Semente de ódio - Editorial Zero Hora 11/12/2010
Mesmo se constituindo numa manifestação individual, o e-mail homofóbico que circulou entre alunos de Medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre merece atenção especial das autoridades e, mais ainda, uma profunda reflexão por parte dos estudantes. A discriminação em qualquer circunstância, seja ela motivada por questões de ordem social, racial, ou sexual, choca ainda mais quando parte de brasileiros com o privilégio de terem conseguido chegar a uma universidade. No caso específico, a uma instituição de nível superior voltada para a formação de profissionais da área médica, dos quais se espera o compromisso de lutarem em favor da vida, não importa de quem.
Incompreensivelmente, logo após a eleição de uma chapa integrada por dois homossexuais para o Centro Acadêmico, teve início uma série de insinuações por parte de colegas numa comunidade fechada da instituição na internet. Uma delas, apócrifa, chegou ao ponto de sugerir que pacientes identificados como os colegas eleitos sejam tratados “erroneamente”. Em consequência, o fato ganhou as ruas e se transformou em caso de polícia, gerando constrangimentos generalizados, com riscos de impor prejuízos até mesmo à imagem da instituição.
O episódio, inaceitável, coincide com uma sucessão de ataques registrados em São Paulo, onde pessoas são agredidas em plena rua pela simples suspeição de serem homossexuais. A sociedade não pode dar margem a esse e a qualquer tipo de intolerância contra quem quer que seja.
No episódio registrado numa instituição voltada para a formação médica tão cara para os gaúchos, é importante que as providências sejam enérgicas e definitivas. Mas é o debate gerado a partir de fatos tão execráveis que pode levar a maior conscientização, reduzindo as chances de reabertura desse tipo de chaga.
Polícia vai analisar e-mail ofensivo. Depois de abrir um inquérito civil para apurar mensagem agressiva contra homossexuais, MP pediu investigação policial - JULIANA BUBLITZ, ZERO HORA, 11/12/2010.
Integrantes do Ministério Público (MP) pedirão a abertura de investigação à Polícia Civil para descobrir a origem de e-mail com conteúdo homofóbico enviado a alunos de Medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Na tarde de ontem, a Promotoria de Defesa dos Direitos Humanos também confirmou que está em andamento, desde 26 de novembro, um inquérito civil para avaliar o caso.
Após receber um grupo de alunos, a promotora Míriam Balestro classificou o episódio como “uma violação gravíssima dos direitos humanos”. Os estudantes – entre eles Igor Rabuske Araujo, 21 anos, e Alex Vicente Spadini, 19 anos, homossexuais assumidos eleitos coordenadores-gerais do Centro Acadêmico da faculdade – pediram providências.
Apócrifos, os e-mails foram enviados pouco depois da eleição da chapa de Araujo e Spadini, no fim de novembro. Um deles, além de ofensivo, sugere que os profissionais da saúde simplesmente não atendam pacientes gays ou que os atendam de forma incorreta:
“Caros e futuros colegas, e se, somente se, a solução fosse cada um de nós, sensatos, tomarmos alguma atitude, qualquer atitude, no momento em que essa escória nos procurar para curar suas doenças venéreas, e qualquer demais praga que se alastre por seus corpos nojentos? Assim como eles, está na hora de unirmos forças e veladamente fazer o que nos couber, para dar fim, pouco a pouco nesta peste! No momento da consulta de uma bicha, ou recuse-se (pelos meios cabíveis em lei) ou trate-o erroneamente!!!”, diz o texto.
Convencida de que o autor deve ser identificado e punido, a promotora anunciou uma série de ações. Além da abertura do inquérito civil, o MP pediu apoio ao Ministério Público Federal, encaminhou ofício ao Conselho Universitário e decidiu acionar a Polícia Civil. Para Míriam, pode haver uma ligação entre as mensagens e a ação de grupos neonazistas: – É uma conduta incompatível, que precisa ser investigada e reprimida.
A Polícia Civil vai analisar o conteúdo das mensagens, informou o delegado Paulo Cesar Jardim.
Ontem, membros do Grupo Somos, que prega a defesa dos direitos dos homossexuais, lideraram um protesto diante da faculdade. Na quinta-feira, a reitoria encaminhou um ofício à Polícia Federal e abriu uma sindicância.
