A PAZ SOCIAL É O NOSSO OBJETIVO. ACORDAR O BRASIL É A NOSSA LUTA.
"Uma nação perdida não é a que perdeu um governante, mas a que perdeu a LEI."
Revelamos aqui as causas e efeitos da insegurança pública e jurídica no Brasil, propondo uma ampla mobilização na defesa da liberdade, democracia, federalismo, moralidade, probidade, civismo, cidadania e supremacia do interesse público, exigindo uma Constituição enxuta; Leis rigorosas; Segurança jurídica e judiciária; Justiça coativa; Reforma política, Zelo do erário; Execução penal digna; Poderes harmônicos e comprometidos; e Sistema de Justiça Criminal eficiente na preservação da Ordem Pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
GUERRA DO RIO - Jornada de terror
GUERRA DO RIO. Jornada de terror - Rodrigo Muzell, Zero Hora, 25/11/2010
– Hoje é uma boa noite para circular no Rio. A polícia está toda na rua, os bandidos estão todos escondidos.
O delegado Pablo Sartori, que atua na DP do bairro de Bonsucesso, fez a previsão a Zero Hora às 22h30min de terça-feira. A razão da tranquilidade era o aparente sucesso das operações da polícia em mais de 20 favelas – uma resposta enérgica à baderna causada pelo tráfico desde domingo. Mas a afirmação de Sartori só se confirmou durante meia-hora. Às 23h, um Voyage já queimava atravessado no bairro do Rio Comprido. O atentado foi o primeiro de 15 ataques espalhados pela região metropolitana do Rio: uma cabina da PM foi metralhada, além de pelo menos cinco ônibus, 11 carros e uma van foram incendiados depois do Voyage. Foi a noite mais violenta desde o início da onda de atentados.
Entre 22h de terça-feira e 5h de quarta-feira, Zero Hora circulou pela Grande Rio. Nos 206 quilômetros rodados, testemunhou a perplexidade de quem via fogo em frente de casa, o trabalho dos bombeiros que o combatiam, o desespero de quem teve o patrimônio perdido e a tensão da Polícia Militar, que atendia às ocorrências. A seguir, o relato da incursão na guerra do Rio.
23h - Carro em chamas
– É difícil até de acreditar que algo assim possa acontecer na frente de casa – disse o estudante Hugo Ribeiro, 19 anos, assistindo de trás das grades de seu prédio aos bombeiros apagarem o Voyage em chamas.
Moradores das redondezas, em Rio Comprido, aglomeravam-se, tiravam fotos e faziam vídeos com o celular. A esteticista Geni de Lima ralhava com a filha porque a garota a desobedecia:
– Ela insiste em caminhar à noite na rua e isso é muito perigoso hoje em dia.
Quem viu lembra do Voyage parando na rua e interrompendo o trânsito. Dois homens saíram de dentro e atearam fogo nos pneus. Ao fugir, ainda tiveram tempo para assaltar um motorista atônito, parado atrás do carro que ardia. Levaram pasta, carteira e celular, entraram em uma Tucson preta que esperava com motor ligado e zuniram em fuga.
Os sócios David Santos e Wellington Alves, que dirigiam uma van à cata de passageiros, assistiam a tudo estupefatos. Estavam quase desistindo de ir à casa da namorada de Wellington, na Grande Rio, durante a noite.
– Vamos pegar a Via Dutra com o coração na mão – disse David.
0h40min - Ataque à PM
Desde que a polícia iniciou o contra-ataque, o clima no Rio está diferente. Há menos trânsito do que o normal na hora do rush, há bem mais PMs do que o carioca está acostumado. Só que os policiais fazem falta no subúrbio, a madrugada provou. Cerca de meia hora depois do incêndio no Rio Comprido, os rádios dos repórteres de plantão – uma dezena deles peregrinava a madrugada, em bando – informavam a próxima parada: Praça da Emancipação em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Lá, um sargento da PM, sozinho em uma cabina, havia sido atacado a tiros de metralhadora.
Encravada na parte mais urbanizada do município, em um calçadão, a unidade levou ao menos 10 tiros – sobrou também para uma lixeira em frente e um banco, ao lado. Segundo testemunhas, uma caminhonete passou lentamente e abriu fogo contra a cabina. Um tiro acertou em cheio o vidro.
– Se não fosse blindado, eu não estaria aqui falando com vocês – disse o sargento aos repórteres.
Foi a última das poucas frases que falou. Os policiais não dão entrevistas, não têm seus nomes publicados. É regra na guerra urbana. Da meia dúzia de PMs que dava segurança ao local, apenas um sorriu – uma vez.
