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sábado, 15 de fevereiro de 2014

UMA ATIVISTA NO OLHO DO FURACÃO

ZERO HORA 15 de fevereiro de 2014 | N° 17705

CARLOS ETCHICHURY | RIO DE JANEIRO


A REBELDE DO RIO

Quem é a porto-alegrense Elisa Sanzi, a Sininho, que ficou sob os holofotes após a morte do cinegrafista Santiago Andrade



Amorte do cinegrafista Santiago Andrade, atingido por um rojão durante protesto no Rio de Janeiro, colocou sob os holofotes uma personagem invulgar, a ativista Elisa Quadros Pinto Sanzi, conhecida como Sininho. Aos 28 anos, de uma família de militantes, ela virou um dos rostos polêmicos da onda de protestos que tomou o Rio.

A jovem porto-alegrense, que deixou o Estado com a mãe, aos 11 anos, tem uma história de classe média: frequentou boas escolas, fez política estudantil e mora em Copacabana. Ela é filha de Antônio Sanzi, dirigente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre no início dos anos 80, e da psicóloga e professora Rosoleta Moreira Pinto Stadtlander. Na adolescência, ela morou com a mãe e com o padrasto, geólogo da Petrobras, em Macaé, um dos maiores PIB per capita do Rio em função da exploração de petróleo.

Foi em Macaé, como aluna do tradicional Instituto Nossa Senhora da Glória (INSG)/Castelo, que Sininho militou pela primeira vez. Como não havia grêmio estudantil na instituição, coube a ela, nos anos 90, organizar alunos para atuar em manifestações com outras entidades estudantis.

– Vim de uma família de petistas – diz, para justificar o engajamento.

Aos 16 anos, quando passou um ano com o pai em Porto Alegre, Sininho tornou-se presidente do grêmio estudantil do Colégio Dom Bosco. A dedicação teve um custo: foi reprovada no primeiro ano do Ensino Médio.

– Sempre estive ao lado dos movimentos sociais e dos professores. Como sou intensa, acabei descuidando dos estudos – confidencia a amigos.

De volta a Macaé, cursou supletivo para concluir o Ensino Médio. Em 2006, ingressou no curso de Cinema da Universidade Estácio de Sá. Afastou-se do centro acadêmico e mergulhou nos estudos no apartamento locado pela família no Rio Comprido.

– Na faculdade, ela era uma menina espevitada, posicionada politicamente, muito doce e querida. Não lembro da Elisa como militante – recorda a amiga Raquel Corrêa, 27 anos.

Após a formatura, Sininho trabalhou com pelo menos quatro produtoras de filmes e de comerciais. E passou a viver um dilema:

– Eu não me sentia feliz fazendo propaganda para o capitalismo.

O sócio de uma produtora diz que, após dois meses ela pediu demissão:

– Estava visivelmente incomodada.

Em 2012, a família adquiriu um apartamento em Copacabana, e Sininho mudou para a Zona Sul. Esse período coincidiu com uma transformação em sua atitude. Ela se aproximou de ativistas da Frente Independente Popular e da Organização Anarquista Terra e Liberdade – grupos de orientação anarquista, ultrarradicais, que defendem o emprego de métodos violentos de luta. Tornou-se voz ativa em assembleias populares. Com a explosão dos protestos, em junho, assumiu a liderança não oficial em manifestações. De rosto limpo, mas sempre próxima de radicais mascarados, vociferava contra a imprensa e os policiais.

– Ela se destacava porque era articulada, mas só ganhou importância no Ocupa Câmara – diz uma advogada ativista dos direitos humanos.

O Ocupa Câmara foi uma invasão à Câmara de Vereadores do Rio, em agosto. Durante o período, Sininho postou vídeos em redes sociais denunciando ameaças que ela e o namorado vinham sofrendo.

– Ela tem uma condição social boa, que permite ficar sem emprego fixo. Com tempo livre, acabou aparecendo mais – complementa a advogada.

Jovem foi presa após passeata

O apelido Sininho surgiu durante a ocupação. Como todos os invasores tinham apelidos, coube a Elisa, cabelos curtos e aparência frágil, a alcunha de Sininho – nome da travessa, irritadiça e solidária fadinha amiga de Peter Pan, na Terra do Nunca. Elisa gostou.

