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sábado, 25 de junho de 2011

OS HACKERS SÃO BANDIDOS?


Silvio Teles - 24/06/2011


Os últimos acontecimentos com os portais eletrônicos do governo fizeram surgir, nas redes sociais, uma espécie de demonização dos hackers. Diversos internautas os têm comparado a bandidos de alta periculosidade, chegando ao cúmulo de se pedir a pena de morte para tais "criminosos". Entendo que, antes de fazer um juízo prévio de condenação, há que se ponderar alguns pontos no comportamento dos piratas da internet.

Todos sabem que o mundo digital, interligado pela rede, trouxe consigo inúmeros benefícios. Todavia, como todo ramo da exploração humana, abriu espaço para que criminosos (esses, na essência da palavra) cometam suas ilicitudes: roubem dados e informações capazes de lhes permitir auferir vantagens indevidas e pratiquem toda sorte de atitudes dignas de serem punidas com as penas previstas em lei.

Há outra dimensão, na via digital, que precisamos considerar: a de espaço público, transitável por qualquer um. Trata-se de uma via virtual onde cada internauta tem o livre direito de ir e vir, de estar aqui ou ali, de acessar este portal ou aquele, conforme sua vontade e de acordo com o exercício pleno de sua liberdade.

Por óbvio, como no mundo real, os internautas não têm - nem poderiam ter - acesso ilimitado e irrestrito a todo o conteúdo da rede. Como na vida real, há degraus de acesso. Basta lembrar que, no mundo fora dos computadores, embora você possa entrar num banco, você não tem livre acesso ao cofre; que você pode entrar numa repartição pública, mas não terá acesso a dados que não lhe digam respeito.

Pois bem. No espaço real, está muito em gosto a realização de "manifestações", como a de moradores de determinado bairro que bloqueiam a rua para que o posto de saúde volte a funcionar ou como a de servidores públicos que ocupam determinada repartição cobrando melhores condições de trabalho ou melhores salários. São atos que, embora violadores do direito de liberdade da coletividade, são "tolerados" porque, talvez, tenham se constituído na única forma de atraírem a atenção das autoridades políticas.

Embora seja tênue a linha divisora, se não descambarem para o vandalismo ou para a violência, o bloqueio da via ou a ocupação da repartição não é crime, nem sujeita seus realizadores a qualquer pena. Portanto, entendo que raciocínio semelhante deve ser aplicado aos hackers. Ao bloquear o acesso a determinado site do governo, os piratas nada mais fazem que uma obstrução digital. Essa mera obstrução, sem que nada tenha sido danificado ou roubado, em simetria com a vida real, não gera motivo para que se trate com mais rigor o hacker. Discordo de ambos os movimentos, mas uma coisa há que se reconhecer: a essência do ato é a mesma. Se não há rigor para um, não deve haver para o outro.

A invasão aos sites somente deixa evidente como as deficiência do poder público, tão conhecidas no mundo real, se reproduzem, com perfeição, no campo da virtualidade. Os sites públicos que, em tese, deveriam gozar de intensa blindagem, dado o volume e importância de informações que possuem, demonstram-se imensamente frágeis, sendo invadidos e paralisados por meia dúzia de programadores autônomos. Longe de criar motivos para se perseguirem os hackers, mesmo porque seria tarefa penosa, parecida com "enxugar gelo", a invasão demonstra a urgente necessidade de se reforçar as defesas digitais dos portais quem contém as informações do governo. Essa, creio eu, é a maior lição dos ataques.

Como dito, da mesma forma que eu tenho minhas reservas, no mundo real, a quaisquer tipos de manifestações que somente se realizam em detrimento do direito dos outros, tenho minhas restrições às atitudes desses grupos de piratas. Tais manifestações nascem ilegítimas quando, para serem efetivadas, necessitam violar a esfera de interesse alheia. Protestar pode ser necessário, mas, mais relevante ainda, é saber como fazê-lo. Aliás, talvez seja na não compreensão dessa necessidade que as coisas se misturem: mesmo não sendo, o protesto toma aparência de crime.

Ainda assim, não posso unir minha voz ao coro de pessoas que, de repente, desejam crucificar generalizadamente os hackers, esquecendo-se, por exemplo, que é o trabalho de alguns destes profissionais que permite o desenvolvimento e avanço da internet, com a criação de sistemas de segurança mais sofisticados. Não posso por isso e, também, por estar bem claro, na minha mente, uma lógica bem simplista: hacker é hacker, manifestante é manifestante, bandido é bandido e, definitivamente, uma coisa não tem nada a ver com a outra.

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