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quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

GREVE DOS RODOVIÁRIOS

ZERO HORA 06 de fevereiro de 2014 | N° 17696


HUMBERTO TREZZI*


Sinais de desgaste

Onze dias depois de ser decretada, com adesão em massa dos rodoviários, a paralisação no transporte público de Porto Alegre já deixou de ser unanimidade entre os grevistas. O consenso cede lugar a discussões entre grupos radicais e moderados, e motoristas tentam passar por piquetes nas portas das empresas de ônibus.



Desgastados ante a população pelo longo período em que a cidade está sem transporte e pressionados pelos patrões com desconto de salário pelos dias parados, os rodoviários já dão mostras de que a greve – que chega hoje ao 11º dia – não é mais um consenso na categoria.

Os piquetes se multiplicaram em frente às empresas de ônibus, impedindo a saída dos veículos, algo não visto nos primeiros dias de paralisação, quando a adesão ao movimento era de 100%. Pesou nisso o anúncio dos empresários de que o dissídio irá para a Justiça, sem o reajuste exigido pelos funcionários e ainda com descontos salariais e suspensão do plano de saúde. Para culminar, um grupo de grevistas trocou socos dentro do shopping Praia de Belas.

O dia já começou confuso. Pela primeira vez desde que a categoria decretou greve geral, um grande contingente de motoristas e cobradores se apresentou ontem para trabalhar, em algumas empresas. Foi o caso da Auto Viação Presidente Vargas, do consórcio Unibus, onde ônibus tentaram sair pela manhã, mas foram impedidos por piquetes de grevistas. Cena semelhante aconteceu nas garagens da Viação Teresópolis Cavalhada (VTC) e da Belém, do consórcio STS, na zona sul da Capital. Pelo menos oito veículos saíram, mas retornaram por volta das 6h15min, após o apedrejamentos de alguns coletivos. Na empresa Sopal, do consórcio Conorte, na Zona Norte, os grevistas foram mais diretos e alertaram que os ônibus seriam danificados, se saíssem. Os veículos permaneceram estacionados.

Na madrugada era grande o número de rodoviários nos piquetes. Já ao meio-dia, o cenário mudou. Das sete pessoas que estavam em frente ao portão da VTC fazendo vigília, apenas uma trabalhava para a empresa. Os outros eram estudantes ou rodoviários de outras empresas. Temerosos, os motoristas da VTC desistiram de furar a greve.

– Poderíamos largar cerca de 30 ônibus com tripulação completa, mas estamos sendo impedidos de exercer nossa atividade por gente sem qualquer ligação com a profissão – afirma o presidente da empresa, Eloy Reis.

Sindicalista diz que foi agredido por grupo rival

De acordo com um dos líderes do Movimento Independente Rodoviário (MIR), Alceu Weber, os patrões é que influenciaram os rodoviários mais jovens a sufocar a greve, até mesmo com ameaças:

– O que há é gente sendo coagida no lado de dentro, ameaçando o rodoviário e o movimento sindical.

Weber admite que conta com apoio de não-rodoviários, como sindicalistas de outras áreas e partidos políticos:

– Afinal, uma greve não é feita sem suporte.

A verdade é que a greve deixou de ser a unanimidade dos primeiros dias. O próprio presidente do Sindicato dos Rodoviários, Julio “Bala” Gamaliel, diz ver com desgosto a radicalização do movimento, “inflada por políticos que nem são da categoria”. Ele passou a manhã percorrendo as garagens das empresas. Assegura que não trabalha contra a greve, mas tenta “conscientizar os companheiros para os avanços obtidos e os riscos por vir”. Entre os problemas que ele cita estão o desconto de salário dos grevistas, já autorizado pela Justiça do Trabalho, e o fim da validade do plano de saúde. Gamaliel diz que cinco colegas vieram pedir ajuda médica e ele teve de alertá-los que o convênio não foi renovado em decorrência da paralisação.

– Temos uma oferta salarial que se aproxima da do último dissídio, de 7,5%. Agora os patrões ameaçam encaminhar o dissídio para a Justiça, com 5,5% de reajuste. Vamos dizer não a tudo, até quando? – pondera Gamaliel, que é ligado à central Força Sindical.

Adversário de Gamaliel, o sindicalista Luís Afonso Martins, servidor da Carris e ligado à corrente CUT Pode Mais (uma dissidência à esquerda da Central Única dos Trabalhadores) diz que não se surpreende com a atitude do presidente do Sindicato dos Rodoviários, “que desde o início está contra a greve”. E desdenha do possível racha no movimento:

– A paralisação continua. Sei que as empresas têm forçado motoristas a furar a greve, especialmente os que estão em regime de 90 dias de experiência. Mas a maioria da categoria não vai voltar a trabalhar.

Afonso se envolveu numa briga na tarde de ontem com outro grupo de sindicalistas, outrora seus aliados e que, como ele, são desafetos de Gamaliel. Afonso foi cobrado por grevistas ligados à CUT por declarações que deu à Rádio Gaúcha. Ele disse que a comissão de negociação errou ao exigir apenas salário e não focar na exigência de seis horas diárias de trabalho (hoje são 7,1 horas). Afonso não é da comissão de negociação, mas é do comando grevista. É autor da proposta de união de grevistas para sitiar Porto Alegre.

– Fui agredido pelos companheiros que não suportam crítica. Mas a greve continua – sustenta Afonso.

Outros grevistas que brigaram foram procurados por ZH, mas não deram retorno.

Além da reduçao da jornada, os rodoviários querem 14% de aumento, manutenção do plano de saúde, sem desconto no salário. A única proposta aceita foi do vale-alimentação a R$ 19 (era de R$ 16). Os demais itens da proposta patronal, com reajuste salarial de 7,5% e coparticipação financeira dos empregados a R$ 10 no plano de saúde, foram rejeitados.


*Colaborou Roberto Azambuja

















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