Revelamos aqui as causas e efeitos da insegurança pública e jurídica no Brasil, propondo uma ampla mobilização na defesa da liberdade, democracia, federalismo, moralidade, probidade, civismo, cidadania e supremacia do interesse público, exigindo uma Constituição enxuta; Leis rigorosas; Segurança jurídica e judiciária; Justiça coativa; Reforma política, Zelo do erário; Execução penal digna; Poderes harmônicos e comprometidos; e Sistema de Justiça Criminal eficiente na preservação da Ordem Pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A GUERRA DO RIO - Mundo olha o confronto

O IRAQUE É AQUI!

Mundo olha o confronto - Zero Hora, 26/11/2010

As notícias sobre a violência desde domingo no Rio chocam e reforçam aos olhos do mundo impressões deixadas por filmes brasileiros que fizeram sucesso no Exterior – e mostram a polícia brasileira e as favelas – como Cidade de Deus, Carandiru, Tropa de Elite e Tropa de Elite II. Ontem à tarde, era possível encontrar 654 matérias em inglês relacionadas à onda de mortes em confrontos entre polícia e criminosos nos morros cariocas pela ferramenta de notícias do Google.

Os sites das agências de fotos traziam flagrantes sobre o assunto, com ônibus queimados, vidros estilhaçados, pessoas correndo, o forte armamento da polícia em meio às favelas, helicópteros, vítimas de balas perdidas. Chegava a 114 o número de fotografias da Associated Press e da Agence France Presse sobre o tema.

A rede de notícias árabe Al-Jazeera foi o site internacional que deu maior destaque ao assunto – colocou uma grande foto e uma reportagem como manchete, com links para vídeos sobre o tema. Um deles, transmitido pela TV da Al-Jazeera em 3 de novembro, mostrava como funcionam as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), baseado em depoimentos de moradores.

O jornal britânico The Telegraph lembrou que a polícia do Rio era criticada por grupos de direitos humanos por usar com frequência armas letais nas favelas e “muitas das comunidades mais pobres passaram a ter medo daqueles que deviam protegê-las”.

No site do Le Monde, um comentário polêmico de um leitor foi destacado ao lado das fotos: “Não há nada de chocante, agora que o Rio foi selecionado para os Jogos Olímpicos. É necessário limpar a cidade e transferir as pessoas para outros lugares.” O espanhol El País considera que “a cidade, sede das Olimpíadas de 2016, vive um momento crucial para eliminar a violência nos bairros mais pobres”.

“O Iraque veio até a gente”. Para os moradores, a operação que expulsou os traficantes da Vila Cruzeiro tem um nome: guerra - Rodrigo Muzell

A caravana era composta por carros blindados da Marinha, por caveirões do Bope, por camburões da Polícia Civil do Rio. Mas, na quinta-feira mais violenta da história recente dos cariocas, a caravana não passou: ficou. Permaneceu na Avenida Brás de Pina, o principal acesso à Vila Cruzeiro, na região da Penha, levando e trazendo soldados para uma guerra que se iniciou de manhã e, ao anoitecer, parecia ganha: a ocupação de um dos principais redutos dos traficantes que aterrorizam os cariocas.

Para os moradores, o nome da quinta-feira foi guerra. Refugiada em um supermercado, sem poder voltar para casa, no morro, enquanto os tiros não cessassem, uma doméstica viu três blindados passarem e berrou:

– Eu nunca quis ir para o Iraque, mas o Iraque veio até a gente!

Com medo de bala perdida, as pessoas atravessavam as ruas sempre correndo. Sem clientes, os comerciantes fechavam as portas.

Duas horas depois do início da ocupação da Vila Cruzeiro, os blindados usavam a Brás de Pina para reembarcar tropas e descansar soldados. Moradores do local apoiavam como podiam, oferecendo água ou suco.

Um abrigo foi oferecido pela prefeitura do Rio para as pessoas que não conseguiriam voltar, ontem, para casa. Eram dezenas, ainda no fim da tarde, em frente ao mesmo supermercado, único comércio em um raio de seis quadras que não desistira dos clientes. Subir o morro era arriscado demais, como comprovou o servente José Pereira, 33 anos, atingido com um tiro no pé quando voltava do trabalho para casa. Segundo ele, mesmo com todo o cuidado para não ser confundido com um traficante, adiantou: estava certo de que a bala em seu pé era de um policial.

– Eles têm de subir no morro para atirar em bandido, não em trabalhador – reclamava.

Pereira é uma vítima de uma guerra que, ao contrário da lutada no Iraque, é tida por boa parte da população como justa. Mas sua expressão de desalento, ao mostrar a receita dos remédios prescritos para seu pé alvejado – caros demais para um servente -, lembrava: nenhuma guerra é justa. No máximo, necessária.

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