A coragem de denunciar a milícia do Dezoito - Sérgio Ramalho - Favela Livre, O Globo, 15.12.2010 | 2h19m
Subjugados por integrantes de uma milícia, moradores do Morro do Dezoito, em Água Santa, quebraram a lei do silêncio numa série de denúncias que permitiram à Delegacia de Repressão a Ações Criminosas organizadas (Draco) reunir provas para prender 15 milicianos, entre eles oito PMs, na Operação Todos os Santos, em setembro passado. Parecia o fim de um pesadelo para famílias que em dez anos viveram ora sob o domínio o tráfico, ora sob o controle de paramilitares a quem eram obrigadas a pagar taxas de "proteção", além de ágio na compra de botijão de gás e até de água.
Pelo menos 15 denúncias, com informações consistentes, chegaram à Draco. Mas foi a coragem de três moradores que permitiu a identificação dos PMs ligados ao grupo paramilitar. Foram eles que apontaram nos álbuns da PM os oito policiais envolvidos na cobrança das taxas de segurança. Para o delegado Claudio Ferraz, da Draco, as informações obtidas por meio dos relatos dos moradores foram fundamentais para o desenvolvimento das investigações.
A sensação de liberdade, contudo, durou pouco. Faltou o estado ocupar definitivamente o Dezoito, como ocorreu em outras favelas pacificadas. No mesmo mês, o traficante Alexandre Bandeira de Melo, o Piolho, chefiou a retomada do morro, onde voltou a ditar regras e logo impôs toque de recolher aos moradores, impedidos de chegar à comunidade depois das 22h. Piolho, o ditador da vez, está de volta ao morro graças a um benefício concedido pela Vara de Execuções Penais (VEP). Dias depois de ganhar liberdade condicional, Piolho reuniu aliados, juntou armas e expulsou do Dezoito os remanescentes do grupo paramilitar.
Piolho chefiava o tráfico no Complexo de Água Santa – composto pelos morros do Dezoito, Saçu, Caixa D’Água, Favelinha, Fazendinha, Pau Ferro, Granja, Beco, Fubá e Cabo – até ser preso no Espírito Santo, em 2002. Na época, os milicianos aproveitaram o enfraquecimento de sua quadrilha para anexar a região ao território paramilitar. A visão de patrulhas da PM circulando no morro, inicialmente, fez com que moradores acreditassem no fim da ditadura do tráfico.
Eles não esperavam que os PMs estivessem ali para marcar território, mas para garantir a segurança da população. Com o tempo, aprenderam que as patrulhas eram usadas para impor medo e, principalmente, mostrar o que estava por trás do grupo paramilitar. Chefe do bando, o PM Wellington Alves, o Nam, costumava circular fardado pelas comunidades recém-ocupadas. Tudo para intimidar a população local.
Com a milícia, as taxas se acumulavam. Os moradores foram obrigados a pagar até uma taxa especial de fim de ano. O valor seria dividido entre os milicianos, como uma espécie de 13o salário. Quem se recusasse era ameaçado, agredido e em muitos casos tinha algum eletrodoméstico levado pelos paramilitares. A pressão era tamanha, que um grupo de moradores decidiu romper o silêncio.
A prisão dos paramilitares, no entanto, não garantiu a tranquilidade total dos moradores. Atualmente, a região é cenário de uma disputa entre traficantes e milicianos, que já resultou em pelo menos oito assassinatos.
Sérgio Ramalho é repórter do GLOBO e cobriu o desmantelamento da milícia que agia no Morro do Dezoito.
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