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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

OPERAÇÃO TEM AVANÇOS, MAS UPP PRECISA DE AJUSTE

Operação tem avanços, mas UPP precisa de ajuste, diz antropóloga - ELEONORA DE LUCENA, DE SÃO PAULO. FOLHA.COM, 14/11/2011 - 03h00

A operação desencadeada na Rocinha, no Rio, significou avanços em relação a ações anteriores. Houve trabalho de inteligência, o comando do tráfico foi enfraquecido e a polícia parece ter preocupação maior em não agredir moradores.

A opinião é da antropóloga Alba Zaluar, professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Autora de "Integração Perversa: Pobreza e Tráfico de Drogas" (Fundação Getúlio Vargas, 2004), ela vê abatimento moral de traficantes, como Nem, preso semana passada. "A maior parte dos lucros sempre termina com policiais corruptos e fornecedores."

Segundo a antropóloga, a constatação desse fato é "importante para diminuir o atrativo do tráfico. Isso vai ser um exemplo para toda essa molecada que vem por aí".

Apesar de elogiar a implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), Alba considera que há ajustes a serem feitos. "Tem o perigo do comandante da UPP se tornar também um chefe, como os traficantes", diz.

Para ela, é preciso "empoderar, reconstituir a trama da sociabilidade local, do associativismo local".

Folha - Qual a avaliação sobre a operação na Rocinha?
Alba Zaluar - Houve avanços em relação ao que aconteceu no complexo do Alemão. Não tivemos aquelas cenas da TV [fuga de traficantes]. Houve um trabalho de inteligência anterior e uma combinação muito maior entre as polícias Civil, Militar e Federal.

Parece que há uma preocupação maior em não agredir, não desrespeitar o morador. Estão jogando panfletos, pedindo para que os moradores apontem onde estão escondidas as armas.

Isso também é um avanço. Porque no complexo do Alemão eles simplesmente invadiam as casas das pessoas, quebravam aparelhos elétricos. Segundo os moradores, pegaram dinheiro.

Isso é muito importante porque não há política de segurança sem confiança na polícia. E não há confiança na polícia sem respeito aos direitos do cidadão. Onde há desrespeito não há confiança, não há política de segurança pública possível.

Houve avanços, mas é preciso ficar atento.

Folha - O que mais foi diferente?
Zaluar - Junto com o trabalho de inteligência anterior, houve uma preocupação em enfraquecer o comando.

A Rocinha está num ponto estratégico, muito sensível, porque está rodeada de prédios de classe média alta, não só em São Conrado, mas na Gávea, no Leblon, que poderiam ser atingidos se houvesse tiroteio, como houve no ano passado com o caso do hotel.

Nada disso aconteceu porque, suponho, houve um trabalho anterior de enfraquecimento do comando. Há também a tentativa de ganhar os traficantes, os chefes, o próprio Nem, para uma mudança de posição. Mesmo que ele não tenha se entregado, como era de se esperar, ele já estava moralmente abatido, com muitas dúvidas sobre a continuidade do trabalho, da atividade econômica como traficante.

Porque, como todos os ex-traficantes que entrevistamos na nossa pesquisa, ele entendeu que arriscava a vida, vivia naquele estresse horrível.

A vida deles sempre é muito difícil, estão sempre muito preocupados em se defender de algum inimigo, sempre carregando armas, sempre se impondo, sempre gritando.

Apesar disso tudo, a maior parte dos lucros sempre termina nas mãos dos policiais corruptos e dos fornecedores. Essa realização também está sendo importante para diminuir o atrativo do tráfico. Isso será um exemplo para toda essa molecada que está vindo por aí.

Folha - Ele disse que pagava a metade para policiais.
Zaluar - E outra parte para advogados, para armeiros. Há muitos arrependidos aí que o setor de inteligência da polícia pode usar nas suas investigações para montar esse quadro do crime organizado.

Folha - Como são os arrependidos?
Zaluar - Fizemos uma pesquisa só com os arrependidos que estavam desesperadamente procurando empregos e não conseguiam. Esses arrependidos podem não só dar informações como também quebrar essa continuidade, a reincidência, de ficar preso e depois voltar a delinquir por falta de alternativa.

Folha - As UPPs mudam o quadro da segurança, do tráfico de uma maneira mais estrutural?
Zaluar - Sem dúvida. Diminuiu homicídio, assalto. O problema é que só na zona sul e perto das áreas onde vão acontecer eventos esportivos. Isso é um senão. Tem várias coisas internamente que precisam ser revistas.

Folha - Por exemplo?
Zaluar - Para aproximar os policiais da população eles estão colocando policiais para dar aulas de tudo, esporte, violão.

Já havia no associativismo local professores disso. E os métodos de ensino são diferentes. Eles são muito mais rígidos em termos de hierarquia. Na sensibilidade local isso não é bem aceito.

Tem o perigo do comandante da UPP se tornar também um chefe, como os traficantes, embora sem os excessos do traficante, de matar, expulsar etc. Mas tem essa coisa do chefe, de dominar, mandar em todo mundo.

Folha - O que precisaria ser feito?
Zaluar - O que se deve procurar é empoderar, reconstituir a trama da sociabilidade local, do associativismo local.

Porque é isso que vai ajudar: o controle social informal liberando a polícia para cuidar de outras coisas.

É preciso deixar que essas associações ocupem o espaço que lhes cabe. A aproximação não se dá pelo policial tocando violão, batucando, ensinando capoeira. O que tem de mestre de capoeira nesses locais!

Tem que estar sempre respeitando o cidadão, procurando saber quais são as suas prioridades em termos de segurança, fazendo um policiamento que respeite a dignidade e a liberdade dos moradores.

Folha - A corrupção policial caiu?
Zaluar - Não sei dizer. Depois do caso da juíza, é preciso fazer como nos EUA. Precisa ter proteção, porque arquivos vivos podem ser mortos a qualquer momento.

Precisa saber negociar com eles. Isso também é um modo de fazer com que haja pacificação para o lado deles também. Para que, quando terminar a pena, ele não volte a delinquir.

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