– É bonito o carinho que tiveram comigo – diz aos amigos.

Mas repete:

– Só não vivo na Terra do Nunca.

Sininho diz lutar por um “país livre”, garante que não é anarquista e assegura que vai a protestos “de cara limpa” e de “forma pacífica”. Embora não agrida ninguém, está sempre com mascarados que praticam táticas black bloc. Se o reconhecimento entre os militantes estava garantido, faltava visibilidade. Ela veio com uma confusão entre PMs e mascarados, apoiados por Sininho, após uma passeata de professores, em outubro. Ao todo, 64 adultos – Sininho entre eles – foram presos, e 20 adolescentes, apreendidos.

Nos quatro dias que esteve no complexo prisional de Bangu, a jovem, primeiro, dividiu cela com oito criminosas. Depois, permaneceu com outras duas militantes, que ela define como “presas políticas”. Apesar dos direitos democráticos assegurados e do funcionamento pleno da Justiça, ela chama os detidos, envolvidos em atos de vandalismo, de presos políticos.



Revolucionária sem objetivos claros


Depois de sair da prisão, Sininho viajou a Porto Alegre e participou de assembleia do Bloco de Luta pelo Transporte Público.

– A luta de Porto Alegre nos inspira. É uma cidade muito politizada. Até escolas particulares têm grêmio estudantil – costuma repetir.

A partir dali, passou a brilhar em assembleias populares (eventos públicos que reúnem ativistas).

– Quando você vê as classes se mobilizarem, já é uma vitória. Não vamos fazer uma revolução em seis meses, mas colocamos uma plantinha e, aos poucos, com luta...

Mas revolução para implantar o que no Brasil? Socialismo? Anarquismo? Sininho tem dificuldades em expressar o que defende. Não há em todo o planeta um só país que sirva de inspiração para ela.

– É complicado falar nisso. Não sei definir bem. Só escrevendo.

Entre advogados voluntários, integrantes do movimento Habeas Corpus, a credibilidade de Sininho foi arranhada recentemente. Em janeiro, os profissionais, que se dispõem a defender manifestantes detidos pela polícia em protestos, foram mobilizados pela ativista detida por chamar um policial de “macaco”. O PM havia prendido um jovem, supostamente manifestante, que estava fumando maconha.

A mais nova enrascada na qual Sininho está metida é a suspeita de arrecadar dinheiro para financiar protestos violentos. Uma tabela, distribuída por Sininho via Facebook, revela o nome de doadores e o valor pago por eles. Pelo Facebook, Sininho, confirmou as contribuições, mas disse que o dinheiro não foi usado nos protestos. Teriam sido empregados num evento social (veja na página seguinte).

Para a psicóloga Rosoleta, mãe de Sininho, a filha está fazendo “história”, e abusos são cometidos “pela polícia”.

– Sempre houve na história estudantes lutando por melhores condições de saúde, de educação. Minha filha participa, como outros jovens, de movimentos legítimos. Só posso dizer que, às vezes, a polícia vem para cima e muitas pessoas de bem apanham. Ela não pertence a partidos políticos. Ela não quer. Ela é uma pessoa de paz. Está sentindo imensamente essa morte do cinegrafista.


OS ROLOS DE SININHO

- O nome de Elisa Sanzi, a Sininho, ganhou os noticiários de forma polêmica, no fim de semana passada. Depois do ataque ao cinegrafista Santiago Andrade, ela falou por telefone com o advogado Jonas Tadeu, que representava o tatuador Fábio Raposo, preso pelo crime.

- O advogado foi à polícia e contou que, segundo Sininho, Caio Silva de Souza (suspeito de acender o rojão) era ligado ao deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ). Freixo e Sininho desmentiram. O advogado pediu desculpas.

- Quando Caio Silva de Souza foi preso, a situação da ativista voltou a se complicar. Ele contou que era remunerado para tumultuar protestos e colocou a ativista entre os que atuariam no esquema de financiamento de arruaceiros.

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