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segunda-feira, 28 de março de 2011

MORADORES VIRAM REFÉNS


Longe do sonho da UPP, moradores viram reféns. O DIA mostra o cotidiano de medo nas favelas da Coreia, Serrinha, Parada de Lucas e Vila Aliança, onde a pacificação está distante e a tirania dos traficantes resiste - Reportagem de Francisco Edson Alves e Leslie Leitão, O DIA, 28/03/2011

Rio - Apoiado num muro de concreto, o homem aponta o fuzil calibre 7.62 na direção da Avenida Brasil, uma das entradas da Favela de Parada de Lucas, na Zona Norte. Ele é um dos ‘soldados’ das quadrilhas que dominam quase mil favelas no estado, ditando regras, direitos e deveres a mais de 1,2 milhão de pessoas. O sonho das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), materializado a partir de dezembro de 2008 em 47 comunidades, ainda está distante para essa fatia da população. Nesses locais, a lei do mais forte ainda impera na ponta do fuzil.

Ao longo da semana passada, vídeos obtidos por O DIA mostraram a rotina dos que vivem sob o jugo de traficantes da Zona Oeste, em especial no Complexo da Coreia e comunidades vizinhas, em Senador Camará. Agora, filmagens e fotos de outras três comunidades — Vila Aliança, em Bangu; Morro da Serrinha, em Madureira; e Parada de Lucas —, entre maio do ano passado e fevereiro deste ano, revelam novos abusos contra o poder do Estado.

São regiões onde trabalhadores tentam criar seus filhos em meio a barricadas construídas com troncos de árvore e concreto nas ruas. Onde as cracolândias e suas mazelas se proliferam. E, dentro de territórios restritos, onde o comércio de maconha, cocaína e crack é feito aos gritos, em autênticas feiras-livres, sob a proteção de máquinas de guerra.

As imagens chocam ainda mais pela forma com que moradores têm que encarar o cotidiano de horror. A cena de bandidos armados sentados na porta de um bar lotado de caça-níqueis revela um pouco dessa intimidade forçada. “Nem olho. Ando sempre de cabeça baixa”, diz, resignada, uma moradora da Vila Aliança.

Os traficantes flagrados controlam comunidades dominadas ligados à facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP). Mas, para quem é obrigado a viver sob as ordens deles, não há qualquer distinção. “Eles estupram e matam os outros sem piedade”, lamenta um senhor que vive na Coreia.

Enquanto uma solução — seja ela através de uma UPP ou de outra ação do Estado — não se concretiza, os reféns do medo são obrigados a continuar se escondendo, baixando a cabeça e pedindo para jamais terem seus nomes revelados em reportagens.

Munido de fuzil, o filho do antigo chefão

As imagens do armamento ostensivo em Parada de Lucas remetem ao passado. Com um fuzil modelo G3 nas mãos, Rômulo Oliveira da Silva, o Furacão, de 18 anos, é filho do principal chefe do tráfico da história da comunidade e um dos fundadores da facção Terceiro Comando, José Roberto da Silva Filho, o Robertinho de Lucas.

Em novembro, Rômulo foi preso pela PM com uma pistola. Na semana seguinte, porém, ganhou a liberdade e nada ficou provado contra ele. Mas a foto obtida por O DIA revela o poder do homem que hoje já é considerado braço direito de Ronaldo Rocha Dias da Silva, o Tiãozinho, atual chefão do ‘território’ que já foi de seu pai.

Áreas sob a ditadura de Matemático

Criminoso impõe terror armado em favelas da Zona Oeste e no Complexo da Maré
Rio - Márcio José Sabino Pereira, o Matemático, é hoje o principal líder da facção Terceiro Comando Puro (TCP). Além de controlar as comunidades de Senador Camará e Bangu, é ele também quem tem a palavra final na Vila dos Pinheiros, Salsa e Merengue e Vila do João, na Maré. Em 2009, ele saiu da cadeia para trabalhar na funerária da família de sua advogada e nunca mais voltou.

Semana passada, O DIA mostrou imagens da ostentação de seu bando no Complexo Coreia, que à luz do dia exibe seu arsenal e impõe o terror aos moradores da comunidade.

Os vídeos da Vila Aliança revelam mais um pouco dessa audácia. Ao lado de um campo de futebol, o gerente geral do local, Rafael Alves, o Peixe, aparece sentado tranquilamente, fazendo anotações no caderno de contabilidade e contando dinheiro, sempre sob a proteção de um homem com um fuzil. Ele fala no rádio, ri e chega até a dar um longo bocejo. Ao seu lado, além de mais um fuzil encostado na parede, dois bandidos embalam cocaína em sacos plásticos.

As imagens da Vila Aliança mostram vários homens armados e também quem manda no lugar. Numa das paredes aprece a inscrição Batgol que, como Batman, é outro apelido de Matemático.

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