família:

– Não acredito nos programas de proteção.

O deputado ganhou notoriedade nacional no filme Tropa de Elite 2. No longa, dirigido por José Padilha, ele serve de inspiração ao personagem Diogo Fraga, vivido pelo ator Irandhir Santos. O personagem é um deputado que denunciava grupos criminosos dentro da PM fluminense e acaba ameaçado.

Volta como candidato

Nos bastidores, adversários enxergam na viagem de Freixo uma possível estratégia midiática, já que ele é cotado para concorrer à prefeitura do Rio em 2012. O deputado garante que não precisa disso e assume que uma das razões para temer pela vida é o recente assassinato da juíza Patrícia Acioli, ocorrido em 11 de agosto. Moradora de Niterói, assim como Freixo (de quem era admiradora), a magistrada foi morta com 21 tiros. O inquérito concluiu que o crime foi praticado por PMs integrantes de milícias.

Freixo tirou licença do cargo. Pretende aproveitar a viagem – a países que não revela – para divulgar o poder das milícias, a quem chama de “mal maior que existe no Rio”. Em entrevista ontem a ZH, Freixo diz que só a prisão de milicianos não basta.

– É inadmissível que, depois de matarem uma juíza, ameacem matar um parlamentar. Ou a gente enfrenta e faz agora esse dever de casa ou, como mataram uma juíza, vão matar deputados, promotores, jornalistas. E, se esses grupos criminosos são capazes disso, o que eles não fazem com a população que vive na área em que eles dominam? – questiona.

PODER DAS MILÍCIAS. Antropólogo também se exilou

Marcelo Freixo repete a trajetória de um conterrâneo seu, que também ganhou fama atuando em denúncias de criminalidade. É o antropólogo fluminense Luiz Eduardo Soares, um dos autores de Elite da Tropa, livro que mostra a violência do ponto de vista do policial e cuja obra serviu de base para a série de filmes Tropa de Elite.

Soares era secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, entre 1999 e 2000, quando recebeu ameaças de morte após denunciar a chamada “banda podre” das polícias. Após defender a atitude do cineasta João Moreira Salles, que supostamente pagava mesada ao traficante Marcinho VP como tentativa de reencaminhar o criminoso, Soares foi demitido pelo então governador Anthony Garotinho (PDT), ao vivo, durante programa de TV.

Sem contar com a proteção que teria como secretário de Estado, Soares decidiu sair do Rio. Buscou exílio nos Estados Unidos. Ao retornar ao Brasil, em 2002, trabalhou um período como consultor de segurança pública da prefeitura de Porto Alegre. Entre janeiro e outubro de 2003, foi secretário Nacional de Segurança Pública. Também foi professor em universidades brasileiras e norte-americanas.


Quem são - Os milicianos e sua atuação:

- As milícias são aquilo que, no Brasil, mais se assemelha aos grupos paramilitares que infernizaram a Colômbia nos anos 90. São quadrilhas formadas por policiais e ex-policiais interessados na exploração de transporte coletivo alternativo, serviços clandestinos de internet, TV a cabo e gás. Esses grupos também praticam extorsão a comerciantes, vendendo proteção à moda das máfias italiana e norte-americana. Duas são as grandes diferenças em relação às quadrilhas comuns: são compostas por funcionários públicos da área de segurança e, via de regra, negam-se a traficar drogas.

"NÃO VAMOS RECUAR", AFIRMA DEPUTADO EXILADO PELO CRIME. ENTREVISTA. “As milícias não venceram. Não vamos recuar” - Marcelo Freixo, deputado fluminense ameaçado de morte - zero hora 01/11/2011

Marcelo Freixo quase não encontra tempo de atender telefonemas. Passou a manhã de ontem e parte da tarde pagando contas, transferindo documentos, resolvendo a papelada burocrática que envolve os preparativos para uma saída de supetão do país. Saída que, ele garante, será por um breve espaço de tempo. Por telefone, desde Niterói, o deputado concedeu esta entrevista a Zero Hora:

Zero Hora – Por que o senhor decidiu se exilar?

Marcelo Freixo – Não se trata de exílio, acho essa uma palavra forte. Saio para esfriar os ânimos um pouco, meus e dos caras que andam me ameaçando. Pretendo voltar até o final do ano, se tudo ajudar. Estou indo para o Exterior a convite da Anistia Internacional, que se preocupa com as ameaças que tenho recebido. Vou aproveitar para dar umas palestras, falar da situação das milícias no país, que não se restringem ao Rio. Vou levar a família junto. Saio para restabelecer o equilíbrio.

ZH – O senhor recebeu muitas ameaças, desde que presidiu a CPI das Milícias?

Freixo – Perdi a conta. Mas foram sete no último mês, aumentou de intensidade depois do assassinato da juíza Patrícia Acioli. Acirrou muito. Sete, não, foram oito. Acabei de receber uma ameaça, via Disque-Denúncia, me avisa minha assessoria. A juíza usou muito meu relatório das CPIs para embasar sentenças. Acho que esse pessoal ficou um pouco irritado...

ZH – O senhor usa escolta?

Freixo – Tenho escolta desde 2008. Só não uso em viagens longas. São gente da PM, da Polícia Civil e dos serviços penitenciários, não vou dimensionar quantos, porque é informação confidencial. É preciso, porque as milícias são compostas de criminosos eficientes, integradas por funcionários públicos, gente que não é analfabeta. Se as milícias têm coragem de torturar jornalistas, como aconteceu com teus colegas do jornal O Dia, ou assassinar uma juíza, eu tenho de levar a sério as ameaças, não é?

ZH – No que o senhor acha que o Estado tem falhado ao combater milícias?

Freixo – Não foi feito ainda todo o necessário. O poder público enfrentou algumas milícias de mais visibilidade, mas algumas, não tão famosas e até mais antigas e menores, mantêm-se intocadas. Até que o Estado tem prendido gente, foram mais de 500 prisões de milicianos desde a CPI, em 2008. O problema é que não foram cortados os elos econômicos dos milicianos, que embasam seu poder. Tem miliciano comandando de dentro da cadeia. É preciso fazer licitação da distribuição de gás e das peruas (transporte coletivo), mas tudo isso está em compasso de espera. É daí que vem a receita das milícias, é aí que deve acontecer o corte no financiamento desse tipo de crime. Mas é importante ressaltar que, apesar do vacilo do Estado, as milícias não venceram. Não vamos recuar.

COMENTÁRIO DO BENGOCHEA - A propósito, onde está o corporativismo dos políticos para sair em defesa de um de seus membros? Contra o poder do crime, ficam quietos? Está na hora de uma nova e enxuta constituição para tirar os direitos sem deveres, os privilégios sem contrapartidas e eliminar dispositivos divergentes, utópicos e inoperantes criados para desarmonizar poderes, centralizar e desacreditar a justiça, enfraquecer funções essenciais à justiça, impedir ações contra a corrupção e impunidade, e dividir os instrumentos de preservação da ordem pública num regime republicano e democrático, tornando-os sem ação, sem complemento e sem responsabilidade uns com os outros.

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