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terça-feira, 7 de dezembro de 2010

PAZ ARMADA. ATÉ QUANDO?

Paz armada. Até quando? - Marcelo Yuka, músico. O Globo, 06/12/2010 às 15h13m.


Fico feliz com o baixo número de vítimas da operação policial no Complexo da Penha até agora, tanto por parte da polícia e de moradores como de traficantes. Mas como pacifista, preciso ver a paz de vários ângulos. Não uma paz imediata, como a que está tendo agora logo após está "vitória" do Alemão, mas uma paz mais duradoura, sólida e contemplada com todas as garantias sociais que o Estado deveria oferecer.

Como o governador Sérgio Cabral e inúmeras autoridades admitiram, só chegamos a esse ponto, com um enorme número de armas e bandidos, porque o Estado não garantiu os direitos básicos a esses cidadãos. Decerto, era o momento de agir com pulso forte, e foi uma estratégia genial usar os tanques da Marinha, mas tenho algumas dúvidas que gostaria de compartilhar com os leitores. Essas dúvidas são paradoxais, assim como esse momento é paradoxal.

Em artigo publicado no Globo recentemente, Frei Betto afirmou que o Brasil foi o país em desenvolvimento que mais comprou armas em 2009. Citando o profeta Isaías, ele disse que "a paz jamais virá do equilíbrio de forças e sim da promoção de justiça, o que supõe desarmamento de espírito e fim dos arsenais". Até quando os arsenais garantirão uma paz armada? Até quando a justiça só virá num momento final e para determinadas zonas da cidade?

Dessa vez foi a genial ideia dos tanques da Marinha. Mas e da próxima vez? E na Rocinha, será necessário uma força maior ainda? Nessa competição bélica, o Estado gastará cada vez mais e, em cada enfrentamento, poupar a vida dos moradores será como fazer uma cirurgia usando luvas de box.

Essa batalha inaugurou um novo tipo de herói que é preciso ser mencionado: os que operavam as câmeras, tanto por parte da polícia - que com seus zooms conseguiam passar a posição exata dos bandidos - como a dos jornalistas, que, como estiveram bem próximos da situação, talvez tenham coibido um maior derramamento de sangue. Todos nós naquele momento víamos e revíamos as posições de todos: a do morador, exibindo seus panos brancos; as do bandido e da polícia; e a nossa posição de espectador - pelo menos para mim, nada confortável - sentado num sofá vendo a paz chegar por uma guerra ao vivo.

Justamente por isso, nessa operação parece que houve poucas mortes. Com as paredes sem emboço, finas, os cômodos tão pequenos e a morte tão próxima da pele, o morador do Complexo do Alemão foi defendido por uma técnica policial que respeitou mais a vida ou foi pura sorte? Se foi uma atitude estratégica da polícia, que se preocupou em poupar vidas, vai aqui meu aplauso quase de pé para uma atitude nunca antes tomada.

Quanto à questão da rendição: no caso de um "traficante" sem ficha criminal, quando a polícia pede a ele que se entregue com a arma na cabeça, está pedindo que ele faça algo que vai contra a Constituição, que lhe dá o direito de não produzir provas contra si mesmo. E numa hipótese muito remota, de todos os traficantes se renderem, será que haveria lugar em prisões de segurança máxima para todos eles?

Desde pequeno ouço falar em armas exclusivas de uso do Exército e armas exclusivas da Polícia Militar nas mãos de bandidos, como, por exemplo, as usadas contra mim. Como essa quantidade de armas foi parar nessas comunidades? O Estado enfrenta um poder bélico que vem dele mesmo, e a sociedade enfrenta o lucro das drogas que ela mesma consome em função da proibição. Vamos torcer para que daqui para frente o Estado e a sociedade não precisem lutar contra as mazelas que eles próprios construíram.

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