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domingo, 16 de fevereiro de 2014

RADICAIS ALICIARIAM CRIMINOSOS

ZERO HORA 16 de fevereiro de 2014 | N° 17706


CARLOS ROLLSING, CARLOS WAGNER E HUMBERTO TREZZI



MANIFESTAÇÕES NA CAPITAL

Investigações da Polícia Civil apontam para suposta aliança informal entre manifestantes e delinquentes nos protestos do ano passado



A denúncia de aliciamento de jovens para participação em atos de protestos não é exclusividade do Rio. Radicais que lideraram as manifestações em junho de 2013 nas ruas de Porto Alegre teriam recrutado delinquentes em bairros da periferia da Capital para engrossar os protestos e gerar tumulto. A informação consta de investigações realizadas pela Polícia Civil e que começam a ser enviadas à Justiça.

Depoimentos de testemunhas, de policiais, de guardas municipais e de pessoas detidas no ano passado indicam que moradores de pelo menos três zonas periféricas teriam sido arregimentados, com a promessa de obter caminho livre para saquear lojas e veículos na área central.

As investigações estão em 86 inquéritos realizados por quatro delegacias – parte deles sob apreciação do Judiciário, distribuídos em diferentes varas criminais. Cada uma dessas averiguações aborda um fato: são depredações, saques e até agressões, nas quais há várias pessoas indiciadas.

O cruzamento das informações aponta um modo de operação em manifestações e os objetivos dos recrutamentos. Diferentemente do que ocorre no Rio, onde há a suspeita de pagamentos para promover quebra-quebra (o advogado de Caio Silva de Souza, detido pela morte do cinegrafista Santiago Andrade, afirmou que seu cliente recebia R$ 150 por manifestação), em Porto Alegre o “lucro” dos depredadores se daria de outra forma: a preferência nos saques no comércio e em veículos.

Conforme documentado nos inquéritos, o suposto aliciamento começou com a atuação de líderes de grupos radicais, que teriam contatado patrões do tráfico dos bairros Bom Jesus, Cruzeiro e Vila Conceição. A proposta seria de que jovens dessas regiões fossem enviados aos protestos, com a promessa de ter liberdade para saquear e furtar.

Com a aliança estabelecida, os chefes das comunidades enviavam jovens sem ideologia ou reivindicação às manifestações, onde encontrariam líderes de grupos radicais e mascarados. Na reta final das passeatas, quando as depredações começavam, pessoas com o rosto coberto iam à frente, arrombavam comércios e, logo depois, ordenariam a ação dos saqueadores. Com os jovens furtando produtos – como celulares e outros eletrônicos –, os mascarados, em geral ligados a ideologias extremistas, se retiravam. Nestes momentos, a Brigada Militar se concentrava em abafar os saques, enquanto os radicais se deslocavam para fazer depredações e pichações como protesto político em outras áreas com mais liberdade, longe da vigilância policial.

Um PM cedido como agente da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em Porto Alegre detectou, em junho, o suposto recrutamento de delinquentes para as ações políticas. Ele falou com jovens do bairro Bom Jesus que disseram terem sido convidados por um “patrão” do tráfico a comparecer no centro de Porto Alegre, para saquear lojas, durante os protestos. A orientação seria seguir os militantes políticos e furtar nos locais já depredados. O informe foi repassado à Polícia Civil.

PMs do serviço reservado (P2) foram ouvidos nos inquéritos e confirmaram ter identificado suposto elo entre radicais e delinquentes. Eles apontaram militantes misturados aos saqueadores.

Dois depoimentos de manifestantes presos em flagrante dão mais detalhes. Um dos supostos aliciados era da Vila Maria da Conceição e disse ter sido convidado a participar dos protestos por outros dois criminosos. Descreveu que “um mascarado de preto dava gritos de ordem para indicar os locais que seriam atacados”. Por fotos, ele reconheceu pelo menos cinco líderes vinculados a grupos políticos extremistas. Outro indivíduo detido à época é um traficante do Morro Santa Tereza. Ele afirmou que a tática “era atrair a Brigada com os saques para facilitar o quebra-quebra político”. Ainda não há indiciamentos nos dois casos.

– Tenho certeza de que essas investigações vão dar resultado e comprovar vínculos que até agora eram só suspeita – diz o procurador Gilberto Thums, que atua na 6ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça e teve acesso a depoimentos tocados por quatro delegacias e que já estão na Justiça.

Um dos responsáveis por investigações de episódios de depredação e saques nas manifestações, o delegado Marco Antônio Duarte de Souza foi procurado por ZH, mas não quis dar detalhes.

– A Polícia Civil evita falar em vinculações políticas. O que interessa é o fato criminoso e o autor, mas ninguém terá imunidade – declarou.