Autor de texto procurou a dupla ofendida
Alex Vicente Spadini e Igor Rabuske Araujo, estudantes de Medicina
Depois de se reunirem com promotores na sede do Ministério Público na Capital, os estudantes Alex Vicente Spadini, 19 anos, e Igor Rabuske Araujo, 21 anos, aceitaram conversar com Zero Hora para falar sobre os e-mails homofóbicos recebidos. Eleitos coordenadores-gerais do Centro Acadêmico da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, ambos disseram estar tranquilos em relação ao episódio e revelaram que já foram procurados pelo suposto autor de uma das mensagens para um pedido de desculpas. Confira trechos da entrevista.
Zero Hora – Um dos e-mails sugere aos futuros médicos que, diante de um homossexual, se recusem a atendê-lo ou deem tratamento errôneo. O que vocês acham dessas ameaças?
Alex Vicente Spadini – É bastante chocante. Não acredito que alguém realmente pense e aja dessa forma dentro da Medicina.
Igor Rabuske Araujo – Os e-mails já tinham sido muito mal utilizados antes, com casos de xenofobia principalmente contra os alunos que entraram pelo Enem desse ano. Mais de 70% são de fora do Estado, e eles receberam diversos tipos de e-mails ofensivos no ano inteiro.
ZH – Quem é o autor do e-mail que vocês receberam?
Igor – Alguns veículos chegaram a divulgar que a turma do segundo ano do curso de Medicina havia enviado a mensagem, quando na verdade uma pessoa utilizou o e-mail da turma. Fomos procurados por essa pessoa essa semana.
ZH – Pessoalmente?
Igor – Sim. A gente resolveu não divulgar o nome para preservar sua imagem.
ZH – Houve um pedido de desculpas?
Igor – Sim. Ele disse que foi uma brincadeira e que não foi intenção dele.
Alex – É, e disse que não estava sóbrio, que estava com a consciência alterada, com amigos numa festa, e que eles escreveram esse e-mail achando que seria em tom de brincadeira.
ZH – E o que vocês acham disso?
Alex – Eu acredito que seja verdade. O grande problema é que existem outros e-mails, em tom de brincadeira, que sugerem que as pessoas realmente promovem homofobia.
Igor – E sem dúvida esse e-mail não teria sido enviado se não houvesse um meio receptivo.
ZH – Vocês acham que mais gente pensa assim?
Alex – O preconceito que existe é velado, porque todos sabem que não pode ter preconceito dentro da Medicina.
Igor – Nunca sofremos com homofobia em anos na universidade. A gente só acha que é inaceitável que numa faculdade de Medicina, cujo maior objetivo é tratar seres humanos, exista esse tipo de pensamento.
ZH – E vocês foram eleitos com as pessoas sabendo que eram homossexuais, não?
Igor – Exatamente. Fomos eleitos com 57% dos votos.
ZH – Vocês aceitaram o pedido de desculpas?
Alex – Sim.
Igor – Eu não sei.
ZH – Como a família de vocês está lidando com isso?
Alex – A minha ainda não sabe. Não tive tempo de falar com eles sobre isso.
Igor – A gente sempre fica preocupado com exposição na mídia, até porque existe um certo perigo.
ZH – Que desfecho vocês esperam?
Igor – Nosso principal objetivo é que as universidades, e a nossa em especial, mudem a forma com que esses assuntos são abordados, porque a diversidade sexual e os direitos humanos simplesmente não são abordados no nosso currículo, e isso é essencial para um médico.
ENTENDA O CASO - Em 24 de novembro passado, a Chapa 2 foi eleita para presidir o Centro Acadêmico da UFCSPA. Dois homossexuais fazem parte da liderança da chapa. Entre a noite do dia 24 e a madrugada do dia 25, uma série de e-mails foram disparados fazendo comentários sobre a eleição, muitos deles com brincadeiras, como “Agora teremos clericot, serviço de manicure (...)”. No meio dos e-mails com brincadeiras, circulou o texto homofóbico, que saiu de uma conta pública utilizada por uma turma do segundo ano da Medicina. Ciente do caso, o Grupo Somos denunciou no início da semana o que havia ocorrido. Na quarta-feira, alunos se proclamaram contrários à atitude do colega e anunciaram que o e-mail passaria a ser restrito. Quinta-feira, a reitoria da UFCSPA encaminhou o caso à PF.
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