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sábado, 11 de dezembro de 2010

PODER E RIQUEZA DO TRÁFICO



O ouro do tráfico. Um CD de fotos apreendido pela polícia no Complexo do Alemão revela como os traficantes e seus familiares usam joias gigantescas para mostrar riqueza e poder - Wilson Aquino - Revista Isto É, N° Edição: 2144 | 10.Dez.10 - 21:00 | Atualizado em 12.Dez.10 - 00:13

CALIBRE - O traficante Maluquinho e seu enorme pingente.


Bandidos sempre gostaram de ostentar poder com joias – de preferência grossas, enormes e bastante brilhantes. As peças costumam ser tão caras quanto excêntricas. Com a tomada do Complexo do Alemão pelo poder público, pôde-se ter uma ideia do fascínio que o ouro exerce neles. A Polícia Civil do Rio de Janeiro apreendeu um CD com fotos de traficantes, parentes e amigos exibindo um verdadeiro arsenal de ouro e pedras preciosas por todo o corpo. Esse CD é mais uma comprovação da riqueza escondida em mansões disfarçadas entre as residências pobres do Alemão, célula central do tráfico de drogas do Rio. As imagens mostram alguns dos 600 homens que integravam (ou ainda integram porque muitos fugiram) as facções criminosas da comunidade usando peças que nenhum cidadão carioca se sentiria seguro de exibir. Mas eles ostentavam tranquilamente a riqueza.

O professor Paulo Storani, que também é ex-capitão do Batalhão de Operações da PM do Rio (Bope), não se surpreendeu com o que viu. Segundo o homem que inspirou o personagem Capitão Nascimento de “Tropa de Elite”, o cordão de ouro virou símbolo de ostentação dos traficantes há cerca de dez anos. Antes disso, eles preferiam a prata. “Quanto mais grossa for a corda (forma como os bandidos se referem aos cordões de ouro), maior o status. De acordo com o delegado Roberto Gomes, chefe da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), muitas dessas joias são produto de assaltos a joalherias. Gomes explica que, em diversos casos, o tráfico age indiretamente no roubo, seja fornecendo armamento para as quadrilhas, seja com apoio logístico, permitindo que o bando se esconda em seus redutos após o assalto. Os traficantes também atuam como receptadores e usam o ouro como moeda para aquisição de entorpecentes e armas nas fronteiras ou para o pagamento de propinas.

Outra parte das joias é levada às bocas de fumo por viciados que furtam os bens da família para consumir drogas. Os traficantes têm ourives de confiança para derreter as peças e transformá-las em joias personalizadas. “Essa ostentação acaba seduzindo muitos jovens. Fascinados pela demonstração de poder, ingressam nas fileiras do crime”, lamenta o delegado Gomes. “A expectativa de vida deles é curta, então querem viver intensamente, transferindo o conforto de quem vive no asfalto para as favelas”, diz o professor Storani.

A pedido de ISTOÉ, o joalheiro e designar de joias Alfredo Grosso analisou as fotos e, do alto de sua experiência de mais de 40 anos no ramo, se disse “boquiaberto” com a quantidade de ouro que os criminosos carregavam no corpo. “Não se encontra isso em lojas. É coisa de rapper americano milionário”, compara o joalheiro. Grosso identificou pedras preciosas como rubis, águas-marinhas, topázios e ametistas encravadas em anéis, pulseiras e cordões de ouro maciço. “Parece que ele tem um quilo de ouro no pescoço”, espantou-se o joalheiro diante da foto do traficante que a polícia diz tratar-se de Gaguinho. O designer não tem dúvida de que os objetos são de ouro 18 quilates e estima o preço de alguns deles entre R$ 10 mil e R$ 35 mil somente de metal, fora os brilhantes e o trabalho artístico. “Só tem mastodonte”, diz o joalheiro, referindo-se ao tamanho das medalhas penduradas no pescoço dos bandidos. Ele nem se atreve a fazer uma avaliação financeira delas.

No entanto, especialistas disseram que, se as joias forem realmente verdadeiras, alguns bandidos estavam adornados com mais de R$ 300 mil em ouro, pedras preciosas e brilhantes. No álbum de fotos do tráfico, percebe-se que os bandidos não tinham a menor preocupação com a chegada da polícia. Estão rindo, bebendo e ao lado de mulheres bonitas. “Muitas moram na zona sul carioca e também se encantaram com o poder exibido pelos traficantes, seja através das armas, seja do ouro”, garante o professor Storani, mestre em antropologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

As fotos mostram também que os traficantes não tinham nenhum cuidado em preservar a família. Um menino aparentando 3 anos, identificado como filho do traficante Bacalhau, aparece com uma corrente e um medalhão de ouro com as inicias JN. Outro, praticamente da mesma idade e que seria filho do traficante Macarrão, está com o corpinho praticamente coberto de correntes e medalhões de ouro, sendo um com o desenho de uma coroa. Até um bebê, descrito na foto como filho do chefe do tráfico no Alemão, o traficante Fábio Atanásio, o FB, que conseguiu escapar milagrosamente do cerco montado pelas Forças de Segurança, é exibido cheio de cordões de ouro.

O inspetor Jorge Gerhard, que durante anos chefiou o Serviço de Inteligência da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), diz que o uso de ouro pelo corpo faz parte do folclore da bandidagem, mas somente dentro das comunidades. “Se botar o pé para fora da favela ostentando uma medalha de um palmo pendurada no pescoço vai ser preso”, diz. “É um freio de camburão.”

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