Era o contrário no grupo de repórteres, cujas brincadeiras em alto e bom som quebravam a tensão da madrugada. De vez em quando, um lembrava da possibilidade de um novo ataque dos bandidos, e aconselhava:
– Melhor não ficar de costas para rua.
Outro, ao saber que PMs confrontaram bandidos em uma Sportage cuja descrição batia com a dada pelo sargento atacado, profetizou:
– Essa noite não vai acabar nunca.
1h25min - Faroeste urbano
Como todos os outros da madrugada, o confronto não rendeu nenhuma prisão. Segundo os policiais, houve troca de tiros, e os bandidos fugiram para uma favela próxima, sem deixar de atear fogo no estofado da caminhonete. Esta, os PMs evitaram que queimasse. Não foi o caso do Palio de um analista de sistemas de 26 anos. Às 1h25min, ele chegava à delegacia, em Duque de Caxias, para registrar um trauma.
– Estava chegando à casa da minha noiva. Estacionei e dois caras nos apontaram armas, com uma garrafa de álcool na mão. Corri com a minha noiva para casa, eles começaram a atirar e atearam fogo – contou.
Dois carros da PM foram à casa da família da noiva do analista de sistemas, que acabava de voltar da faculdade. Quando viu a polícia estacionar próximo ao Palio queimado, pai, mãe e a estudante saíram pelo portão cautelosos. E desfiaram, para todos ali, uma história de faroeste.
– Quando entrei em casa e fechei o portão, eles começaram a atirar para dentro e berrar que iriam voltar. Um carro a gente perde, mas e a vida? - dizia a estudante.
Informantes dos repórteres avisam: três carros queimados em Niterói, um ônibus em chamas mais perto de Duque de Caxias. Mais próximo e inédito, é o ônibus que atrai a caravana da mídia.
2h20min - Barricada na rua
Uma mesa de madeira e algumas cadeiras foram o suficiente para quatro homens armados queimarem dois ônibus inteiros. Um estava apenas com o motorista e outro iniciava a viagem com um passageiro. Armas na cabeça, foram expulsos das conduções. Viram as chamas tomarem conta e os bandidos fugirem calmamente a pé, em direção à favela de Guaxa.
Aconteceu em uma das avenidas centrais do município de Belford Roxo, a Automóvel Clube. O calor das chamas derreteu coberturas plásticas de lojas e as explosões danificaram fios. O ataque foi à 1h10min: mais de uma hora depois, às 2h20min, duas equipes de bombeiros ainda combatiam o fogo.
Um promotor de eventos ouvido por ZH vive no município da Grande Rio há 28 anos. Mesmo quando a cidade ganhou o desagradável prêmio de uma das mais violentas do mundo, conta, ele não havia se sentido tão inseguro.
– Colocaram as UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) no Rio e foi uma maravilha para eles. Sobrou pra nós: os bandidos de lá estão vindo para cá, para as comunidades aqui em volta – reclama.
Com a violência, vem o prejuízo financeiro. Ao cotar o seguro de seu Uno zero-quilômetro, ele descobriu que teria de pagar cerca de R$ 500 a mais só porque seu endereço é de Belford Roxo. Carros não podem ficar na rua, e caminhar depois das 22h é loteria.
– A gente já sabe, esse é o horário do arrastão.
3h32min - Fogo na rodovia
No meio da madrugada, as ocorrências pipocavam nos rádios dos policiais militares. Até então, havia registro de carros incendiados também em Niterói e no Recreio dos Bandeirantes. A informação de que dois ônibus haviam sido incendiados na rodovia Presidente Dutra, principal ligação entre Rio e São Paulo, agitou os jornalistas. Mais cedo, o governo fluminense havia aceitado um reforço da Polícia Rodoviária Federal para proteger as estradas.
Segundo a PRF, três homens armados renderam o motorista e os passageiros. Como em Belford Roxo, incendiaram rapidamente o ônibus e fugiram. Quando ZH chegou ao local, no km 199, o ônibus havia sido retirado tempo antes: na pista, ainda havia fumaça.
A última parada da noite seria um alarme falso. Depois da tentativa frustrada de dois integrantes do morro Pavão-Pavãozinho em colocar uma bomba sob um carro em Copacabana, chegou a informação de que um carro havia sido incendiado na Siqueira Campos, coração do bairro cartão-postal do Rio. A noite terminou com o alívio de um boato, mas durou pouco. A manhã se iniciou com o um incêndio de ônibus, na avenida Vicente de Carvalho. E, com a resposta da polícia que deixou já deixou mais de 20 pessoas mortas, houve a confirmação de que o delegado Sartori estava muito errado.
Não está bom para circular no Rio.
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Um comentário:
Muito foda o texto. Muito foda a ilustração!!! Abraz
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