Tática para atrair a atenção da polícia

A morte do jornalista Santiago Andrade, no Rio, trouxe à tona uma tática que já teria sido usada por líderes das comunidades da periferia de Porto Alegre: o susposto aliciamento de jovens por grupos radicais participantes das manifestações de junho. O acerto seria com um chefe do grupo. Aos recrutados, estaria sendo oferecido o que chamavam de “benefícios” – um “kit” com máscaras e mochilas, além de bebida.

No auge dos protestos de junho passado, distribuídos em pequenos grupos, os jovens da periferia chegavam ao local do início das manifestações, nas imediações da prefeitura de Porto Alegre. Ficavam nas esquinas. Os supostos recrutadores distribuíam sacolas com vinho e faziam uma espécie de preleção sobre o que iria acontecer. Assim que a caminhada começava, os recrutados se posicionavam logo atrás de uma linha de manifestantes que levavam mochilas nas costas, contendo pedras, máscaras, vinagre e rojões.

Já no final da caminhada, os recrutados pegavam as mochilas, colocavam as máscaras, se dividiam em pequenos grupos posicionados nas laterais da marcha e os ataques começavam.

Em uma das noites, os manifestantes travavam um confronto com PMs na esquina das avenidas Azenha e Ipiranga. De uma hora para outra, os manifestantes recuaram em direção ao Centro e, no caminho, atacaram o Shopping João Pessoa. Um chuva de pedras e paus foi lançada contra os vidros. Parte da tropa da BM foi até o shopping. Aproveitando-se do enfraquecimento da polícia, que bloqueava a esquina da Azenha, manifestantes correram e espalharam-se pela Ipiranga.

Saques pelas ruas

Os jovens que estavam atacando o shopping não conseguiram entrar nas lojas. Mas um outro grupo de saqueadores teve acesso a uma loja de motos na Ipiranga. Uma hora depois, parte dos manifestantes voltava para o centro da cidade pela João Pessoa. No caminho, atacaram a agência do Banrisul. Foram seguidos por jovens que tentaram arrombar os caixas eletrônicos.

Logo depois do ataque ao banco, aconteceu um confronto entre os manifestantes e as tropas da BM na João Pessoa. Enquanto isso, vários grupos de jovens espalhavam-se pelas ruas da Cidade Baixa. Ali, atacaram veículos estacionados, quebraram os vidros e furtaram tudo que encontravam dentro. Dias depois desse ataque, um grupo de moradores da Rua João Alfredo se reuniu e decidiu reagir aos saques. Houve confronto com grupos de saqueadores. Na ocasião, um dos comerciantes conversou com Zero Hora e disse que era uma “gurizada mascarada que só queria tirar proveito do saques”. Ao primeiro enfrentamento, eles correram, afirmou o comerciante.


Inquéritos evitam dar o tom político


Por orientação governamental, nos 86 inquéritos abertos até agora pela Polícia Civil, a ligação política de indivíduos violentos que despontaram nas manifestações em Porto Alegre não é priorizada e, muitas vezes, sequer mencionada. O foco é apenas no dano causado pelos depredadores, não na sua motivação.

No auge das manifestações radicais, na segunda quinzena de junho, até o governador Tarso Genro, que costuma elogiar militâncias políticas, perdeu a paciência. Ao comentar as depredações, desabafou:

– Alguns anarquistas têm influência e controle direto dos atos de vandalismo. Isso já foi identificado pela polícia. São jovens desorientados que caem na marginalidade, entendem que a violência é solução para tudo. Odeiam tudo aquilo que não são eles mesmos. São os introdutores do vírus da violência num movimento que tem enorme respeito social pela pauta generosa que tem apresentado.

No mesmo dia, o governador amenizou o discurso e mirou no outro extremo do espectro político, nos desafetos dos anarquistas: culpou neonazistas pelas depredações. Mas a ideia de que os saques eram manipulados persistiu.

Em 1º de outubro, no dia em que a Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão em residências de integrantes do Bloco de Luta pelo Transporte Público, o secretário da Segurança Pública, Airton Michels, tentou explicar por que a ação atingira militantes de partidos de extrema esquerda:

– A partir da segunda depredação do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), ocorrida em 27 de julho, foi possível identificar grupos infiltrados. Ficou claro que há pessoas organizadas com o objetivo de praticar crimes, como depredações e saques, aproveitando-se da atividade legítima dos demais se manifestarem. Manifestação é uma coisa, saque é outra.

Em busca de provas

Michels não nominou os “infiltrados”. Dois dias depois, o governador recebeu no Piratini lideranças do PSTU e do PSOL, que tiveram militantes investigados. Tarso explicou que o objetivo do governo era apenas verificar se os dois militantes citados no inquérito foram incluídos pela sua postura política ou por algum delito.

– Se foram mencionados devido a sua militância, o inquérito está completamente equivocado. Se não foi isso, se eles realmente cometeram algum delito e há prova, eles devem responder como qualquer cidadão comum. Nós repudiamos qualquer ação policial que tenha finalidade política, e também qualquer acusação sobre o nosso governo em relação a isso – sustentou o governador à época.

Escalada da Violência



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